ABDAN PEDE FOCO NA ESCOLHA DE SÍTIOS PARA USINAS NUCLEARES E FLEXIBILIZAÇÃO NA MEDICINA NUCLEAR EM 2021
O Projeto Perspectivas 2021 abre espaço nesta terça-feira (29) para que o setor nuclear apresente um balanço de como superou as dificuldades de 2020 e faça suas projeções para o ano novo que se aproxima. Hoje, conversaremos com o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha, que apontou quais devem ser as prioridades da indústria nuclear e do governo em 2021. Cunha defende que o Brasil faça o mapeamento de sítios que possam receber futuras novas usinas nucleares. “Isso é fundamental. É um projeto que eu recomendo que seja fortemente atacado nesse ano”, afirmou. O presidente da Abdan também apontou quais os desafios para o segmento da medicina nuclear, como a flexibilização do monopólio de produção e comercialização de radiofármacos. Por fim, Cunha citou ainda outras frentes de ação que precisam caminhar no novo ano – a retomada das obras de Angra 3, o fortalecimento da cadeia produtiva e a criação da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear. Vejamos agora quais são as opiniões de Celso Cunha:
Como o senhor e a Abdan enfrentaram os desafios de 2020, com a pandemia apanhando a economia brasileira em pleno voo de subida?
Este foi um ano muito difícil em função da pandemia, dificultando a circulação dos produtos, paralisando serviços e prejudicando o deslocamento de profissionais para dentro e fora do país.
Mas a criatividade do brasileiro é muito grande. Aproveitamos esse período não só para planejar e executar, mas para fazer as coisas de forma diferente. Os eventos que fazíamos presencialmente, alguns inclusive no formato de almoço, passaram a ser relizados de modo virtual.
Usamos o ambiente virtual não apenas de uma forma tradicional, mas passamos usar novas plataformas, possibilitando a criação de estandes virtuais para empresas, por exemplo. Além disso, começamos a fazer programas produzidos e transmitidos a partir de estúdios. Ou seja, passamos a fazer uma comunicação e um debate de uma forma bem diferente.
Quais são as perspectivas do senhor e da associação para 2021?
Em relação a 2021, creio que sofreremos um pouco ainda. Não acredito que a pandemia ficará em níveis aceitáveis mínimos no início do ano. A situação não deve melhorar até o meio do ano ou terceiro trimestre de 2021. Infelizmente, ainda vamos apanhar muito com essa pandemia, na minha opinião.
Apesar disso, o setor nuclear está avançando em algumas questões, como a liberação de recursos para as obras de Angra 3. A primeira parte dos recursos já está sendo repassada, ainda em 2020, para a aquisição de outros equipamentos. A segunda parcela que a Eletrobrás repassará em 2021 para a Eletronuclear, de R$ 2,45 bilhões, será usada para acelerar o cronograma da obra e garantir a entrega do projeto em 2026.
No início do ano, teremos a conclusão da Unidade de Armazenamento Complementar a Seco para combustíveis irradiados, o que vai permitir a transferência do combustível radioativo empobrecido das usinas de Angra 1 e 2.
Em resumo, teremos um ano que não será muito simples. Não será como 2020, quando fomos pegos “desprevenidos”, já que agora conhecemos um pouco sobre a Covid-19 – que está causando um estrago muito grande na população do Brasil e do mundo.
Se o senhor fosse consultado, quais as recomendações e sugestões que faria para o governo neste novo ano que está prestes a iniciar?
Alguns temas para 2021 são fundamentais e envolvem muito “projeto papel”. Vou dar um exemplo citado pelo ministro Bento Albuquerque: a escolha do site para as novas usinas. Isso é fundamental que seja feito. É um projeto que eu recomendo que seja fortemente atacado nesse ano, assim como toda a questão de modelagem da matriz energética brasileira.
É fundamental também avançar com projetos que fortaleçam a cadeia produtiva. Devemos incluir a micro e pequena empresa nessa cadeia, gerando emprego, circulando de mercadorias e produtos e qualificação da indústria. Eu recomendo um investimento forte nisso.
No campo da medicina nuclear, precisamos resolver a questão da flexibilização do monopólio. A pandemia está impactando diretamente o setor, que tem sofrido com dificuldades de circular produtos. O Congresso precisa votar essa flexibilização, que consta na PEC 100/2007 – já aprovada no Senado. Isso é fundamental, porque impacta na saúde da população.
Outra questão fundamental é que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) entre em campo e reveja sua RDC 64 [que dispõe sobre o registro de radiofármacos]. Ela foi debatida publicamente com a sociedade e no meio do caminho foi desfigurada. Temos um ambiente no setor da medicina nuclear com enormes problemas de modelagem do ambiente de negócio. E aí deixo a pergunta: se não fizermos o dever de casa, quem vai investir nesse setor?
Não podemos esquecer ainda que devemos acabar com esse acúmulo de funções de regulação e fiscalização na Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e criar a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN). Esse assunto vem desde 2009 e não podemos mais empurrar isso para frente. Temos que desatar esse nó. E óbvio, devemos acelerar os projetos de Angra 3 e do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Esses esforços precisam ser resolvidos em 2021. Isso não pode passar desse ano.
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