ABDAN PREVÊ QUE RETOMADA DAS OBRAS DE ANGRA 3 EM OUTUBRO AUMENTARÁ A DEMANDA POR CONSTRUÇÃO CIVIL E SERVIÇOS
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O anúncio da retomada das obras de Angra 3, prevista para outubro desse ano, movimentou não só o setor nuclear, mas também a cadeia de prestadores de serviços. O reinício da construção da planta irá movimentar não apenas a economia local, mas trará efeitos também para a economia estadual e também nacional. O presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan), Celso Cunha, considera que o anúncio da retomada de Angra 3 é um “renascer da indústria nuclear brasileira”. Ele afirmou que o mercado ficou muito satisfeito com a notícia e espera também por efeitos positivos em diversos setores da economia. “Sobre os setores que vão ser impactados, temos desde construtoras até fornecedores de alimentação e vestuário. Boa parte dos equipamentos propriamente ditos já estão comprados, não podemos esquecer disso. Mas ainda teremos muita coisa em relação a construção civil e montagem de equipamento”, disse. Olhando para o futuro, Cunha pede agora que o governo federal concentre esforços também em mapear possíveis novos sítios que possam receber as futuras usinas nucleares do Brasil.
Como o mercado nuclear brasileiro recebeu a notícia da retomada das obras de Angra 3, dentro do escopo do plano de aceleração do empreendimento?
Foi para isso que todos trabalhamos durante todo esses últimos anos. É um renascer. É um grande marco simbólico da indústria nuclear brasileira. O Plano de Aceleração do Caminho Crítico da usina está partindo. As contratações começarão agora em março. Esse movimento é muito importante isso. O governo continua reafirmando o prazo de término da obra para 2026, com entrada em operação em 2027. Está valendo muito a pena ver chegar perto o reinício das obras.
O mercado está hiper satisfeito. Está feliz em ver que as coisas estão avançando. Não na velocidade que gostaríamos, mas na velocidade que é possível. A retomada é uma notícia muito importante. Isso é um mérito do Ministério de Minas e Energia, da Eletronuclear e da Eletrobrás, que souberam elaborar um processo de cooperativismo, uma vez que todos cooperaram para que isso acontecesse.
E qual o impacto positivo que o senhor vê na economia e na cadeia de fornecedores?
Existe um estudo da FGV de alguns anos atrás que mostra um fator de multiplicidade local, estadual e federal de participação. O importante é que no pico dessa obra teremos até 7 mil empregos diretos. Ou seja, acontecerá um movimento muito grande naquela região. Esse processo de retomada como um todo será vital para a economia da Costa Verde.
Sobre os setores que vão ser impactados, temos desde construtoras até fornecedores de alimentação e vestuário. Boa parte dos equipamentos propriamente ditos já estão comprados, não podemos esquecer disso. Mas ainda teremos muita coisa em relação a construção civil e montagens de equipamentos. Essa cadeia de serviços será muito impactada inicialmente.
Poderia destacar outros efeitos positivos relacionados à retomada da obra?
Essa obra começa a acontecer na prática no segundo semestre [no mês de outubro]. Quando a Eletronuclear fechar a abóbada da casa de força principal irá reduzir o custo de manutenção daquela estrutura como um todo. É importante lembrar que a Eletronuclear tem um custo para conseguir manter aquele canteiro bem conversado. Então, é crucial para a empresa reduzir esse gasto também. Estamos começando um ciclo próspero nos próximos anos até 2026.
A retomada de Angra 3 também é um importante aquecimento nos planos do Brasil de construir até 10 GW de novas usinas até 2050?
Seria um paradoxo falar em novas usinas sem conseguir retomar as obras de Angra 3. É importantíssimo que aconteça essa retomada da construção, pois é um marco para o setor. Enquanto isso, o processo de discussão das novas usinas vai acontecendo. Para falar de futuro, é preciso fazer com que o presente aconteça. A usina de Angra 3 na área de geração nuclear é um marco nessa retomada.
A Eletronuclear afirmou na última semana que, apesar de ter decidido pela contratação de uma empresa epecista para concluir a usina, há espaço também para a entrada de um sócio no empreendimento. Como avalia essa possibilidade?
O BNDES vem trabalhando fortemente na modelagem da obra global. A empresa EPC precisará de recursos financeiros que serão atraídos para conclusão da obra. Esses recursos virão nessa modelagem. É fundamental que se avance nesse processo de participação da iniciativa privada no restante da obra. Essa modelagem ainda está sendo trabalhada. E qualquer empresa, caso não seja do sistema financeiro, vai querer participar mais ativamente da operação e manutenção da usina, com participação minoritária.
Quais são os próximos desafios do setor nuclear, após a aprovação da MP 998?
A MP 998 está aguardando a sanção presidencial. Não acredito que teremos problemas quanto a isso, é apenas uma questão burocrática. Até porque já passou pelo Senado e pela Câmara dos Deputados.
Em relação ao futuro, o próprio ministro Bento Albuquerque anunciou durante um evento da ABDAN [em novembro do ano passado] que iria iniciar a contratação dos estudos para definir os sítios das novas usinas. Esse é o passo fundamental de agora. O Brasil precisa dizer onde ficarão as próximas usinas. Precisamos fazer essa definição nos próximos sítios. Esse é o primeiro passo mais urgente. Precisamos avançar com a modelagem do negócio também. Para a iniciativa privada participar dos próximos projetos, ela precisa ter participação majoritária. Ela não pode ter participação minoritária e o governo ser o controlador. Isso aí vai ter que ser resolvido.
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