ABDAN PROPÕE CONSTRUÇÃO DE OITO USINAS NUCLEARES NO BRASIL ATÉ 2050
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O governo federal tem trabalhado nos bastidores para desenvolver propostas de modernização do setor elétrico. Recentemente, o Ministério de Minas e Energia passou a receber contribuições de agentes do mercado de energia, com o objetivo de melhorar a situação atual dos critérios de garantia de suprimento no país. A Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) é uma das entidades que vai colaborar com suas propostas, conforme revela o presidente da entidade, Celso Cunha. Um dos pontos principais é que o sistema elétrico nacional arca com um custo de R$ 1,2 bilhão em função da necessidade de se ter energia de base para fazer frente às oscilações das fontes eólica e solar. “Uma das nossas sugestões é que o modelo precisa contemplar esse custo nas variáveis de solar e eólica”, afirmou Cunha. Além das contribuições para a consulta pública, a Abdan está propondo que o governo considere a construção de oito usinas nucleares até 2050, sendo a primeira da série inaugurada em 2029. “Esse seria um modelo consistente. Não podemos esperar faltar energia para começar a construir”, disse Cunha. “Em termos de lavra existente, nós temos localizados minérios que são suficientes para abastecer até 13 usinas por 236 anos”, acrescentou.
A Abdan participou recentemente de um workshop sobre a revisão dos atuais critérios de garantia de suprimento. Poderia nos falar suas impressões?
O governo está estudando um novo modelo para o setor elétrico. Ele já apresentou um modelo matemático para trabalhar o planejamento energético do país. Nesse modelo, foi considerado uma série de mudanças importantes. Esse modelo está muito bem feito. Como todo modelo, ele busca representar uma realidade, mas nunca será uma realidade, apesar de tentar se aproximar dela. Nós demos algumas contribuições. Tivemos três preocupações.
Quais foram estas preocupações?
A primeira delas é no sentido de que hoje temos a entrada da geração de fontes não controláveis, principalmente a eólica e a solar. São fontes sujeitas a intempéries. O vento e o sol são intermitentes. Isso provoca uma oscilação muito grande no sistema. As fontes solar e eólica são boas, mas para que funcionem bem é preciso ter a geração de energia de base. Quem fazia essa geração de base eram as hidrelétricas, mas hoje está muito difícil desenvolver hidrelétricas com grandes reservatórios. As áreas disponíveis estão muito ao Norte, em regiões florestais. O nível de complicação é grande.
A fontes renováveis trouxeram oscilações que o modelo antigo não considerava. No ano passado, por exemplo, a ONS chegou a mencionar um gasto de R$ 1,2 bilhão só para manter a energia de base. Se os projetos de renováveis provocam isso, este custo para compensar essa variação é das fontes renováveis. Uma das nossas sugestões é que o modelo precisa contemplar esse custo nas variáveis de solar e eólica.
Quais são as outras duas sugestões?
Outra questão está ligada às linhas de transmissão. Você constrói essas usinas muito longe. Elas têm um custo e um valor marginal que precisa ser melhor calculado. E por último, existe ainda a questão da regionalidade. O modelo não considera isso. Hoje, o Nordeste está abastecido por 86% de energia solar e eólica, o que é um risco muito grande para essa região. Você precisa que o modelo enxergue nacionalmente, porque afinal nós construímos um sistema nacional, mas é preciso que ele enxergue regionalmente também. Achamos que isso será bom para o sistema e coloca as nucleares no lugar que merecem estar.
E qual o papel das usinas nucleares?
As usinas nucleares têm um papel de geração de energia de base. A nuclear tem o melhor fator de carga, que fica entre 90% e 92%. Em alguns meses, elas chegam a 98%. Em compensação, o fator da energia solar está na casa de 30% e o de uma usina a gás é de 50%. É claro que as energias renováveis têm o seu papel. Mas a nuclear também tem o seu na questão de geração de base. O sistema precisa olhar para isso.
Existe um estudo antigo que afirma que ao construir uma primeira usina nuclear, você tem cerca de 60% de conteúdo local. Na segunda usina, o percentual sobe para 70% e, na terceira, 80%. Como o Brasil domina esse processo tecnológico, é muito importante manter isso tudo. Para que tenhamos um processo duradouro que seja bem constituído, precisamos ter uma nova usina nuclear sendo construída a cada três anos, a partir da conclusão de Angra 3 (2026).
O Brasil precisa de quantas novas usinas nucleares?
A nossa proposta é que, até 2050, tenhamos uma nova usina sendo inaugurada a cada três anos a partir de 2026. Ou seja, oito usinas. Esse seria um modelo consistente. Não podemos esperar faltar energia para começar a construir.
O que o Brasil precisa fazer para alcançar essa meta?
O que o Brasil precisa é que o governo assuma esse compromisso com a energia nuclear dentro do Plano Nacional de Energia 2050. É uma meta ousada que puxará a cadeia produtiva inteira. O benefício para o país será evitar jogar fora bilhões investidos nesta tecnologia ao longo de décadas. Isso é muito importante.
Em termos de lavra existente, nós temos localizados minérios que são suficientes para abastecer até 13 usinas por 236 anos. Isso só com o que foi mapeado até agora, o equivalente a um terço do território.
E quais serão as próximas ações da Abdan?
Nós vamos participar da consulta pública deste modelo [do setor elétrico]. Tudo o que foi dito por nós durante o workshop realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), será enviado em forma de contribuição. Vamos mostrar firmemente que este é um caminho bom para todos e que há espaço em nossa matriz para todas as fontes de energia.
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