ABDAN PROPÕE REESTRUTURAÇÃO DO SETOR NUCLEAR, COM CRIAÇÃO DE AGÊNCIA REGULADORA E PARTICIPAÇÃO PRIVADA EM USINAS
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
A Associação Brasileira de Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) pretende apresentar seu novo plano estratégico no mês que vem, durante o Seminário Internacional de Energia Nuclear, que acontece entre 12 e 14 de julho, e propõe dentre outras coisas uma reestruturação do setor nuclear. Na visão do presidente da ABDAN, Celso Cunha, é importante que as atribuições da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) sejam revistas, com a criação de uma agência reguladora especificamente para a área nuclear, e que a participação do capital privado seja aprovada para a conclusão de Angra 3 e para a construção de novas usinas. “O melhor cenário é o que passa pela iniciativa privada. Não tenho a menor dúvida sobre isso”, afirmou, ressaltando que a própria Eletronuclear estimou em R$ 17 bilhões os aportes necessários para a conclusão da usina nuclear, num momento em que o País passa por uma escassez de recursos. Cunha estará com o Ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, na próxima quarta-feira (14), em Brasília, e pretende tratar dessas questões no encontro.
– Quais seus planos à frente da ABDAN?
O mandato vai até março de 2018 e a diretoria está bem renovada, com cinco novos vice-presidentes, o Carlos Leipner, da Westinghouse, o André Salgado, da Areva, o Ricardo Antunes, da Nuclep, o Paulo Akashi, da Intertechne, e o Orpet Peixoto, da AF Consult.
Já fizemos um planejamento estratégico para a associação e as empresas estão interessadas em ser parcerias de Angra 3, mas para isso o governo precisa se posicionar nessa direção. A usina é uma das nossas prioridades.
Também estamos terminando um roadmap para novas usinas, e acreditamos que o setor nuclear precisa se reestruturar.
– De que maneira?
A CNEN [Comissão Nacional de Energia Nuclear], por exemplo, controla a Nuclep e a INB. Ela tem institutos de pesquisa, faz fiscalização e regula o setor, ao mesmo tempo em que é um executor. Então o setor precisa se reestruturar.
Outra questão importante é que tivemos uma reunião com a equipe de planejamento energético. Precisamos priorizar as usinas nucleares na nossa matriz. Hoje existe potencial para poucas usinas hidrelétricas para a geração de base, ou então as térmicas. Tem muita geração solar e eólica, mas essas fontes não são de base, então é uma questão importante priorizar a nuclear.
As usinas hidrelétricas do Nordeste, por exemplo, não produziram quase nada esse ano, então tem um limitante significativo, muito importante, para impulsionar a entrada de novas usinas nucleares, que são limpas e são de base. Os países que se comprometeram com a diminuição dos gases de efeito estufa estão indo nessa direção. Algumas pessoas acham que é muito caro, mas não é. A instalação tem um capital intensivo, mas a operação tem um custo baixo, então as empresas têm interesse em investir.
– Qual o cronograma para levar essas pautas ao governo?
No dia 14 [quarta-feira] vamos ter uma reunião com o Ministro de Minas e Energia, para falar sobre a importância da geração nuclear na matriz energética brasileira.
– O novo plano estratégico da associação já está pronto? Quais suas diretrizes?
Está quase pronto. Devemos divulgar provavelmente no SIEN [Seminário Internacional de Energia Nuclear, que acontece entre 12 e 14 de julho]. Estamos na fase final de acabamento do planejamento estratégico da ABDAN. É o primeiro realizado dentro da associação. Outro trabalho que estamos buscando é a questão da comunicação, focando em como explicar melhor, comunicar melhor isso para a sociedade. E, quando falamos disso, não nos referimos apenas à energia, mas também a medicina, agricultura etc. São áreas em que a ABDAN pretende expandir seus horizontes, como prevê o estatuto.
– Qual o melhor caminho para a retomada das obras de Angra 3?
O melhor cenário é o que passa pela iniciativa privada. Não tenho a menor dúvida sobre isso. O governo tem uma escassez de recursos, a Eletronuclear estimou em R$ 17 bilhões a necessidade de capital para a conclusão da usina, e a empresa não pode pagar por esse problema todo que o País está passando.
– E qual o melhor modelo?
Tem mil modelos possíveis, o governo pode montar uma joint venture, pode passar direto para a iniciativa privada fazer o investimento, mas tudo depende de regulamentação. Provavelmente a Eletronuclear continuará a operadora, mas esse modelo passa pela participação privada.
– Como vê a participação privada em novas usinas nucleares no Brasil?
Vamos entrar num ciclo de geração nuclear agora, da mesma maneira como aconteceu e vem acontecendo com eólica, hidrelétricas etc. No caso delas, temos a venda de energia a partir de plantas específicas. E acredito que para a geração nuclear deva ser da mesma maneira, calculando preços, a demanda e com a garantia de uma base segura de energia. Se não, vamos piorar nossa matriz. A nuclear é limpa e tem um custo de operação baixo. Então a tendência é a iniciativa privada ter uma participação ativa, com investimentos, em novas usinas.
– Acredita em leilões nos mesmos moldes dos que já existem para as outras fontes?
O leilão precisa de algumas adaptações, como existem para cada leilão, levando em conta as características específicas de cada fonte, mas acredito que esse seja um caminho interessante para ser seguido.
– Qual a expectativa da ABDAN em relação ao próximo plano decenal de energia da EPE?
A nossa expectativa é que a área nuclear apareça de forma clara, porque até hoje foi de maneira muito tímida. Foi acertada uma participação da ABDAN num grupo de trabalho com a EPE e vamos discutir intensamente com eles sobre isso, para um desenvolvimento conjunto e para que o setor nuclear apareça de forma clara. Então temos muitas frentes em aberto, mas todas muito palpáveis.
– Como estão as relações com o governo em busca de dar mais espaço à geração nuclear no País?
A relação com o governo é ótima. O Ministro de Minas e Energia é uma pessoa muito capaz, tem feito muita articulação, é um jovem que ganhou o respeito do setor. Estivemos com ele há poucas semanas e estaremos com ele de novo no dia 14. Foi criada uma agenda propositiva das associações e entregue a ele, que tem ouvido muito o setor e dado atenção. Então nossa relação é ótima e temos muita expectativa de que as coisas vão continuar caminhando.
– Quais os maiores obstáculos ao avanço da fonte e como superá-los?
Acho que os principais são a arrumação do setor nuclear. Defendemos a criação de uma agência reguladora, que vá desde a geração de energia até medicina, tratamento e radiofármacos. Precisamos então redefinir o papel da CNEN. A segunda agenda é a definição clara da participação da iniciativa privada dentro dos investimentos, tendo em vista que as empresas já se manifestaram interessadas em investir no setor.
– Qual a expectativa de conquistas no seu período de mandato à frente da ABDAN?
O que está no planejamento estratégico. São seis macroações. A expectativa é concluir esses itens no período.
– Quais são essas seis ações?
A realização de um Roadmap com o objetivo de difundir junto aos principais stakeholders informações e ideias sobre futuros projetos de geração de energia nuclear no Brasil; demostrar os benefícios da geração de energia nuclear, reforçando o foco de “energia limpa”; promover pautas com associações no âmbito dos poderes Executivo e Legislativo; empreender esforços para a conclusão de Angra 3; ampliar a presença da ABDAN junto à sociedade, levando informações de forma desmistificada dos benefícios da geração de energia nuclear; e expandir as atividades por toda a cadeia da indústria nuclear.
Todas estas ações estão sendo discutidas pela diretoria da entidade por conta da elaboração no Plano Estratégico da instituição.
Deixe seu comentário