ABDAN BUSCARÁ DIÁLOGO DIRETO COM O PRESIDENTE LULA PARA DESTRAVAR OBRAS DE ANGRA 3 E OUTROS GARGALOS DO SETOR NUCLEAR
O setor nuclear quer abrir diálogo direto com a mais alta esfera do poder de Brasília. Essa é a nova prioridade do presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha, nosso entrevistado desta sexta-feira (1º). Conforme noticiamos ontem (29), a ABDAN lançou um estudo, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que mostrou os efeitos econômicos positivos da energia nuclear no Brasil. A pesquisa revelou, por exemplo, que a cada R$ 1 bilhão investido no setor, há um acréscimo de R$ 2 bilhões no PIB do país. Esses e outros números relevantes do trabalho deverão ser apresentados ao presidente Lula. “Queremos mostrar esses números que a Fundação Getúlio Vargas revelou. Agora precisamos elevar essa discussão a um nível superior, pois os ministros não estão demonstrando capacidade para resolver o problema. A partir de agora, passo a buscar esse diálogo direto com o presidente Lula”, disse Cunha. O presidente da ABDAN cobra mais agilidade na tomada de decisão para a conclusão das obras de Angra 3 e aponta ainda que há muitos gargalos no setor que precisam ser endereçados. “Já passou da hora de o governo tomar uma decisão, pois essa situação está começando a afetar as companhias do setor. Em breve, poderemos ter empresas enfrentando insolvência”, alertou.
O que representa a conclusão desse novo estudo no debate sobre a importância da energia nuclear para o país?
Esse novo estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas, que é uma instituição acadêmica de grande renome, confirma o que já sabíamos: o impacto socioeconômico significativo do setor nuclear. O estudo revela que cada R$ 1 bilhão investido gera um aumento de R$ 3,1 bilhões na produção do país. Agora, temos dados concretos respaldados por um grupo de doutores da FGV.
O fato de que a energia nuclear é importante já é amplamente reconhecido, e não somos nós que estamos dizendo isso. O mundo inteiro está discutindo isso, como evidenciado nas últimas edições da COP. Inclusive, a última COP reafirmou que a transição energética não é possível sem a energia nuclear. Recentemente, conversei com Thiago Barral, secretário de Transição Energética do Ministério de Minas e Energia e presidente do Conselho da ENBPar. Fiz uma pergunta direta e clara: a energia nuclear está incluída na transição? Ele respondeu que sim. Quando perguntei como, ele não deu uma resposta. Portanto, é isso que precisamos esclarecer agora.
Além do impacto nacional, o estudo mostra que o setor nuclear é particularmente importante para o estado do Rio de Janeiro…
Se olharmos para a geração de energia, o setor nuclear contribui significativamente para a economia do Rio de Janeiro. Cerca de 80% do impacto estimado pelo estudo ocorre nesse estado. Portanto, por exemplo, a reintrodução de um programa como o Renuclear [Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento de Usinas Nucleares] para o ICMS faria total sentido no estado. Isso não representaria uma perda de receita para o Rio, mas sim um investimento para o futuro. O Secretário Interino da Energia e Economia do Mar do Rio de Janeiro, Felipe Peixoto, participou do lançamento do estudo e se comprometeu a discutir essa questão dentro do governo.
Como avalia a condução do tema nuclear no atual governo? Como está a questão da retomada de Angra 3?
Um ano e dois meses depois do novo governo assumir, a obra ainda não avançou. E pior ainda: a Eletronuclear está sem recursos e precisa dos fundos liberados porque senão, em breve, Angra 1 vai parar. Se isso acontecer, a empresa perderá de 30% a 40% de sua receita, o que tornaria a situação ainda mais grave. Além disso, a Eletronuclear precisa pagar R$ 1,8 bilhão à INB, que não é mais dependente do Tesouro. E a INB só tem um cliente, que é justamente a Eletronuclear.
Isso é uma irresponsabilidade. A culpa dessa situação não recai sobre os gestores das duas empresas, que assumiram o comando das companhias há pouco tempo. A responsabilidade está no governo, que não toma uma posição sobre o assunto.
Ainda que estudos como esse da FGV demonstrem o impacto positivo da energia nuclear, ainda há muita indefinição sobre a continuidade ou não das obras de Angra. Como avalia isso?
Angra 3 é uma usina que precisa de R$ 20 bilhões para ser concluída. Caso o governo decida não prosseguir com o projeto, precisará gastar R$ 12 bilhões para descontinuar a obra. Estamos falando de uma diferença de R$ 8 bilhões. Onde você vai encontrar 1,4 GW de potência por 8 bilhões no mundo? Não existe projeto que ofereça isso. Não faz sentido discutir gastar R$ 12 bilhões e não concluir a usina.
Se o governo deseja uma tarifa mais baixa para a energia de Angra 3, uma opção seria reduzir a taxa de amortização. Afinal, os bancos que estão financiando a construção são o BNDES e a Caixa Econômica Federal.
No terceiro mês do novo governo, em março do ano passado, tivemos uma reunião com o BNDES e fizemos a nossa parte. Apresentamos várias sugestões. Foram duas páginas repletas de ideias sobre como reduzir os custos. Já passou da hora de o governo tomar uma decisão, pois essa situação está começando a afetar as companhias do setor. Em breve, poderemos ter empresas enfrentando insolvência.
Ao seu ver, ao que se deve essa lentidão na tomada de decisão?
Eu acredito que há uma série de motivos. Eu acho que houve uma falta de habilidade por parte da equipe do Ministério [de Minas e Energia]. A mudança foi muito grande e as disputas políticas em torno das nomeações foram intensas. Recentemente, houve uma mudança na Secretaria Executiva. O novo secretário [Arthur Cerqueira Valerio] é uma pessoa sensata. O ministério estava muito pautado no gás e isso agora deve mudar. Existem problemas estruturantes no setor que precisam ser resolvidos.
E qual vai ser a pauta da ABDAN em Brasília a partir de agora?
A nossa pauta está sendo apresentada desde 1º de janeiro do ano passado. Eu tenho me reunido com todos os ministros. Só falta agora uma reunião com o presidente Lula. Queremos mostrar esses números que a Fundação Getúlio Vargas revelou. Agora precisamos elevar essa discussão a um nível superior, pois os ministros não estão demonstrando capacidade para resolver o problema. A partir de agora, passo a buscar esse diálogo direto com o presidente Lula.
Vide, os concursados aprovados da Eletronuclear ainda não convocados pela Empresa.
O concurso expira em 30/06/24.
Muita lentidão nas convocações.
Nós queremos trabalhar em prol do desenvolvimento e da soberania nacional !
Haja vista,o cumprimento do TAC por parte da Diretoria da Eletronuclear com o MPF aos candidatos PCds, desde 14/12/23.