ABEMI QUER IGUALAR MÃO DE OBRA BRASILEIRA AO PADRÃO ESTRANGEIRO
A Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi) se expandiu muito nos últimos quatro anos, passando de 90 a 140 associados, com a maioria das empresas quase dobrando seus faturamentos no período. Esteve à frente do Prominp até 2010, gerenciando a capacitação de 78 mil pessoas, e já está com novos planos de qualificação. O atual presidente da Abemi, Carlos Maurício de Paula Barros, deixará o posto em março de 2012, quando se encerra seu segundo mandato na associação, e contou ao repórter Daniel Fraiha um pouco do que foi feito nestes quatro anos.
Qual é a avaliação que você faz deste período em que esteve à frente da Abemi?
Tivemos muita coisa importante. Foram quatro anos, dois anos em cada mandato, que começaram em março de 2008 e terminam em março de 2012. Foram muitos avanços ao longo deste tempo, as empresas quase dobraram seus faturamentos, mas acho que o principal foi o estreitamento das relações com a Petrobrás, que é o nosso maior cliente. Tivemos uma série de respostas bastante importantes, tanto que de 90 associados quando entramos, passamos a 140 hoje.
Quais foram os segmentos que mais se desenvolveram neste período?
Até setembro de 2008 as empresas cresciam de forma muito homogênea nos diversos segmentos, fosse mineração, papel e celulose, petróleo e energia, entre outros, mas com a crise mundial naquele ano, muitas pararam de crescer e o pessoal se concentrou na área de óleo e gás. Isso fez com que a Petrobrás fosse o principal cliente para a maioria dos associados, de modo que o nosso trabalho para aprimorar a relação tanto contratual quanto técnica com a ela foi algo muito importante.
Quais foram os maiores avanços junto à Petrobrás?
Fizemos 38 comunicados conjuntos que resultaram em mudanças contratuais, a partir do grupo de trabalho Abemi-Petrobrás, formado há oito anos. Por exemplo, o fluxo de caixa neutro, em que as empresas recebem na mesma proporção em que gastam, saiu da discussão do grupo. Também chegamos juntos à garantia de quantitativos nos contratos, que agora passam a ser ajustados conforme as quantidades variem para menos ou para mais. Essas e outras respostas foram importantes, porque se transformaram em procedimentos e alterações contratuais significativas. Além disso, fizemos 60 procedimentos técnicos, que são comuns e pertencem a todas as empresas, como de soldagem, montagem de tubulação, pintura, construção civil, enfim, todas as disciplinas que fazem parte de uma obra.
Quantos encontros foram realizados ao longo destes quatro anos?
Fizemos uma série de encontros, sendo que gerais foram três. O primeiro foi em São Paulo, o segundo na Argentina e o terceiro foi no início deste mês, no Rio de Janeiro. O encontro que fizemos na Argentina foi na verdade o primeiro de competitividade, em que decidimos fazer ações dirigidas para a formação de pessoal de revisão de projetos de engenharia, além de remontar os cursos de MBA de Gerência de Empreendimentos em EPC, que havíamos feito no passado e paramos por causa do Prominp.
Como foi a experiência com o Prominp?
Foi de muito êxito. Formamos 78 mil pessoas ao longo do tempo em que estivemos à frente, mas decidimos nos voltar para os programas internos de qualificação. Por mais que não fossem conflitantes, o Prominp busca qualificar pessoas que não estão trabalhando e a Abemi busca qualificar profissionais que já estão em atividade, com um nível maior de conhecimento.
Como estão os programas internos?
No ano passado formamos 144 gerentes em MBA. Começamos com a formação de pessoal de nível alto, que é encontrada em menor escala do que a demanda do mercado brasileiro atual. O plano prevê depois a formação de pessoal de nível de supervisão de obra, supervisores e encarregados, em que vamos utilizar um curso da própria Petrobrás. Além de um curso de formação de pessoal de execução, que formará cinco categorias de profissionais: encanador, soldador, caldeireiro, eletricista e montador. Para fazer esse curso já temos uma parceria, que assinamos em setembro, com o Senai. Estamos negociando também com a entidade americana NCCER, que faz formação e certificação de pessoal. Vamos usar o sistema deles de formação, com a gerência da Abemi e com o Senai como responsável pela aplicação dos cursos. Como decorrência dos nossos trabalhos de estudo de competitividade, fizemos várias pesquisas voltadas para a produtividade de serviços de tubulações industriais, que é onde consome-se o maior número de homens-hora nas obras, e publicamos um livro que foi lançado nesse encontro no Rio de Janeiro. O livro chama-se “Melhoria de Produtividade em Tubulação – Problemas, Causas e Soluções”, e é fruto do trabalho em grupo desenvolvido pela Abemi.
Como vê a questão do conteúdo local no país atualmente?
Um dado muito importante para essa questão é que, até 2015, 57% dos investimentos da Petrobrás estarão na área de exploração e produção. Como os investimentos de exploração e produção têm 65% de conteúdo nacional, enquanto os do refino têm mais de 90%, essa passagem de recursos de uma área para a outra representa uma perda de possibilidades para o mercado externo. Para podermos avançar nesses 35% que hoje estão lá fora, só há duas maneiras: uma é com tecnologia e outra é através da competitividade. Como não há tempo hábil para desenvolvermos até 2015 tecnologias que não existem hoje, só resta uma forma, que é buscar de quem já tem. As penalizações altas obrigam as empresas de fora a virem para cá e permitem às empresas brasileiras que absorvam a tecnologia em um espaço de tempo muito mais curto, aumentando o conteúdo nacional em exploração e produção, fundamentalmente em construção de plataformas e sondas. O conteúdo nacional serve para obrigar quem está lá fora a vir ao Brasil, porém a competitividade passa por uma série de fatores, como desoneração, câmbio, condições equitativas de impostos com as empresas estrangeiras, barreira para quem faz dumping de preço, entre outras. São coisas em que a Abemi não pode atuar, só o governo. Podemos ajudar a pressionar para que as coisas aconteçam, mas acredito que os passos estão vindo. Nesse programa Brasil Maior, lançado recentemente pelo governo federal, que não foi voltado para óleo e gás, já se vêem algumas dessas mensagens claras. O que podemos fazer que não depende de ninguém é a qualificação e a formação de pessoal, para que tenhamos gente do mesmo padrão para competir com quem está lá fora.
Que bom ler esta matéria e tomar conhecimento de programa tão importante voltado à capacitação de mão de obra pois de nada adianta avançarmos em novas tecnologias se não tivermos pessoas preparadas para utilizá-las .