ABRAPCH DIZ QUE BRASIL TEM POTENCIAL DE 15 GW EM PEQUENAS HIDRELÉTRICAS E DEFENDE A RETOMADA DA CONSTRUÇÃO DE RESERVATÓRIOS

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

Paulo-ArbexA crise hídrica bateu à porta do Brasil e é uma realidade que teremos de enfrentar nos próximos meses. Com a escassez de chuvas verificada até aqui e a tendência de poucas precipitações no curto prazo, o país olha as alternativas que estão ao seu redor para enfrentar a crise energética e evitar que esse tipo de situação volte a acontecer no futuro. A Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas (Abrapch) tem levantado a bandeira de que o Brasil deve rever sua decisão de não mais construir usinas com reservatórios. Para o presidente da diretoria executiva da entidade, Paulo Arbex, o país errou ao escolher não mais desenvolver empreendimentos do tipo, ainda na década de 1990. “A demanda foi crescendo e o Brasil chegou a esse ponto. Isso é uma crise plantada há 30 anos atrás. E não foi por falta de aviso. A conta chegou agora”, lamentou. O entrevistado criticou também a influência exercida por ONGs e governos internacionais que, segundo ele, foram responsáveis por disseminar a ideia de que os reservatórios das hidrelétricas são vilões do meio ambiente. “Mas, na verdade, água é vida. Onde há água existe mais vida animal e mais vegetação. Basta conferir as imagens de satélites em torno dos reservatórios das hidrelétricas e nas margens dos rios. Você verá que é ali onde se concentra a vegetação mais exuberante”, sustentou. Arbex afirmou também que hoje existem cerca de 15 GW de PCHs e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CHGs) aprovadas na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – o que seria equivalente a uma usina de Itaipu. Para destravar todo esse potencial, porém, o país precisa trabalhar para agilizar o licenciamento ambiental dos empreendimentos, além de criar condições mais favoráveis para contratação e financiamento dessas usinas. “Se o Brasil conseguir resolver esses três pontos, conseguiremos viabilizar esses 15 mil MW”, concluiu.

Do ponto de vista da Abrapch, qual é o papel das PCHs no cenário de escassez hídrica e crise energética?

PCH-AREIA-1000x600As PCHs são parte da solução do problema. Hoje, o país possui um total de 15 mil MW de PCHs e CGHs aprovadas na Agência Nacional de Energia Elétrica. Isso é mais que uma Itaipu, que tem uma capacidade de 14 mil MW. Esse é um grande volume de energia que poderia ser consumido pelo Brasil se a questão do licenciamento ambiental desses empreendimentos fosse destravada.

Essa é a pior seca dos últimos 91 anos. Mas isso poderia ser evitado ou minimizado se o país, nos últimos 30 anos, tivesse continuado a construir reservatórios. Os reservatórios vão muito além da geração de energia elétrica. Eles são essenciais para a saúde, para a produção de alimentos, para a irrigação de lavouras e para o abastecimento de residências.

Na década de 90, começou no Brasil uma demonização irracional e burra dos reservatórios. É como se um lago fosse um desastre ambiental. Mas, na verdade, água é vida. Onde há água existe mais vida animal e mais vegetação. Basta conferir as imagens de satélites em torno dos reservatórios das hidrelétricas e nas margens dos rios. Você verá que é ali onde se concentra a vegetação mais exuberante.

O Brasil abandonou a construção de reservatórios na década de 1990. A demanda foi crescendo e o país chegou a esse ponto. Isso é uma crise plantada há 30 anos atrás. E não foi por falta de aviso. A conta chegou agora.

Ao seu ver, ao que se deve esse processo que o senhor chama de “demonização das hidrelétricas”?

itaipuA comunidade ambiental brasileira foi muito influenciada por ONGs e governos estrangeiros. No entanto, ao contrário do que dizem, as hidrelétricas, na verdade, são aliadas do meio ambiente. A construção de hidrelétricas está atrelada ao desenvolvimento de áreas de preservação permanente superiores às áreas desmatadas [durante as obras das usinas]. Então, no médio prazo, o impacto das PCHs em termos de vegetação é positivo.

O Brasil é como se fosse a “Arábia Saudita dos recursos hídricos”. Nós temos 12% da água do planeta. É um absurdo estarmos passando por uma crise hídrica pela terceira vez. Em 30 anos, o Brasil caiu nesse conto do vigário de que os reservatórios são ruins para o país. E o que aconteceu durante esse período? Nosso país, mesmo sendo a maior potência hídrica do mundo, passou a sofrer com a falta d’água.

Voltando a falar especificamente das PCHs, o que é preciso para que o Brasil destrave o potencial de 15 GW citados pelo senhor no início desta entrevista?

Linha de TransmissãoComo eu disse anteriormente, o Brasil tem atualmente 15 mil MW de PCHs e CGHs que podem ser viabilizados. Para destravar esse potencial, precisamos basicamente trabalhar em três pontos. O primeiro deles está relacionado à aprovação ambiental. O Brasil poderia fazer um mutirão de aprovação de projetos.

Não tem cabimento o Brasil continuar insistindo nesse erro que já dura 30 anos. Já passou da hora de o país resolver isso. É importante termos uma lei ambiental federal. E, claro, que seja uma lei razoável, justa e que exija que cada atividade humana compense seus danos ambientais de verdade.

O segundo ponto é que precisamos ter leilões que contratem um volume bom de PCHs, por um preço decente, que remunere o risco e o custo de capital do investidor. E, por fim, o último ponto é que nosso setor precisa ter financiamento adequado. Hoje, o BNDES oferece linhas mais baratas para uma série de outras fontes em comparação com as hidrelétricas. Isso precisa ser corrigido também. Se o Brasil conseguir resolver esses três pontos, conseguiremos viabilizar esses 15 mil MW.

Por ser um grande volume de geração, esses 15 GW certamente ajudariam na geração de empregos no país…

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Tabela mostra a redução da participação das hidrelétricas na matriz brasileira. Ainda assim, a fonte respondeu por 73% da geração do Brasil até junho – CLIQUE PARA AMPLIAR

As PCHs e as CGHs representam geração de emprego na veia. Estamos falando de construção civil. Além disso, só usamos mão de obra local e não precisamos importar um parafuso que seja para construir esse tipo de usina. É tudo fabricado aqui. O Brasil tem uma cadeia produtiva forte e tecnologia 100% nacional. Aliás, o Brasil tem a melhor tecnologia do mundo em equipamentos hidrelétricos.

Imaginando que o Brasil decidisse hoje começar a construir essas usinas, quanto tempo demoraria para que esses empreendimentos começassem a gerar?

O prazo de construção de uma pequena hidrelétrica oscila entre um e dois anos. Podemos dizer que 80% das usinas de pequeno porte demandam um período de construção entre um ano e um ano e meio. A parcela restante desses empreendimentos leva cerca de dois anos. Ou seja, é mais rápido construir uma pequena hidrelétrica do que construir uma térmica e os gasodutos relacionados. Estamos falando de projetos que são mais rápidos, mais baratos e muito melhores do ponto de vista ambiental.

Olhando para o cenário internacional, o senhor pode apontar para países que estão tendo uma postura diferente do Brasil em relação às usinas hidrelétricas?

índiceVejamos o caso da Alemanha, por exemplo. A fonte hidrelétrica tem status de prioridade nacional  na Alemanha durante a apreciação pelos órgãos ambientais. A fonte também prioridade no KfW, que é uma instituição similar ao nosso Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDES).

Vou citar outro país. A Noruega é o terceiro maior exportador de gás do mundo e o 12º exportador de petróleo no mundo. Ainda assim, uma fatia de 94% da energia daquele país é produzida através de hidrelétricas. Por lá, nunca houve problema de apagão ou instabilidade na geração, porque os noruegueses estão sempre construindo novas hidrelétricas com reservatórios bem dimensionados.

Quais serão as próximas ações da Abrapch no sentindo de levantar a bandeira em defesa das usinas hidrelétricas?

Energia SolarA Abrapch entende que o grande ponto que precisamos melhorar é reverter essa demonização injusta e inverídica sobre as hidrelétricas e os reservatórios no Brasil. Nesse sentido, estamos fazendo um esforço de comunicação com a imprensa e preparando uma série de materiais para enviar aos formadores de opinião, ao Ministério do Meio Ambiente e aos órgãos ambientais estaduais. Estamos tentando também aglutinar todos os setores da economia que precisam de água, reservatórios e energia limpa e barata para que nos ajudem a apoiar a retomada da construção de hidrelétricas no Brasil.

O Brasil precisa parar de ficar dando ouvidos às ONGs estrangeiras. Não podemos acreditar na tese de que ONGs internacionais estão aqui para fazer o bem. Não é verdade isso. Existem livros a respeito do tema. Essas ONGs e esses governos estão interessados em suas próprias geopolíticas. 

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Bom dia. Dr Paulo Arbex fez excelente abordagem. O Brasil tem que parar de dar atenção aos amadores, aos formadores de opinião (geralmente deturpadas), aos artista, e sim ouvir os diferentes setores a apresentar dados reais, verificáveis, periciáves, como esses que Arbex apresentou.

Hidrelétricas com lago e com lago que possa administrar a água, irrigando os rios nas secas e armazenando água(esse bem superior da humanidade) nos lagos com o excesso de vazão durante as chuvas.