AFETADA PELA CRISE, SHELL CORTA INVESTIMENTOS E FAZ MILHARES DE DEMISSÕES, MAS QUER AUMENTAR PARTICIPAÇÃO NO BRASIL
A Shell concluiu a aquisição do grupo BG e o presidente mundial da companhia, Ben van Beurden (foto), veio ao Brasil para anunciar o fim do processo, aproveitando para falar que pretende ampliar a participação da empresa no país, ao mesmo tempo em que confirma cortes de investimentos e milhares de demissões pelo mundo. A situação da empresa está longe de ser crítica como a da Petrobrás, mas, assim como todas as outras petroleiras internacionais, ela vem fazendo uma série de ajustes para se adequar à nova realidade dos preços do barril, que vem girando em torno de US$ 30 a US$ 33 nas últimas semanas. Neste novo cenário, a Shell também conta com um plano de venda de ativos, da ordem de US$ 30 bilhões, um pouco mais da metade dos US$ 57,7 bilhões almejados pelo plano da estatal brasileira.
Beurden se reuniu com alguns poucos jornalistas no Windsor Hotel de Copacabana, mas nem toda a imprensa foi chamada, numa tentativa de mostrar rigor, já que, segundo o assessor de comunicação da Shell, Guilherme Rocha, a companhia não teve condições de alugar um espaço maior na cidade. De fato, a empresa amargou quedas significativas nos resultados recentes, com uma redução de 57% no lucro do quarto trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, passando de US$ 4,2 bilhões para US$ 1,8 bilhão. Além disso, o lucro anual da companhia também sofreu um grande baque, já que caiu de US$ 19 bilhões em 2014 para US$ 3,8 bilhões em 2015. No entanto, não é nada que não permita ao grupo conseguir uma área confortável e espaçosa para realizar reuniões e divulgações com a presença de seu presidente global.
Os cortes de custos previstos com a compra do grupo britânico, segundo Beurden, deverão ser da ordem de US$ 3,5 bilhões a partir de 2018, com o enxugamento já sendo iniciado nesses dois anos até lá. Além disso, 2,8 mil funcionários da empresa serão demitidos ao redor do mundo em função da junção das atividades, somando-se a pelo menos outros 7,2 mil que perderão seus empregos, já que a Shell anunciou recentemente que faria 10 mil demissões globalmente.
Ainda assim, Beurden se mostrou otimista com os negócios no Brasil, prevendo que a aquisição da BG vá dar uma acelerada no crescimento da empresa no país, já que o grupo comprado tinha alcançado o posto de segundo maior produtor de petróleo local, logo atrás da Petrobrás, no último ano, quando alcançou a marca de aproximadamente 200 mil barris de óleo equivalente por dia (pouco mais de 160 mil só de petróleo).
O plano da BG para o Brasil era alcançar a marca de 600 mil barris de produção diária até 2020, mas o executivo não quis fazer novos prognósticos levando em conta a junção com as operações da Shell, que produz pouco mais de 30 mil barris por dia no país.
“Eu não acredito na divulgação de metas de produção. Nós abandonamos isso há algum tempo. Mas este número (600 mil barris por dia) de fato é menor do que os que temos em mente”, disse, pouco antes de falar sobre o desinteresse da companhia em fazer investimentos na área de refino brasileira: “Já temos uma posição no setor de refino bem razoável globalmente”.
Beurden calculou que, após a fusão das operações com a BG, os investimentos em 2016 deverão ficar na ordem de US$ 33 bilhões, um valor menor do que a soma dos planos individuais das duas companhias, mas ressaltou que pretendem fazer cortes estratégicos.
“Vamos priorizar nossos recursos para os investimentos que considerarmos mais competitivos e vamos manter o ritmo dos aportes de acordo com os nossos limites. Mesmo sendo uma grande companhia, temos que viver de acordo com a nossa capacidade também”, disse.
O presidente da Shell Brasil, André Araújo, afirmou que a empresa conseguiu estender a licença de exploração para Barreirinhas, num bloco que pertencia à BG, por mais 415 dias, e também falou sobre o interesse da companhia em continuar buscando oportunidades na área de GNL, onde já atuam como fornecedores.
Beurden aproveitou para reforçar o interesse da companhia no mercado brasileiro e reafirmar o objetivo de ampliar as operações locais:
“Até agora, eu achava que nossa posição no mercado upstream brasileiro era inadequada, porque era simplesmente muito pequena. Por isso nós temos perseguido novas oportunidades, como Libra, e acho que esse novo passo (a aquisição da BG) será muito importante para colocar o Brasil onde ele deveria estar no nosso portfólio”.
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