AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA ATÔMICA PREPARA ROADMAP PARA IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS DE HIDROGÊNIO A PARTIR DA NUCLEAR
Na corrida mundial atrás de soluções para viabilizar a produção de hidrogênio em larga escala, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está preparando uma nova iniciativa para incluir a fonte nuclear nessa movimentação. A entidade lançou uma ação para desenvolver um roadmap para a implantação comercial da produção de hidrogênio usando a energia nuclear. O projeto envolve tomadores de decisão, gerentes de projeto e operadores para compartilhar os últimos avanços em estratégias e tecnologias nacionais, de modo a identificar a prontidão técnica para diferentes tecnologias de produção de hidrogênio usando a fonte. Para a engenheira nuclear da AIEA, Alina Constantin, que é co-líder do projeto, a rota tecnológica a partir da energia atômica pode ser um dos caminhos com melhores resultados na produção futura de hidrogênio.
“Hoje, a grande maioria do hidrogênio necessário em todas as indústrias é fabricado usando tecnologias de combustível fóssil (principalmente gás natural), mas a energia nuclear tem o potencial de fornecer a eletricidade e o calor necessários para a produção de hidrogênio de forma sustentável, de baixo carbono e econômica”, disse a engenheira. Alina ressalta, no entanto, que a jornada não será fácil, devido aos obstáculos técnicos e financeiros ainda existentes. “Vários desafios relacionados à tecnologia, economia, segurança e licenciamento, bem como apoio político e envolvimento das partes interessadas, precisam ser abordados na próxima década, demonstrando viabilidade e permitindo a mudança para a produção em escala comercial, para que a energia nuclear desempenhe um papel na produção de hidrogênio para a transição de energia limpa”, acrescentou.
A iniciativa culminará em um roadmap orientador para fornecer aos países uma ferramenta para avaliar, planejar e criar estratégias para o desenvolvimento de projetos de hidrogênio a base da fonte nuclear. Atualmente, quase todo o hidrogênio gerado vem de combustíveis fósseis, um cenário que deve ser modificado nos próximos anos, à medida que a transição energética avança.
O hidrogênio é usado em uma ampla gama de processos industriais, que vão desde a produção de combustíveis sintéticos e petroquímicos até a fabricação de semicondutores e alimentação de veículos elétricos com células de combustível. Alguns países estão buscando energias renováveis, como energia solar e eólica, bem como a energia nuclear, de olho na diminuição do impacto ambiental da produção anual de mais de 70 milhões de toneladas de hidrogênio.
Além de ser o elemento químico mais abundante no universo, o hidrogênio é um excelente transportador de energia, que emite apenas vapor de água e calor quando queimado com oxigênio puro. Outra vantagem é que o energético pode ser armazenado em grandes quantidades e é mais eficiente em termos energéticos do que a queima de combustíveis fósseis.
Um grande desafio para a produção de hidrogênio limpo usando energia nuclear é a barreira de custo, mas isso é algo que está em mudança, de acordo com a própria AIEA. Com a crise global de energia, os combustíveis fósseis estão ficando bem mais caros – sendo o gás natural o exemplo mais notório, por conta da invasão da Rússia à Ucrânia. Uma análise de modelagem recente da AIEA indica que quando os preços do gás natural sobem acima de US$ 20 por milhão de unidades térmicas britânicas (BTUs), o método ideal de produção de hidrogênio é a eletrólise alimentada por uma mistura de energia nuclear e renovável.
Os planos para produção de hidrogênio em larga escala têm ganhado força pelo mundo. Nos Estados Unidos, o energético é considerado como um componente importante para descarbonizar o setor industrial do país, que responde por um terço das emissões de CO2 do mundo. “A recente legislação federal dos EUA alocou US$ 9,5 bilhões em financiamento para Centros Regionais de Hidrogênio Limpo, um Programa de Eletrólise de Hidrogênio Limpo e Iniciativas de Fabricação e Reciclagem de Hidrogênio Limpo”, disse o pesquisador Richard Boardman, Idaho National Laboratory. “As avaliações do Departamento de Energia dos EUA sugerem que a demanda de hidrogênio pode aumentar dez vezes em relação ao volume atual, com a energia nuclear produzindo potencialmente até 15% dessa demanda total”, completou. A economia do hidrogênio também é um tema relevante na União Europeia e no Canadá.
Aqui no Brasil, a discussão sobre o hidrogênio está na fase de planejamento. O Plano Decenal de Energia 2031, lançado oficialmente neste ano, prevê que o potencial técnico total de produção de hidrogênio no Brasil até 2050 totaliza 1,8 milhão de toneladas por ano. Esse volume representa mais de 14 vezes a demanda mundial de hidrogênio em 2018.
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