ALEXANDRE SILVEIRA REVELA QUE BRASIL E RÚSSIA VÃO INICIAR DISCUSSÕES PARA PARCERIAS EM URÂNIO E SMRs
Brasil e Rússia vão iniciar um trabalho conjunto para estudar parcerias em mineração de urânio e no desenvolvimento de pequenos reatores modulares (SMRs, na sigla em inglês). A informação é do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que conversou com jornalistas na manhã de hoje (12), após participar de seminário em Pequim. Como se sabe, Silveira integra a comitiva do presidente Lula que esteve na última semana em Moscou para uma reunião com o presidente russo Vladimir Putin. O ministro de Minas e Energia afirmou que os SMRs representam uma alternativa interessante para indústrias eletrointensivas no Brasil. “O presidente Putin deu a ordem à Rosatom para que faça, o mais rápido possível, a celebração de uma parceria com o governo brasileiro, para que possamos desenvolver esses pequenos reatores nucleares, que serão essenciais no futuro da energia”, afirmou Silveira.
O ministro também ressaltou que o país possui grande potencial em produzir urânio, mas boa parte do território ainda precisa ser melhor estudado para estabelecer com mais precisão o tamanho das reservas nacionais. “Claro que é uma discussão inicial, uma discussão muito estratégica, mas é um passo firme e fundamental para que possamos, no futuro de médio prazo, garantir a segurança energética”, detalhou Silveira, que participou na última quinta-feira (8) de reunião com executivos da Tenex, subsidiária da Rosatom, para iniciar as discussões relacionadas ao setor de mineração. Veja a seguir alguns dos trechos da fala do ministro na manhã de hoje:
O senhor poderia detalhar um pouco mais sobre os acordos fechados na Rússia para possíveis parcerias envolvendo os pequenos reatores modulares?
A estatal russa Rosatom é a empresa com maior tecnologia nos small reactors. É a única empresa do mundo que já tem esses reatores em modo comercial. Portanto, o presidente Putin deu a ordem à Rosatom para que faça, o mais rápido possível, a celebração de uma parceria com o governo brasileiro, para que possamos desenvolver esses pequenos reatores nucleares, que serão essenciais no futuro da energia. Em especial agora, no momento da inteligência artificial e dos data centers, que consumirão muito mais energia. E o Brasil passa pela necessidade da estabilização do seu sistema. E como é que nós vamos fazer isso? Com as nossas térmicas. Em especial, as nossas térmicas a urânio, que é um combustível que nós temos em abundância.
Quais serão os próximos passos?
Os russos iniciarão um processo de planejamento conosco no setor mineral do urânio e no levantamento das nossas potencialidades. Nós só temos 26% do nosso potencial conhecido, e já somos a sexta potência de urânio no mundo. Então, eles vão nos ajudar a diagnosticar o que nós temos no resto do nosso território e estarão disponíveis para começar a discutir como estabelecer uma parceria nos pequenos reatores nucleares.
Claro que é uma discussão inicial, uma discussão muito estratégica, mas é um passo firme e fundamental para que possamos, no futuro de médio prazo, garantir a segurança energética.
Qual a importância dessa parceria no setor de mineração?
O Brasil é o sexto maior produtor de urânio do mundo, mas nós precisamos agora produzir o nosso combustível. Absurdamente, nós que somos produtores de urânio in natura somos importadores desse combustível. Portanto, é importante investir nessa cadeia.
Como se daria a colaboração dos russos?
Os russos vão contribuir com a sua experiência — que é muito larga nesse setor — para fins pacíficos, é lógico. Mas estariam contribuindo também para que possamos fazer aquilo que eu coloquei no meu relatório apresentado ao Conselho Nacional de Política Energética: avançar no setor nuclear.
Precisamos finalizar a usina de Angra 3, sim, mas nós temos que avançar com um modelo de gestão seguro, e olhando o setor nuclear de forma mais holística, ou seja, de forma mais global, para que possamos ter uma gestão eficiente — não só dos recursos, mas uma gestão eficiente na continuidade do planejamento da energia nuclear.
Ao seu ver, qual o papel da energia nuclear no sistema energético brasileiro?
É uma energia limpa, segura e importante para o sistema. É, sem dúvida nenhuma, imprescindível para o desenvolvimento nacional e para criar ambiente para a recepção de novos investimentos em data centers e inteligência artificial, que exigirão energia limpa e, se possível, renovável. Nós temos as renováveis que são, em termos intensos, as nossas energias hídricas, solar, biomassa e energia eólica. E temos que segurar o sistema com a energia firme.
Hoje nós temos carvão, óleo, gás — e a principal delas, sem dúvida nenhuma, que é a energia do presente e do futuro: a energia nuclear. Foi assinado com a Temex um memorando de entendimento. Agora, vamos construir toda uma política para fazer que essa fonte torne-se vigorosa no Brasil.
Como o senhor vê a questão da gestão de resíduos nucleares, que é considerado um ponto sensível?
É importante ressaltar que, inclusive, a tecnologia hoje, por parte da Rússia — e da China também — é tão avançada que até os resíduos são reaproveitados. Uma grande preocupação da energia nuclear no mundo era a disposição final dos resíduos. Hoje, essa tecnologia avançou muito. Já há a reciclagem desses materiais. Portanto, é uma energia que, sem dúvida nenhuma, vai ser fundamental para o sistema, até porque vai ajudar a economizar na transmissão.
É importante dizer que uma das parcelas principais no custo de energia no Brasil é a transmissão. Com os pequenos reatores nucleares, você vai poder produzir energia dentro das indústrias eletrointensivas — que precisam de muita energia — como a Usiminas, lá em Ipatinga (MG), ou a CSN. Então, você vai poder produzir no local da necessidade da energia.
Num país transcontinental como o Brasil, com a dimensão territorial que nós temos, é fundamental que trocar as térmicas a óleo por nuclear. É muito mais fácil levar o combustível, é também tão seguro quanto, e é energia limpa, que não polui o meio ambiente. O Brasil, como uma grande potência da nova economia — que é a economia verde — se torna cada vez mais protagonista.
Claramente o mundo está novamente dividido. Em assuntos estratégicos e de longo prazo, seria interessante que nossas instituições avaliassem de que lado nos alinharemos. É um assunto de estado, mais do que de governo. Ideal seria entre ambos os lados, mas isto pode ser utópico. Dezenas de aspectos precisariam ser avaliados, variando desde de ciência, tecnologia, tradição, identidade cultural, confiança, etc. Na área nuclear quando migramos da Westinghouse, USA, para a Siemens, Alemanha, embora não soubéssemos, mesmo porque não sabíamos quase nada, decretamos nosso fracasso na geração nuclear, ao comprar usinas muito além de nossa capacidade de então. E de… Read more »