ANELISE LARA DIZ QUE BRASIL CONTINUARÁ IMPORTANDO GÁS POR MUITOS ANOS E DEFENDE REINJEÇÃO PARA AUMENTAR PRODUTIVIDADE DO PRÉ-SAL

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

aneliseA diretora de refino e gás natural da Petrobrás, Anelise Lara, afirmou que o Brasil continuará com um balanço importador de gás natural por muitos anos, apesar das grandes reservas do combustível nos campos do pré-sal. A executiva também rebateu as críticas de que falta, atualmente, infraestrutura para escoar a produção de gás e defendeu a prática de reijenção do insumo. Segundo a diretora, a técnica é essencial para aumentar o fator de recuperação de campos do pré-sal em até 15 pontos percentuais. “São bilhões de barris de petróleo que podem ser produzidos a mais se considerarmos esses campos. Obviamente, não podemos abrir mão dessa riqueza”, explicou Anelise, que participou de um webinar promovido pelo Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP). As declarações foram dadas logo após um relatório do Ministério de Minas e Energia revelar que 45% da produção nacional de gás natural foi reinjetada em abril, totalizando 56,3 milhões de metros cúbicos por dia.

Com a divulgação dos números, se reacendeu durante esta semana o debate sobre a necessidade de expandir a infraestrutura de gasodutos para poder escoar o gás ao invés de reinjetá-lo.  “Não falta infraestrutura hoje para disponibilizar o gás do pré-sal. Muito dessa crítica vem associada à questão de que parte desse gás que produzimos é reinjetado. E que se tivesse infraestrutura, esse gás poderia ser comercializado”, disse Anelise. “Mas temos que considerar o porquê da reinjeção de gás. O gás do pré-sal possui um teor de CO2 maior do que a média, entre 20% e 40%. De forma a evitar que esse CO2 seja ventilado para a atmosfera, nós reinjetamos parte do gás produzido”, declarou a diretora.

Além do aspecto ambiental, Anelise explicou que a reinjeção é feita por um motivo técnico: para aumentar o fator de recuperação dos campos do pré-sal. Ela disse que a Petrobrás consegue recuperar, em geral, cerca de 30% do volume de óleo de um reservatório. E que para aumentar esse fator de recuperação, são usados métodos especiais, como a Recuperação Avançada de Petróleo (WAG, na sigla em inglês). Nesta metodologia, acontece a injeção alternada de água e gás, com um potencial de aumentar a recuperação desses campos entre 10 e 15 pontos percentuais.

“A entrada do [gasoduto] Rota 3 vai permitir, junto com a entrada dos projetos de Búzios, um aumento na produção e oferta de gás para o mercado. Mas a reinjeção de gás tem que continuar, porque é positiva para o aumento de recuperação dos campos. Não cabe aqui falar que falta infraestrutura neste momento, considerando os projetos já em produção”, afirmou Anelise.

A diretora da Petrobrás destacou ainda que o Brasil terá um balanço importador de gás que vai durar por muitos anos, apesar das grandes reservas deste combustível nos campos do pré-sal. No ano passado, por exemplo, o volume de importação chegou a 9,8 bilhões de metros cúbicos, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Essa quantidade, no entanto, já foi maior no passado. Em 2015, por exemplo, foram quase 20 bilhões de metros cúbicos importados, ainda de acordo com a ANP.

Novos blocos exploratórios que foram adquiridos ainda precisam passar por fase exploratória, certificação, declaração de  comercialidade, investimentos necessários para infraestrutura e a decisão estratégica de definição da melhor viabilidade técnica e econômica.  Por isso, acreditamos que esse balanço importador ainda vai ser uma realidade para o país durante muitos anos”, projetou a executiva. Ela ainda acrescentou que o país vai continuar convivendo com a produção nacional somada às importações de gás da Bolívia e a compra de GNL do exterior.

fpso-solQuando questionada sobre como equilibrar os custos de extração e transporte do gás com os atuais preços de venda do combustível, Anelise lembrou que o gás do shale americano chega a ser comercializado por até US$ 2 por milhão de BTU. “Essa não é nossa realidade no Brasil. Principalmente porque os custos para produzir nosso gás que está associado ao petróleo são muito maiores”. Em compensação, a diretora diz que as alternativas disponíveis já fazem com que o preço desse gásno Brasil atinja patamares que, apesar de não estarem próximos ao de US$ 2 por milhão de BTU, estão em uma linha descendente.

Só esse ano, tivemos uma redução de 36% no preço do gás em dólares aqui no Brasil, considerando molécula mais transporte. Porque os preços da molécula estão associados ao Brent. Os preços do petróleo caíram muito o que fez com que, em maio, os preços  do gás chegassem a um patamar de US$ 6 por milhão de BTU”, relatou. A diretora acrescentou que o preço do gás praticado no país deve continuar caindo em agosto.

Anelise também falou do Novo Mercado de Gás e disse que considera que o Brasil está na direção correta para promover a abertura do setor, atualmente monopolizado pela Petrobrás. A executiva afirmou que o país tem grandes reservas de óleo com gás associado. E que a decisão de investimento em infraestrutura para viabilizar este gás vai estar atrelada a estudos de viabilidade técnica e econômica dos projetos.

É claro que um ambiente regulatório mais robusto, com regras claras e que efetivamente promovam um mercado mais dinâmico e competitivo, contribuem para mitigação dos riscos percebidos pelas empresas. E vai aumentar o apetite dessas companhias. Para mim, a regulamentação das novas diretrizes elaboradas no Novo Mercado de Gás e a Nova Lei do Gás caminham nessa direção”, finalizou.

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