APESAR DE RISCO EXPLORATÓRIO, RODOLFO SABOIA VÊ INTERESSE DAS EMPRESAS NAS ÁREAS DA 17ª RODADA E DESTACA POTENCIAL ALÉM DAS 200 MILHAS
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O setor de óleo e gás brasileiro começará a escrever um novo capítulo de sua história a partir de amanhã (7), quando será realizada a 17ª Rodada de Licitações. O leilão vai inaugurar uma nova fase dos certames de blocos de óleo e gás do Brasil, com a oferta de áreas com grande potencial mas com um maior risco exploratório. Em preparação para esse momento especial da indústria, o Petronotícias traz hoje (6) a visão de quem está encabeçando a organização do leilão: o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Rodolfo Saboia. Perto de completar seu primeiro ano à frente da agência, Saboia destaca o potencial geológico nas áreas que estão em oferta. “Temos dados promissores que apontam para grandes oportunidades na plataforma continental”, afirmou. Ainda que com a menor quantidade de inscritas para o certame – serão nove, ao todo -, o diretor da ANP avalia que as companhias estão de olhos bem atentos para as oportunidades que serão ofertadas na licitação. “Nesse cenário, eu vejo que o número de inscritos, embora inferior ao que já se observou no passado, confirma que ainda há interesse na exploração em áreas de maior risco exploratório aqui no país”, disse. A 17ª Rodada terá um destaque especial: os blocos da Bacia de Santos que são cortados pela linha das 200 milhas náuticas. Saboia diz que essas áreas podem ser bastante promissoras, com volumes de petróleo superiores a 7 bilhões de barris. “Agora, eu venho dizendo, nas várias oportunidades em que sou convidado a me manifestar, que a minha perspectiva é de um otimismo realista, não só para esses blocos como para todas as ofertas de áreas neste ano”, ponderou. O diretor-geral da ANP confirmou também que eventuais novos estudos podem resultar no apontamento de mais blocos além das 200 milhas em futuros leilões, desde que haja aprovação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Por fim, Saboia também avaliou como será o futuro das licitações de óleo e gás dentro do contexto de transição energética.
A 17ª Rodada é especial pela inclusão de blocos além das 200 milhas na Bacia de Santos. Ao seu ver, o que deve prevalecer: o interesse pelo potencial dessas áreas ou a cautela por conta de um certo grau de incerteza desses blocos?
A 17ª Rodada será o primeiro teste para perspectivas além das 200 milhas. Com base em descobertas análogas do pré-sal e de acordo com estudos preliminares realizados pela ANP, os blocos ali localizados podem ser bastante promissores, com volumes de petróleo superiores a 7 bilhões de barris.
Agora, eu venho dizendo, nas várias oportunidades em que sou convidado a me manifestar, que a minha perspectiva é de um otimismo realista, não só para esses blocos como para todas as ofertas de áreas neste ano.
Isso porque, de um lado, sabemos que as empresas ainda estão em período de recuperação, recompondo o caixa para novos investimentos. Por outro lado, o Brasil está ofertando alguns ativos muito interessantes.
Com um eventual sucesso dos blocos além das 200 milhas no leilão dessa semana, essa nova fronteira exploratória pode voltar a figurar nos próximos leilões da agência?
Independentemente dos resultados da 17ª Rodada, a região além das 200 milhas náuticas se apresenta como uma nova fronteira exploratória. Os blocos ofertados nas bacias de Campos e Santos, que são bacias produtoras classificadas como Elevado Potencial, encontram-se em contexto geológico distinto daquelas grandes áreas produtoras das bacias, por estarem em regiões com escassez de dados e, até mesmo, por se encontrarem bem distantes da costa, em lâmina d’água ultraprofunda, acima de 2.500 metros.
Contudo, dados sísmicos vêm sendo adquiridos e processados. A interpretação dessas informações pela ANP, assim como por outros especialistas do mercado, confirma o potencial petrolífero.
Da mesma forma que para qualquer outra área de fronteira, a confirmação se há ou não hidrocarbonetos depende da perfuração de poços. No entanto, os dados sísmicos apontam para a presença de rochas reservatório, selo e armadilhas, potencialmente capazes de armazenar volumes relevantes. Objetivamente, esses estudos podem, sim, resultar no apontamento de novos blocos na região pela ANP, desde que observada a resolução CNPE nº 3:
“Art. 4º Fica a ANP autorizada a definir e licitar blocos em quaisquer bacias terrestres ou marítimas, bem como licitar campos devolvidos ou em processo de devolução, observando que: …
“II – os campos ou blocos na área do pré-sal e nas áreas estratégicas, definidas no art. 2º da Lei nº 12.351, de 22 de dezembro de 2010, bem como aqueles localizados na Plataforma Continental além das 200 milhas náuticas, ficam excluídos dessa autorização”.
Desta forma, blocos além das 200 milhas náuticas dependem expressamente de autorização do CNPE. Importante destacar, ainda, que empresas podem nominar oportunidades exploratórias nessa região, conforme disposto na Resolução ANP no 837/2021.
A 17ª Rodada registrou um menor número de empresas inscritas. Seria interessante se compartilhasse conosco sua leitura a respeito disso. Ao que se deve esse cenário?
O cenário atual é bastante desafiador, sem dúvida. A transição energética impõe incertezas à demanda de longo prazo do petróleo, com maior competição por recursos (inclusive com renováveis) e investidores mais seletivos em relação aos projetos de O&G.
Temos visto que as empresas, cada vez mais, têm buscado projetos com maior resiliência, tanto em termos econômicos, como em termos ambientais. Ainda estamos também em um momento de recuperação do caixa das empresas, que foi profundamente afetado no ano passado, refletindo-se em uma brusca retração de investimentos em novos projetos no mundo todo.
Contudo, ainda que os tempos não sejam tão favoráveis, há potencial geológico nas áreas que estão em oferta. Temos dados promissores que apontam para grandes oportunidades na plataforma continental. E a única forma de conhecer o potencial real é perfurando.
As empresas que manifestaram interesse em participar consideraram todos esses fatores e, ainda assim, se inscreveram. Lembro que os resultados alcançados no 2º Ciclo da Oferta Permanente, que ocorreu no final do ano passado, confirmaram resiliência do setor de petróleo e gás natural no Brasil.
Entendo tal resiliência é motivada, primeiro, pelo extraordinário potencial geológico do país, potencial esse ainda pouco explorado. E, segundo, pelas medidas que vêm sendo adotadas nos últimos anos, inclusive pela ANP, para o cumprimento das políticas públicas estabelecidas pelo governo que trazem direcionamento claro para o aumento da atratividade da indústria do petróleo, gás natural e biocombustíveis no Brasil.
Nesse cenário, eu vejo que o número de inscritos, embora inferior ao que já se observou no passado, confirma que ainda há interesse na exploração em áreas de maior risco exploratório aqui no país.
Com a transição energética ganhando velocidade em todo o mundo, como vê o futuro dos leilões de áreas exploratórias da ANP? Qual será o destino desse modelo?
Nós temos visto um direcionamento para o modelo de oferta permanente, que tem sido muito bem sucedido e que garante uma flexibilidade muito maior para o mercado. Particularmente, entendo como bastante frutífera essa decisão do CNPE, que já autorizou a ANP a incluir todas as áreas nessa modalidade, com exceção dos blocos localizados no Polígono do Pré-sal, nas áreas estratégicas e na Plataforma Continental além das 200 milhas náuticas, bem como dos autorizados a compor a 17ª e a 18ª Rodadas de Licitações.
Naturalmente, com a maturidade do modelo, caberá ao CNPE avaliar e decidir também sobre a possibilidade de que essas outras áreas também venham a ser incluídas na oferta permanente.
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