APÓS ACENOS DO GOVERNO PARA TERMINAR ANGRA 3, SETOR NUCLEAR SE REÚNE ESTA SEMANA PARA DEBATER O FUTURO DA USINA
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
A realização do Seminário Internacional de Energia Nuclear (SIEN 2018) coincidiu com um momento extremamente importante para o setor. Com o recente anúncio da criação de um grupo de trabalho dentro do governo federal para discutir a conclusão de Angra 3, representantes do mercado nuclear estão na expectativa para que o projeto, enfim, seja retomado. Conforme o Petronotícias vem noticiando, o término da usina será fundamental para a matriz energética brasileira. Quando entrar em operação comercial, a unidade será capaz de gerar mais de 12 milhões de megawatts-hora por ano, o suficiente para abastecer as cidades de Brasília e Belo Horizonte durante o mesmo período. Por isso, neste momento em que a retomada da obra está em pauta novamente, o SIEN 2018, entre os dias 25 e 27 de julho, no auditório de Furnas, no Rio de Janeiro servirá de fórum para que todas as vozes do segmento apresentem suas visões e ideias para a conclusão da usina, cujas obras estão paradas desde 2015. “Nos últimos três meses, as coisas mudaram. Estamos vendo um esforço real do Ministério de Minas e Energia, tentando solucionar esse problema”, afirmou o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha. “O mercado olha isso [a criação do grupo de trabalho] com bons olhos e torce para que, dentro de um prazo máximo de 60 ou 90 dias, tenhamos tudo aprovado dentro do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE)”, acrescentou.
Qual a importância da criação do grupo de trabalho para o setor nuclear?
Este é um desejo do setor, que há muito tempo espera que sejam solucionadas as questões da dívida e do modelo econômico a ser usado na conclusão da obra. Eu tenho total clareza de que a obra de Angra 3 não depende só da questão de solução das dívidas da Eletronuclear com BNDES, Caixa Econômica e Eletrobrás, mas também do aporte financeiro para a conclusão dos trabalhos. O ministro de Minas e Energia, Moreira Franco entendeu isso. Por isso, pautou o grupo para que, dentro de um prazo de 60 dias, apresente um estudo tarifário, que permitirá efetivamente equalizar a tarifa de Angra 3. A partir disso, a Eletronuclear poderá renegociar todo o financiamento.
Precisamos também decidir o modelo econômico e definir como vamos terminar a obra de Angra 3. São muitas de opções de modelos econômicos. Precisamos de uma definição de qual será usado. Em posse disso, a Eletronuclear poderá dar curso à empreitada de terminar a usina. O mercado olha isso [a criação do grupo de trabalho] com bons olhos e torce para que, dentro de um prazo máximo de 60 ou 90 dias, tenhamos tudo aprovado dentro do CNPE.
Esse prazo dado ao grupo é o suficiente para que a Eletronuclear conclua a obra dentro do novo cronograma estabelecido?
É totalmente viável. Muitas soluções já foram apresentadas. Agora, é preciso reunir todas essas informações e, com isso, fechar o trabalho. Então, acho mais que suficiente [o prazo do grupo de trabalho] para terminar isso. Não existem motivos para a não conclusão dentro de 60 dias. A partir disso, ficamos na expectativa do ministro Moreira Franco pautar o tema em uma reunião do CNPE.
O que o mercado espera que o grupo de trabalho aborde em seu relatório?
A maior expectativa no momento é possibilitar a iniciativa privada participar do empreendimento e decidir como será essa participação. Ao que tudo indica, a Eletronuclear deve abrir participação acionária na empresa. Com isso, a companhia aportará os recursos financeiros e, conforme for aplicando os investimentos, transforma isso em ações, mantendo o limite constitucional (já que a parceira privada não pode ter o controle acionário).
Como a ABDAN pretende colaborar com o grupo de trabalho?
Já conversamos com o ministro e as empresas também se encontraram com ele. Acredito que o CNPE deve escutar novamente as companhias. Mas caso não faça isso, a própria Eletronuclear já sabe das demandas. As empresas já declararam o que acham viável para elas. Agora, é uma questão de juntar as informações e decidir. A pior coisa para o projeto de Angra 3 é não decidir.
O governo tem recentemente demonstrado interesse na retomada de Angra 3. Como avalia esses esforços?
Nos últimos três meses, as coisas mudaram. Estamos vendo um esforço real do Ministério de Minas e Energia, tentando solucionar esse problema. Ou seja, o ministro, efetivamente, chamou para si a questão de decidir. Notamos uma mudança de postura do ministério no sentido de buscar uma solução para o assunto.
Eu acho que devemos agora esperar os próximos 60 dias para poder resolver isso. Os bancos só podem fazer a renegociação quando for decidida a questão da nova tarifa da usina. Além disso, as empresas privadas só podem dizer se vão participar do empreendimento quando o novo modelo de negócios for divulgado.
O senhor poderia falar da importância do SIEN para o debate do setor e como será a participação dos membros da ABDAN no evento?
O SIEN já está na nona edição e já é um evento consagrado. Estamos dando todo o apoio para que ele continue existindo. Assim como fizemos com os eventos da WNU, cuja última edição teve a participação de 800 pessoas. Nosso objetivo é ampliar cada vez mais o acesso das pessoas a estes encontros. Vamos buscar esse aumento também para o SIEN nos próximos anos. Neste ano, o seminário vai trazer alguns temas da atualidade, alguns que já foram debatidos no início do ano. As coisas estão andando no mercado e o debate é muito importante. O avanço no setor só vai acontecer com a contribuição de todos. O SIEN, nesse momento, veio para isso.
Podemos destacar a mesa de abertura do seminário. Teremos o presidente de Furnas, Ricardo Medeiros, o presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, o presidente da Nuclep, Carlos Henrique Silva Seixas, e o presidente da INB, Reinaldo Gonzaga. Então, desde o painel de abertura, podemos ver que o evento será muito interessante. Em seguida, teremos uma palestra do presidente da Eletronuclear, que será muito relevante também. As empresas fabricantes também farão apresentações. Um tema novo da edição deste ano será a questão dos resíduos, que também ganhará destaque.
Espero que realmente a obra volte e se termine o que se começou a quase 2 décadas.Cada parada da obra são custos que o brasileiro paga, pois cada desmobilização e mobilização tem um custo que vai sendo adicionado ao valor final da obra.
Trabalhei 5 anos neste projeto e sai frustado depois da parada da mesma.
Vinícius.