APÓS REESTRUTURAÇÃO, ENGIE PREVÊ CRESCIMENTO DE 1.000% EM SERVIÇOS NO BRASIL E DEFENDE PARTICIPAÇÃO PRIVADA NO SETOR NUCLEAR | Petronotícias




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APÓS REESTRUTURAÇÃO, ENGIE PREVÊ CRESCIMENTO DE 1.000% EM SERVIÇOS NO BRASIL E DEFENDE PARTICIPAÇÃO PRIVADA NO SETOR NUCLEAR

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Gil Maranhao EngieA Engie, que já deixou no passado seu antigo nome (GDF Suez), vem ampliando o processo de reestruturação de sua marca e recentemente deu um novo passo neste sentido, integrando todas as empresas do grupo. No Brasil, a mudança foi ainda mais significativa, porque o país passou a ser considerado uma região dentro da estrutura de negócios da companhia, categoria que só era atribuída à França, onde fica a sede, e à China, que tem o maior programa do mundo para ampliação da matriz energética. Por aqui, onde a empresa já é a maior produtora de energia elétrica do setor privado, o avanço do grupo é projetado para várias direções, com destaque para um interesse crescente no setor de serviços, onde a Engie estimar multiplicar por 10 o faturamento em três ou quatro anos, e na área de energias renováveis, inclusive no segmento de geração solar, que está entre as grandes apostas no longo prazo.

Outra área que desperta grande interesse no grupo, segundo o diretor de Estratégia e Comunicação da Engie, Gil Maranhão, é o setor de energia nuclear, onde eles já possuem um acordo de cooperação com a Eletronuclear para a troca de informações a partir de suas usinas nucleares na Bélgica (onde a empresa é operadora de todas as unidades do país). De acordo com Maranhão, o grupo está preparado para participar desse setor de várias maneiras, seja como investidor, como operador ou fornecedor de engenharia e serviços, mas, para isso, o primeiro passo precisa vir do Brasil, com a autorização constitucional para a participação privada em projetos nucleares. “Além de a constituição permitir, precisamos identificar que os projetos são responsáveis, corretos, financiáveis, etc. Tudo isso precisa ser estruturado”, ressalta, lembrando que fazem parte da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan), e que vêm buscando essa abertura do mercado: “Temos atuado no sentido de defender os contornos de uma legislação que permita o investimento privado”.

Como está sendo o processo de integração da Engie?

A empresa é uma grande multinacional, privada, com sede na França, com faturamento de cerca de 80 bilhões de euros por ano – foram 69,9 bilhões em 2015, mas a média anual fica em torno de 80 bilhões –, e estamos presentes desde 1996 no Brasil, com uma capacidade instalada de cerca de 12 mil MW sob nossa gestão. São 29 usinas operadas por nós, sendo 85% renováveis, e estamos atentos para as mudanças no setor de infraestrutura, em que o mercado pede menos carbono, mais digitalização para redução de custo, e maior integração com outros elos da cadeia.

O mercado está descentralizando em vários lugares do mundo, as usinas estão ficando menores e mais distribuídas, com mudanças regulatórias. É uma tendência global. E o grupo resolveu se reestruturar nesse sentido, participando de mais atividades na casa dos clientes. O Brasil acabou sendo confirmado como um dos pontos fortes da empresa e ganhou uma estrutura independente

Com isso, deixamos de nos reportar pela América Latina e passamos a ser uma região independente, nos reportando direto para a matriz. Foi reconhecimento e uma reafirmação na crença e nas perspectivas do Brasil. Os únicos outros países considerados região são a China e a própria França, onde fica a sede.

O que isso muda na estratégia da empresa no País?

Primeiro, nós ganhamos em agilidade. A direção local passa a participar diretamente dos negócios do grupo na França, o que nos dá mais agilidade na tomada de decisões, na capacidade de investimento, na possibilidade de defesa dos nossos orçamentos diretamente, entre outros fatores. Dentro dos outros aspectos da reestruturação do grupo, essa é uma dimensão importante. As outras coisas são a própria transformação do grupo como um todo. Além da energia centralizada, passamos a dar foco em outros negócios do grupo no Brasil, que não eram subordinados à nossa gestão, como a área de geração descentralizada, que estamos olhando diretamente. Já temos uma empresa – parte da antiga Araxá Solar – especializada em painéis solares, que adquirimos em abril deste ano. Estamos tentando nos antecipar para essa onda que vem aí, que é absoluta. Outra tendência mundial. O Brasil às vezes anda um pouco atrás das tendências mundiais, mas quando acontece é furioso.  Estamos nos preparando para isso.

Qual o papel que a geração solar deve ter nos negócios da Engie?

Nós já atuamos também em projetos solares centralizados. Temos projetos para geração solar de energia de reserva somados em 230 MW no Brasil, em diferentes fases de desenvolvimento. É um segmento que está começando a se tornar competitivo, as fábricas já estão falando em se instalar no Brasil, enfim, começa a acontecer o mesmo movimento do setor eólico ocorrido nos anos 2000. E aqui o que não falta é sol, terra barata e mercado crescente para receber energia. A Engie viu isso há alguns anos, se preparou no mundo inteiro para atuar fortemente nisso, e o Brasil não é exceção.

Na geração descentralizada, ainda não é uma realidade. A Araxá é líder de mercado nessa área, mas ainda é um mercado embrionário. A meta da Aneel é flexibilizar o net metering até 2020 para as distribuidoras se adaptarem, e até lá a tecnologia vai avançar. Nós nos posicionamos através dessa compra da Araxá e estamos nesse processo de aprendizado.

Quais são as metas nesse mercado?

Não temos metas fixas. É difícil estabelecer meta para o descentralizado. De uma forma geral, a meta continua sendo gerar energia limpa renovável, responsável. E aproveitar a oportunidade. Atuamos em todas as fontes de energia, inclusive nuclear. Se o Brasil resolver abrir para investidores privados, estamos prontos para atuar.

Qual o interesse da Engie nesse mercado de energia nuclear?

A Engie é um grande gerador nuclear na Europa. Boa parte da energia gerada da Bélgica é nuclear, e todas as usinas de lá são nossas. A origem da Tractebel é belga e temos buscado investir em outros países, participando de algumas concorrências internacionais. É um processo que leva 10 anos, incluindo desde o licenciamento até a operação. Estamos em vários países, em vários processos, em parcerias com governos, que sempre têm forte participação nessa área. Dificilmente é totalmente privada. E estamos jogando esse jogo. Inclusive no Brasil. Estabelecemos em 2008 um acordo de cooperação para novos projetos com a Eletronuclear, e temos estudado as diretrizes brasileiras de operação, licenciamento, manutenção, e eles têm estudado as da Bélgica. É um acordo renovado a cada dois anos, apenas para criar uma parceria. É um namoro antes do casamento, de longo prazo. E também participamos da Abdan. Temos atuado no sentido de defender os contornos de uma legislação que permita o investimento privado.

O que poderia induzir a companhia a investir em usinas nucleares no Brasil? Apenas a permissão para participação privada bastaria?

Não basta a constituição permitir. Essa é a parte básica. Existem várias formas de uma empresa como a nossa participar. Seja investindo, seja operando sem investir, ou fornecendo engenharia, expertise e serviços, mas não precisa apenas investir. Se formos bem vindos para isso, vamos estudar essa possibilidade. Mas, para isso, além de a constituição permitir, precisamos identificar que os projetos são responsáveis, corretos, financiáveis, etc. Tudo isso precisa ser estruturado. Não basta a constituição permitir, se o licenciamento ambiental for frouxo, por exemplo. Se ele não passar pelos padrões internacionais, não conseguimos investir. Se as responsabilidades em uma parceria não forem bem designadas, também não conseguimos. Então isso tudo leva tempo. A constituição permitir é apenas um passo.

Como fica a área de serviços com a integração do grupo?

A área de serviços da Engie, que não estava sob a nossa gestão, agora passou a ficar. Queremos multiplicar por 10 essa linha de negócios nos próximos três ou quatro anos, de forma integrada. Tudo vai ser ofertado como Engie. O cliente quer eficiência energética, nós temos. Quer gestão, nós temos. Quer serviços ligados à indústria dele, nós temos. Quer gerar a própria energia, nós fazemos. Outros negócios, dentro desse conceito, são bem vindos. Temos mais de 100 empresas no mundo inteiro fazendo serviços diversificados para as cidades. Fazemos qualquer coisa que uma cidade ou um cliente industrial precisar.

E como tem sido o avanço neste mercado?

Tivemos algumas conquistas recentes. Ganhamos um contrato de gestão dos sinais de Niterói, que pretende reduzir o tempo médio de locomoção na cidade. Fechamos contrato para fornecer a energia para o VLT do Rio de Janeiro, e pretendemos participar de todas as licitações de iluminação pública de municípios que se mostrarem economicamente interessantes, em vários estados.

Essa meta de crescimento na área de serviços inclui aquisições?

É algo que também está no radar. Não temos um foco específico para isso, mas temos interesse em modelos de negócios que possam ser replicados em outros locais e que tenham potencial de ganhar escala. Podemos trazer tecnologias que temos em outros países para determinados objetivos, podemos adquirir empresas locais com tecnologias próprias ou podemos trazer tecnologias e integrar com aquisições locais.

Essa ampliação da área de serviços também englobaria atividades de construção e montagem, com esta lacuna que tem se aberto no País?

Não. Temos olhado para outros negócios neste sentido, como a cadeia de gás natural, incluindo as térmicas, o GNL e a distribuição, mas não a construção em si. A gestão sim. Podemos vir a gerenciar algumas.

Qual o faturamento da área de serviços da Enige no Brasil atualmente?

É uma área pequena, relativamente nova, com R$ 5 milhões de faturamento, mas com grande potencial de crescimento.

A empresa, que opera mais de mil estações de recarga para carros elétricos em outros países, tem planos de investir nessa área no Brasil?

Queremos entrar nesse segmento sim. Estamos nos preparando para participar da concorrência de carros elétricos compartilhados no Rio de Janeiro. Serão 100 pontos e já temos parceria com uma fabricante de carro elétrico, para fazermos a gestão, mas ainda falta uma marca para patrocinar, como o Itaú já faz com as bicicletas espalhadas pela cidade do Rio.

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