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ARGUS VÊ PERSPECTIVAS DE RECUPERAÇÃO DE MERCADO PELA BRASKEM APÓS TARIFAS DE IMPORTAÇÃO SOBRE RESINAS

Argus_Fred_Fernandes_Foto_Wanezza_Soares-3530 copiarO mercado brasileiro de resinas passa por um momento decisivo de reconfiguração e mudanças. Esse novo cenário representa uma oportunidade para a Braskem, principal player petroquímico do país. No ano passado, o governo aumentou as tarifas sobre polímeros importados de 12,6% para 20%. A Braskem avalia que a medida trouxe benefícios aos seus negócios e pode representar um aumento de US$ 30 milhões nas vendas do quarto trimestre de 2024. “A empresa está empenhada em reverter os prejuízos acumulados nos últimos trimestres e busca recuperar market share e valor de mercado. Isso é essencial, pois a Braskem está à venda, e um ativo com passivos recorrentes se torna menos atrativo para potenciais compradores”, avaliou Frederico Fernandes, editor de polímeros da consultoria Argus, nosso entrevistado desta segunda-feira (3).Em 2025, ainda estaremos em um período de baixa no ciclo petroquímico, mas a Braskem deve usar todas as ferramentas políticas, econômicas e comerciais para reverter a situação e voltar a ser uma empresa lucrativa e atraente para investidores e compradores em potencial”, acrescentou. O especialista também analisou os impactos do governo Donald Trump no mercado internacional de resinas e os efeitos da retomada do Regime Especial da Indústria Química (REIQ). “Recentemente, a Braskem anunciou um investimento de R$ 614 milhões (aproximadamente US$ 100 milhões) para ampliar sua capacidade de produção de polietileno e PVC. Além disso, há outros investimentos da Unipar (R$ 57 milhões), Innova (R$ 73,3 milhões) e Grupo OCQ (R$ 15 milhões), totalizando cerca de R$ 760 milhões. Tudo isso é fruto da volta do REIQ”, destacou.

Poderia começar fazendo um balanço sobre o mercado de polietileno no Brasil em 2024?

braskemNo caso do polietileno, a grande questão é que, em comparação com os anos de 2021, 2022 e 2023,  percebemos um aumento muito significativo no volume desse produto vindo dos Estados Unidos em 2024. Isso acendeu um alerta para o produtor nacional. Se você levar em consideração que a Braskem, atualmente, opera com cerca de 61% da sua capacidade de produção, esse cenário evidencia o tamanho do market share conquistado pelo produto importado – que apresenta boa qualidade e atende pequenos e médios compradores, que muitas vezes não conseguem negociar contratos tão vantajosos quanto os grandes compradores. Em 2024, vimos um fluxo muito maior de importados, principalmente dos Estados Unidos.

Esse aumento nas importações motivou a Braskem a acionar seus canais políticos para buscar soluções. Como resultado, houve um aumento de 12,6% para 20% nas alíquotas de importação para as três principais resinas: polietileno, polipropileno e PVC. Além disso, existe um movimento para que o material produzido nos Estados Unidos e Canadá passe a pagar anti-dumping, algo que o mercado já espera, embora ainda não tenha sido oficializado.

Porém, a vitória de Donald Trump trouxe certa incerteza para a implementação dessa medida. Antes de sua eleição, esperava-se que o anti-dumping fosse anunciado em janeiro, mas agora há dúvidas sobre sua aprovação e, caso aconteça, é provável que a alíquota seja menor. Antes do final do ano passado, era consenso que esse anti-dumping seria uma realidade já em janeiro. Com a vitória de Trump, isso ficou um pouco mais obscuro. Ainda assim, há um consenso que essa medida deve ser implementada. 

E quanto ao mercado de polipropileno?

polipropilenoNo caso do polipropileno, também houve aumento nas importações, já que a Braskem, único produtor nacional, não atende à demanda total do mercado. No entanto, a dinâmica desse produto é diferente. Importamos pouco dos Estados Unidos devido ao anti-dumping já existente. O maior exportador de polipropileno para o Brasil é a Colômbia, beneficiada por acordos que eliminam alíquotas de importação. Em seguida, vem a Argentina, com o produtor local Petrocuyo que possui um braço de distribuição em Joinville (SC) e consegue atender grande parte da região Sul, a segunda maior consumidora nacional de resinas plásticas. Também recebemos volumes do Oriente Médio e da China.

A Braskem busca recuperar o market share perdido com o aumento das alíquotas de importação. No entanto, como Estados Unidos e China já pagam anti-dumping no caso do polipropileno, talvez seja necessário a empresa investir em melhorias nas fábricas e processos para competir de maneira mais eficiente.

Já é possível fazer uma leitura do impacto desse aumento de tarifas sobre resinas importadas?

braskem_petroquimicoCom certeza. A Argus acompanha mensalmente os dados de importação e exportação. Essas alíquotas se tornaram efetivas no dia 15 de outubro do ano passado. Imediatamente, em novembro, já foi sentida uma diminuição em relação às importações de polipropileno. Já a importação de polietileno não foi tão impactada porque a demanda é muito forte no Brasil.

No caso do PVC, ele é produzido no Brasil pela Braskem, que tem uma capacidade de cerca de 600 mil toneladas por ano, e pela Unipar Carbocloro, que produz cerca de 300 mil toneladas anuais. Isso soma aproximadamente 1 milhão de toneladas por ano de capacidade de PVC no país. No entanto, precisamos importar pelo menos de 30% a 40% para atender à demanda. Desde que as alíquotas de importação para o PVC também entraram em vigor em 15 de outubro, observamos um cenário interessante. Em novembro, houve uma grande queda nas importações, mas em dezembro ocorreu um salto significativo.

As importações de PVC dos Estados Unidos, mesmo com a cobrança de anti-dumping, aumentaram 200% em dezembro de 2024 em comparação com dezembro de 2023. As importações vindas da Argentina, onde a Unipar também produz e exporta para o Brasil, subiram 570%. Produtos de outros países, como a Colômbia, também apresentaram crescimento. Esses dados mostram que, mesmo com a taxação de anti-dumping, a demanda no Brasil segue forte. Apesar de fatores como taxas de juros elevadas e dólar alto, o consumo de resinas plásticas continua aquecido.

Diante desse cenário e dessa nova configuração de mercado, como avalia o papel da Braskem nesse momento de recuperação e retomada? O que podemos esperar desse importante player?

POST___Petroquimcia-santo-andre-iStock-1087051328Na última conferência de resultados, realizada em novembro, ainda com a antiga diretoria, a Braskem destacou que, com a entrada em vigor das alíquotas de importação de 20%, a expectativa era de um aumento de pelo menos 30 milhões de dólares a mais em vendas, considerando apenas o primeiro trimestre de 2025. Se o anti-dumping for implementado conforme esperado, com uma boa taxação, esse valor pode pelo menos dobrar.

A empresa está empenhada em reverter os prejuízos acumulados nos últimos trimestres e busca recuperar market share e valor de mercado. Isso é essencial porque a Braskem está à venda, e um ativo que apresenta passivos recorrentes se torna menos atrativo para potenciais compradores.

A estratégia parece focada em reorganizar a empresa para que volte a gerar lucro e recupere seu apelo como um player importante no setor petroquímico mundial. Em 2025, ainda estaremos em um período de baixa no ciclo petroquímico, mas a Braskem deve usar todas as ferramentas políticas, econômicas e comerciais para reverter a situação e voltar a ser uma empresa lucrativa e atraente para investidores e compradores em potencial.

Dentro desse cenário de mudanças no mercado, existe algum impacto relacionado ao REIQ? Quais foram os efeitos mais significativos?

Cerimônia de anúncio de investimentos após retomada do Reiq, em janeiro, no Rio Grande do Sul

Cerimônia de anúncio de investimentos após retomada do Reiq, em janeiro, no Rio Grande do Sul

Claro. Recentemente, a Braskem anunciou um investimento de R$ 614 milhões para ampliar a sua capacidade de produção de polietileno e PVC.  Além disso, há ainda outros investimentos da Unipar (R$ 57 milhões), Innova (R$ 73,3 milhões) e Grupo OCQ (R$ 15 milhões), totalizando cerca de R$ 760 milhões. Tudo isso é fruto da volta do REIQ. Houve uma grande batalha, porque o governo Bolsonaro havia eliminado esse benefício fiscal, mas o governo Lula o trouxe de volta.

O que o REIQ define que todas as empresas que investirem em aumento de capacidade e geração de empregos podem utilizar os seus créditos e benefícios para realizar investimentos. E foi exatamente isso que aconteceu. Esses últimos anúncios, que somam quase um bilhão de reais, são fruto direto do retorno do REIQ, que é um benefício importante para a indústria química.

Por fim, gostaria de ouvir uma projeção para 2025. O que o mercado pode esperar nesse segmento de polímeros? Quais são suas perspectivas para este ano?

trumpEm termos globais, o início do governo Trump ainda traz uma incógnita muito grande. As dinâmicas petroquímicas e de polímeros já estão, de certa forma, estabelecidas. Por exemplo, os Estados Unidos exportam muito polietileno para a América Latina. A China, que agora é autossuficiente em polipropileno, passou de grande importadora para exportadora de seu excedente de produção.

Se o presidente americano implementar possíveis tarifas, isso pode mudar todo o paradigma. Já existem muitas conversas entre produtores e compradores do Canadá e do México – que fazem parte do USMCA, antigo NAFTA – para planejarem mudanças nas dinâmicas comerciais

Além disso, as movimentações da Ásia devem continuar em busca de novos mercados, caso os Estados Unidos se fechem ainda mais. Em 2025, teremos dois cenários possíveis. O primeiro envolve a necessidade de criar novas dinâmicas para o fluxo dessas mercadorias de resinas plásticas. Já o segundo envolve o fortalecimento das dinâmicas já existentes, que pode incluir o término da guerra na Ucrânia – o que seria ótimo, já que esses dois países sempre foram grandes fornecedores de polietileno.

Então, temos possibilidades tanto para o bem quanto para o mal. Só com o passar dos meses será possível entender para onde tudo isso caminha.

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