ARPEL COMEMORA 60 ANOS COM EVENTO NO RIO DE JANEIRO NA PRÓXIMA SEMANA E REFORÇA APOSTA EM IA E GÁS NATURAL
A cidade do Rio de Janeiro será o centro das atenções do setor de energia latino-americano nos dias 24 e 25 de junho, com as comemorações dos 60 anos da Arpel — Associação de Empresas de Petróleo, Gás e Energia Renovável da América Latina e Caribe. Além de celebrar sua trajetória, a entidade vai promover, no Hotel Hilton Copacabana, a segunda edição do Innovarpel, evento técnico focado em transformação digital e segurança cibernética industrial. A programação está disponível neste link e contará com a presença de diversos líderes do setor. A celebração ocorre em um momento estratégico para a indústria latino-americana, que busca equilibrar segurança energética e descarbonização. Para o secretário executivo da ARPEL, Carlos Garibaldi, as empresas petrolíferas da região já exercem um papel de protagonismo na transição energética, com foco em produzir mais energia com menos emissões. Nesse contexto, o gás natural é visto como peça-chave para garantir uma base energética confiável, flexível e de baixa emissão, complementando fontes intermitentes como solar e eólica. A expansão do uso do gás em residências, indústrias e no setor de transportes é apontada por Garibaldi como um dos caminhos prioritários. Outro destaque da agenda da associação é o avanço da inteligência artificial, considerada um catalisador de inovação em áreas como exploração, produção, refino e comercialização. A tecnologia vem sendo incorporada como ferramenta para otimizar processos, melhorar a interpretação de dados sísmicos e acelerar o desenvolvimento de novas soluções energéticas.
Quais são os principais legados da Arpel para a indústria de petróleo e gás ao longo desses 60 anos?
A Arpel foi fundada no Rio de Janeiro em 1965 pela Petrobrás e outras sete empresas nacionais de petróleo da América Latina. Em 1983, estabeleceu sua sede em Montevidéu. Em 1993, passou a incorporar empresas privadas regionais e globais de hidrocarbonetos com atuação na América Latina e no Caribe e, a partir de 2010, também fornecedores de bens e serviços para a cadeia de valor dos hidrocarbonetos. Atualmente, contamos com 31 empresas-membro atuando em 30 países da nossa região.
Seguimos quatro áreas estratégicas: Excelência Operacional, Transições Energéticas, Gestão Sustentável e Relacionamento com Stakeholders. Nessas frentes, nossos membros participam de onze Comitês Técnicos que cobrem os segmentos da cadeia de valor e disciplinas transversais.
Desde sua criação, a Arpel tem servido como um fórum para a troca de conhecimentos e experiências. Compartilhamos boas práticas em excelência operacional ao longo de toda a cadeia de valor por meio de ações de assistência recíproca para resolver questões técnicas e de gestão específicas, além de workshops, comitês, cursos de capacitação, estudos comparativos, guias, manuais e white papers.
Mantemos relacionamento direto com governos (ministérios de energia, agências reguladoras e executoras) e com associações empresariais, profissionais e intergovernamentais relevantes nos âmbitos nacional, regional e global. Somos, de fato, a única associação chamada a representar os interesses da indústria de hidrocarbonetos da nossa região em fóruns de organizações intergovernamentais.
Hoje, impulsionamos a evolução do setor de hidrocarbonetos em tempos de transições energéticas e dinâmicas de risco inéditas.
Como a associação avalia o desafio atual da indústria petrolífera em meio à transição energética? Qual será o papel dessas empresas diante desse novo momento do setor energético?
Nossa indústria tem, de fato, fornecido o combustível para um progresso humano sem precedentes desde o século passado. No entanto, temos consciência de que as emissões provenientes de combustíveis fósseis também contribuíram para a crise climática atual — mas acreditamos que fazemos parte de uma solução pragmática rumo a um mundo com menos carbono.
Hoje está claro que precisamos continuar fornecendo hidrocarbonetos como base para a segurança energética, ao mesmo tempo em que evoluímos e nos adaptamos à transição energética global, impulsionada pela necessidade de mitigar as mudanças climáticas. Essa transição pode ser “turbulenta”, não linear e mais lenta do que se aspira — sensível às realidades de oferta e demanda, à geopolítica, às complexidades, incertezas e condicionantes — mas é nosso destino final.
Devemos, portanto, ser prudentes, pragmáticos, sensatos e sensíveis tanto às exigências dos acionistas quanto da sociedade. Não poderemos manter nossa licença social, acessar oportunidades ou atrair talentos se não descarbonizarmos, diversificarmos e praticarmos (e comunicarmos) de forma eficaz nossa gestão socioambiental e governança robusta.
Já temos a tecnologia para descarbonizar as operações, processos e instalações dos nossos negócios tradicionais. Além disso, nossas competências centrais podem ser aproveitadas, por exemplo, na mineração subterrânea de lítio, geotermia, biocombustíveis, eólica offshore, hidrogênio e fornecimento de energia para veículos elétricos.
Temos mais de um século de inovação técnica em nossa trajetória. Somos veteranos na resiliência à volatilidade dos preços, na tomada de decisões sob incerteza, no relacionamento com stakeholders heterogêneos e na navegação por ciclos políticos locais e perturbações geopolíticas. Somos agentes desse esforço de transformação energética. Na América Latina e no Caribe, as empresas de óleo e gás já estão exercendo esse papel, com foco em produzir mais energia com menos emissões.
Diante de desafios globais como a transição energética e a digitalização, qual é o papel da integração latino-americana no setor energético?
A América Latina e o Caribe é uma região muito heterogênea em termos de recursos naturais e desenvolvimento socioeconômico. No entanto, possui a matriz primária de energia mais limpa do planeta, pois queima notavelmente menos carvão e utiliza mais gás natural e hidreletricidade do que a média global. Podemos torná-la ainda mais limpa ampliando o uso do gás natural como ferramenta de integração.
O gás sempre proporcionou flexibilidade e efeito estabilizador para sistemas dependentes de hidrelétricas, especialmente diante de ciclos climáticos (como o El Niño) e contrastes sazonais de temperatura (como no Cone Sul). Além disso, é um facilitador da transição energética ao complementar fontes solar e eólica, por ser uma base sinérgica, confiável, flexível e não intermitente.
Podemos expandir ainda mais seu uso em três frentes:
(a) no mercado residencial, reduzindo a pobreza energética e a utilização de lenha ou esterco animal para cozinhar — o que também afeta a saúde das mulheres e as condições de vida em geral;
(b) no mercado industrial, substituindo carvão, óleo combustível e diesel;
(c) no setor de transportes — leves, pesados, de longa distância, bem como o fluvial, litorâneo e de abastecimento marítimo — substituindo gasolina, diesel e óleo combustível.
Isso pode ser alcançado com uma melhor integração dos gasodutos — que já é robusta no Cone Sul, mas ainda incipiente no Arco Norte — complementada pelo uso de GNL em formas tradicionais, flutuantes, portáteis e modulares. O objetivo é garantir a segurança energética da região, ao mesmo tempo em que se reduzem as emissões de gases de efeito estufa.
Há espaço para fortalecer ainda mais a cooperação entre os países da região nos próximos anos? Em quais áreas?
Trabalhamos em estreita colaboração com a OLADE (Organização Latino-Americana de Energia) para promover a integração. A integração de infraestrutura e mercados exige cooperação governamental estreita, alinhamento de objetivos e políticas regulatórias e aduaneiras compatíveis. Muitas vezes, cicatrizes centenárias e abismos ideológicos têm dificultado soluções transfronteiriças que fazem sentido geográfico e comercial. Mas isso é possível; a Europa foi palco de conflitos violentos por dois milênios e hoje desfruta de uma união pacífica, estável e próspera em termos de infraestrutura, comércio, alfândega e moeda.
A inteligência artificial é um campo que tem ganhado protagonismo na indústria em geral. Quais são os desafios para adotar essa tecnologia em um setor tão crítico como o de petróleo e gás?
No passado, o setor de petróleo e gás tinha a duvidosa distinção de investir pesadamente em tecnologia da informação sem usar plenamente os dados que gerava. Hoje, entendemos que a transformação digital é essencial para a descarbonização e diversificação de nossos portfólios de produtos energéticos com fontes renováveis.
A inteligência artificial tem se mostrado um facilitador e catalisador da inovação e do desenvolvimento tecnológico — não só na química, física e biologia, mas também nos setores de energia e mineração. Ela tem o potencial de aprimorar nossa indústria, melhorando a interpretação sísmica e a modelagem integrada, além de otimizar as etapas de exploração, desenvolvimento, perfuração, completação, produção, refino e comercialização.
Certamente também vai acelerar a transição energética, ao impulsionar a eficiência energética, acelerar o desenvolvimento tecnológico das fontes renováveis de geração e armazenamento, simplificar cadeias de suprimentos complexas, otimizar o design, a operação e a integração de infraestrutura e redes, e ajudar na descarbonização de setores de difícil abatimento (como siderurgia e outros materiais de construção, climatização e manutenção de edifícios, navegação, entregas de pacotes etc.).
Quais serão as próximas atividades e novidades da Arpel após as celebrações pelos 60 anos?
Ao longo de 2025, participaremos ativamente de doze eventos internacionais, incluindo o Seminário Internacional da OPEP (Viena, 9 e 10 de julho), a Semana OLADE (Santiago, de 29 de setembro a 3 de outubro), a WEC Week (Panamá, de 6 a 9 de outubro), o Instituto das Américas (La Jolla, de 21 a 23 de outubro) e a COP 30 (Belém, de 10 a 21 de novembro), entre outros.
Ofereceremos o Módulo Upstream do nosso Programa de Alta Gestão (Rio de Janeiro, de 13 a 15 de agosto). Também planejamos adicionar um quarto módulo “capstone” no Baker Institute da Universidade Rice, em Houston, em 2026.
Mas, acima de tudo, seremos anfitriões da 8ª Conferência Arpel em Puerto Madero, Buenos Aires, de 1º a 4 de junho de 2026, com foco em questões estratégicas da cadeia de valor. Essa conferência bienal atrai regularmente executivos do alto escalão, profissionais, acadêmicos e consultores.
Por fim, quais são suas perspectivas para o setor de petróleo e gás na América Latina nos próximos anos?
Como mencionei, a América Latina e o Caribe largaram na frente na transição energética. O petróleo e o gás continuarão sendo a espinha dorsal da nossa segurança energética. A região é rica em potencial exploratório e se tornou um ponto focal global, tendo contribuído com 38% dos recursos de hidrocarbonetos descobertos no mundo desde 2020 — concentrados no Brasil, Guiana e Suriname. Além disso, há recursos significativos de gás na Vaca Muerta, na Argentina, na Guiana-Suriname, na Colômbia e na Venezuela. O gás natural excedente poderá ser exportado para outras regiões com maior demanda e matrizes mais intensivas em carbono, substituindo o carvão.
A região também conta com corredores de vento formidáveis na Patagônia e em áreas costeiras, além de uma enorme faixa de insolação, graças à sua posição geográfica sobre o Equador. Também é rica — e ainda pouco explorada — em metais e minerais críticos. O que falta é estabilidade política e qualidade institucional para atrair os investimentos necessários.
Os investimentos em hidrocarbonetos, renováveis e infraestrutura serão expressivos e permanecerão expostos por longos períodos. Investidores globais não se atentam apenas ao potencial exploratório e à conjuntura atual (termos contratuais e fiscais, postura do governo vigente), mas também à percepção sobre a qualidade do ambiente no longo prazo. É fundamental que cada país com potencial energético tenha uma política energética de Estado — e não apenas de governo — construída por meio de consenso multipartidário, para que seja imune aos ciclos eleitorais e suas oscilações ideológicas. Uma política assim tende a favorecer um ecossistema institucional e regulatório robusto, que ofereça previsibilidade, estabilidade contratual e fiscal, segurança jurídica e transparência.
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