AUMENTA O INTERESSE DAS EMPRESAS AMERICANAS PELO SETOR DE PETRÓLEO BRASILEIRO | Petronotícias




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AUMENTA O INTERESSE DAS EMPRESAS AMERICANAS PELO SETOR DE PETRÓLEO BRASILEIRO

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Roberto ArdenghyO Consulado brasileiro em Houston, junto com os governos da Coreia do Sul e da Noruega, vai realizar a quarta edição da Houston Shipping & Offshore Conference, no dia 10 de outubro, com o intuito de gerar trocas de informações e experiências entre as indústrias dos três países, debatendo o futuro do setor de petróleo e gás mundial. Este é apenas mais um dos trabalhos que o cônsul geral adjunto do Brasil em Houston, Roberto Ardenghy, tem liderado nos Estados Unidos para promover as empresas brasileiras e o mercado nacional. Ele conta que o consulado trabalha em três linhas por lá: uma de identificação de companhias americanas que possam auxiliar no desenvolvimento do Brasil e queiram vir para o país ou formar parcerias aqui; outra na criação de eventos e oportunidades de encontro entre os empresários de lá com os brasileiros; e uma terceira voltada à busca de oportunidades para empresas nacionais exportarem para os EUA. Neste terceiro quesito, um exemplo é a venda de areias especiais produzidas no Brasil para a utilização na exploração do shale gas por lá. Ardenghy conta ainda que hoje o Porto de Houston é o que mais envia cargas dos Estados Unidos para cá, e vê um crescimento do interesse americano pelo mercado de petróleo nacional: “Na OTC ficou muito evidente isso, as empresas buscando parceiros brasileiros com pacotes tecnológicos, principalmente na área subsea.”

Quantas empresas e quantos participantes são esperados para o evento?

No último ano tivemos 285 participantes, metade americanos e metade estrangeiros, sendo uns 20 brasileiros. No total, foram 180 empresas e cerca de 40 representantes de universidades e centros de pesquisa, além de representantes de governo. Este ano imaginamos um aumento de 20% a 25%. Nosso objetivo este ano é aumentar a presença de brasileiros, porque é um evento muito técnico e muito voltado para o que o Brasil está discutindo na área de óleo e gás.

Qual o diferencial da conferência?

É que é organizada por três governos: Brasil, Coreia do Sul e Noruega. Cada país tem uma vocação diferente no mundo de petróleo e gás. A Noruega é o modelo talvez mais bem acabado de sucesso econômico de uma indústria petrolífera. Começaram com um conteúdo local na faixa de 10%, tinham uma economia muito voltada à pesca, e hoje já atingem de 70% a 90% de conteúdo local em alguns projetos. Então foram muito eficientes, até internacionalmente.

A Coreia na construção de plataformas…

Sim, exatamente. A Coreia do Sul é um dos principais construtores navais do mundo. São conhecidos pela extrema eficiência, principalmente em grandes unidades de produção e sondas de perfuração. E o  Brasil é uma fronteira natural de expansão desse mercado, com as descobertas do pré-sal. Então esse evento congrega as vocações dos três países, contando com pelo menos um representante de cada em todos os painéis.

O que será discutido?

Temas com ao questão do financiamento, novas tecnologias para transporte de GNL, entre outras coisas. O mundo do petróleo está se sofisticando muito e os projetos estão ficando muito caros. Uma unidade de produção do pré-sal pode custar mais de US$ 1 bilhão, então como são os esquemas de financiamento dessas unidades? Como conseguir recursos financeiros para colocar essa plataforma, FPSO ou sonda no mercado a um preço competitivo? Esse é o primeiro ponto, e traremos bancos americanos, instituições de financiamento e bancos de fomento dos três países.

O que mais deve ser destaque?

A área de navegação também estará no foco, já que hoje a tendência é a construção de grandes navios. Daqui a uns dois anos, o Canal do Panamá poderá receber navios de calado maior, então muitas rotas de navegação mundial serão modificadas. Houston vai ficar muito privilegiada, porque é o maior porto próximo ao Canal do Panamá. Para se ter ideia, o Porto de Houston já passou Miami e Nova York como posto de cargas destinadas ao Brasil. É o porto com maior movimento de carga para o Brasil em todo o território dos Estados Unidos.

A mão de obra qualificada também é uma preocupação?

Sem dúvida. O segundo painel inclusive será todo voltado ao mercado de trabalho. Vamos debater como treinar mão de obra e como atrair os jovens para esse setor. É muito comum nas universidades eles não quererem trabalhar com óleo e gás, porque acham que é muito poluente, e isso vem acontecendo no mundo inteiro. Hoje querem trabalhar ou com informática ou com energias limpas, biocombustíveis, e o óleo e gás não atrai tanto. Então temos que mostrar a importância desse mercado, a empregabilidade e as estratégias de atração de talento para a área. Porque, se não, poderemos ter um vácuo de formação de mão de obra que afetará a indústria inteira.

Qual será o tema do último painel?

O terceiro painel será voltado a tecnologia, para discutir as principais tendências na construção naval, tanto para óleo e gás, quanto navegação. A tecnologia de transporte de GNL será um destaque. Hoje existem novas tecnologias muito interessantes que diminuem bastante o custo de manter o gás em estado líquido. O Brasil precisa muitas vezes do gás para as térmicas, então, quanto mais este mercado estiver líquido, mais benéfico será para os países que usam o insumo.

Como tem sido o contato das empresas brasileiras com o mercado americano e vice-versa no setor de óleo e gás?

O que tenho sentido é uma espécie de maturação das relações empresariais e comerciais com os EUA no setor de óleo e gás. Passou aquela fase em que as questões eram muito ligadas às rodadas de licitação. Hoje o Brasil disputa esse mercado com o mundo inteiro, com África, com Ásia, com o shale e tight oil, então o que vemos recentemente é um movimento mais de caráter industrial e de tecnologia. Tem muitas empresas americanas interessadas em ter operação no Brasil para aproveitar os projetos de óleo e gás do país, principalmente em relação ao pré-sal, e pelas regras de conteúdo local, que forçam um pouco elas a colocarem um pé de produção no país. Na OTC ficou muito evidente isso, as empresas buscando parceiros brasileiros com pacotes tecnológicos, principalmente na área subsea.

Quais são as ações do consulado em Houston para auxiliar esse intercâmbio?

Temos um grupo focado em óleo e gás, que eu gerencio, e a gente trabalha de maneira bastante diversificada. Primeiro fazemos a identificação de empresas americanas necessárias para o desenvolvimento do setor de petróleo brasileiro. Procuramos as empresas, marcamos reuniões, falamos sobre as oportunidades no Brasil e tentamos atraí-las para uma visita individual ou para as feiras no país. Se conseguimos ser bem sucedidos, marcamos encontros deles com empresas do Brasil, vemos se tem alguma que poderia fazer uma parceria, e então usamos o sistema da Onip e da Petrobrás para encontrar empresas que tenham interesses ou sinergias. Também fazemos eventos por aqui trazendo pessoas do Brasil, reunindo membros da indústria daqui com eles.

Também existe espaço para as empresas nacionais no mercado de petróleo americano?

Existe. Claro que aqui é um mercado muito competitivo, com muitas empresas produzindo, mas tem coisas, alguns nichos, que conseguimos encontrar, e auxiliamos as empresas para exportar para cá.

Pode dar algum exemplo?

Por exemplo, a produção de shale gas usa areias especiais, com certas características, para o fraturamento hidráulico, e o Brasil é um grande produtor desse tipo de areia. Então têm empresas do Brasil que conseguem vender para cá. Nosso grande concorrente é a China, que também produz muita areia, mas o Brasil consegue ser competitivo. Alguns tipos de válvulas também. E o terceiro ponto são alguns serviços ligados a tecnologia da informação. Temos algumas empresas brasileiras com serviços de ponta que estão conseguindo espaço aqui. Para trabalhar nos Estados Unidos, tem que ter visão de longo prazo, assistência técnica, tudo em inglês, equipe que conheça tecnicamente e fale bem inglês, para que a operação permaneça no tempo.

Como avalia a visão americana em relação ao mercado naval e de óleo e gás brasileiro?

O que vejo dos americanos é que ainda há um grande desconhecimento da diversidade do país, do tamanho. São muito focados em Rio e São Paulo, então tentamos ampliar essa visão, para Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, que também têm polos importantes. Eles se assustam um pouco com a legislação tributária e trabalhista no Brasil.

Quais são os pontos mais atraentes e quais podem ser melhorados?

Pode ser melhorado o conhecimento de inglês, que o Brasil ainda tem que desenvolver muito. Estar preparado para a questão cultural, entender a cabeça do empresário americano. Eles são sempre muito objetivos, gostam da coisa preto no branco. Quando se assina um contrato, ele tem que ser honrado até o final. Aqui é muito esquisito romper um contrato, fica muito feio. Então, se o empresário faz um contrato para fornecer um bem ou serviço por determinado preço, tem que cumprir. É importante negociar bem aquilo antes, para cumprir com o que foi combinado, se não fica queimado aqui. Isso tem que estar muito claro na cabeça do empresário brasileiro que for fazer negócio nos Estados Unidos.

Muitas empresas brasileiras têm reclamado da falta de grandes projetos no país, e estão buscando ampliar seus escopos para o exterior. Como está vendo a situação?

Concordo e acho que mereceria uma atenção maior no Brasil a expansão para outros grandes mercados de óleo e gás. Vou citar dois que vejo que os americanos estão muito focados hoje. O primeiro é o mexicano, que está abrindo o setor de petróleo e que esse ano deve aprovar toda a legislação para que estrangeiras possam operar lá. Com essa realidade, vai se abrir um grande mercado, tanto na porção mexicana do Golfo do México, quanto no onshore. Para toda a cadeia, não só os operadores, mas toda cadeia vai ser ampliada, e o Brasil tem uma boa relação com o México, um acordo automotivo muito forte com eles, então poderia olhar com mais atenção para lá. Outro mercado é o africano, especialmente Angola, Nigéria e os países localizados no lado oeste da costa africana, onde há uma perspectiva enorme de aumento da produção. O Brasil tem condições muito fortes de operar nesses mercados. Então são duas fronteiras interessantíssimas para a expansão da nossa atuação no setor de óleo e gás.

E nos EUA?

Temos uma tradição muito grande de epecistas e de grandes contratos. Tem grandes empresas atuando aqui, construindo, na área de infraestrutura. Então é uma questão de concentrar esforços e prospectar o mercado.

Tem informações sobre como está o andamento do projeto do gasoduto de Keystone, que ligará o Canadá a Houston?

Esse gasoduto ainda está numa fase de planejamento. Houve recentemente uma decisão do governo americano de solicitar mais informações sobre impactos ambientais dele. Há uma certa oposição aqui nos EUA, por parte de grupos ambientalistas, por criticas aos impactos ambientais que o projeto pode causar. Então o governo americano ainda está estudando. Tem muita gente que acha que vai acabar não saindo, tem outros que acham que vai ser inevitável, pelo crescimento do consumo americano. E o governo americano recentemente fez um adiamento no projeto, para ter mais informações e fazer o levantamento de dados em relação a possíveis impactos ambientais. Não deram prazo. Falaram que iam contratar estudos adicionais e quando estivessem prontos tomariam a decisão. 

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