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AUTORIDADES E ESPECIALISTAS DEBATERAM SOBRE OS CAMINHOS PARA DESTRAVAR ANGRA 3 E OUTROS PROJETOS NUCLEARES

DSC_nt2e-2025Apesar de muito promissor, o setor nuclear brasileiro ainda enfrenta enormes desafios que impedem sua plena expansão e desenvolvimento. Essa foi a constatação de autoridades políticas e especialistas de mercado que participaram, nesta terça-feira (20), do primeiro dia da feira NT2E 2025, realizada pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN), no Rio de Janeiro. Para o presidente da Frente Parlamentar da Energia Nuclear, deputado federal Júlio Lopes (foto), o Brasil comete um “desastre administrativo” ao não retomar imediatamente a construção da usina nuclear Angra 3.

Não há nenhuma forma de energia cujo crescimento e adaptação sejam tão grandes quanto a energia nuclear. É exatamente aqui onde devemos estar“, afirmou o parlamentar. Lopes reforçou que o país vive um momento positivo na economia, mas que ainda negligencia o setor nuclear. “Tivemos um crescimento de 1,2% no trimestre, acumulamos a oitava queda seguida do dólar. Mesmo assim, continuamos sem cuidar da retomada de Angra 3, o que é um equívoco nacional e internacional“, declarou.

DSC_0061Ele também lamentou a ausência de definição por parte do governo para retomar a construção da planta. “Na última reunião do CNPE, o ministro da Casa Civil saiu sem concluir a reunião e não marcou nova data. Já temos mais de 63% da obra concluída, com dezenas de equipamentos comprados, armazenados em Angra, gerando um custo mensal de cerca de R$ 100 milhões“, criticou.

Lopes destacou que o Brasil já acumula R$ 2,4 bilhões em novos passivos apenas no atual governo por não reiniciar a obra. Ele comparou a situação com a de outros países: “Na Finlândia, uma usina gêmea da nossa foi concluída em três anos e já gera 4% da energia do país.”

Por fim, o deputado fez um apelo direto ao governo federal, lembrando que o presidente Lula tem agenda no Rio de Janeiro nesta tarde. “Temos divergências, mas apoiamos o governo. Rogamos que decidam pelo reinício dessa obra. Concluir Angra 3 e o Reator Multipropósito é uma questão estratégica para o Brasil, para a nossa soberania e para os milhares de jovens formados por nossas escolas de excelência em energia nuclear“, declarou.

DSC_0052Seguindo essa mesma linha, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi (foto à esquerda), também defendeu a conclusão de Angra 3. Segundo ele, o país precisa aproveitar ao máximo esse ativo com segurança e por meio de uma gestão operacional sólida. O diretor da AIEA foi além e destacou ainda a importância do desenvolvimento da cadeia nuclear no Brasil.

Que o Brasil construa uma cadeia de suprimento robusta para alcançar o objetivo de ampliar o número de reatores nucleares e a infraestrutura de apoio necessária. Isso também inclui a manutenção de instituições regulatórias fortes, que garantam segurança, proteção física e salvaguardas nucleares. A AIEA oferece seu firme apoio nesse aspecto“, afirmou Grossi em uma gravação exibida durante o evento.

O diretor da AIEA disse ainda que o Brasil precisa aproveitar plenamente o potencial das tecnologias avançadas, como os pequenos reatores modulares (SMRs). “Para concretizar esses três objetivos, é preciso vontade política. É preciso um setor nuclear robusto“, concluiu.

EM MEIO A GARGALOS, INDÚSTRIA NUCLEAR CELEBRA AVANÇOS

DSC_0041Enquanto o mercado nuclear discute formas de destravar Angra 3, há avanços consideráveis em outros empreendimentos do segmento. É o que afirma o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Francisco Rondinelli (foto à direita). Ele recordou que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) já disponibilizou o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico para o setor nuclear, com o qual está sendo financiado o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB).

Rondinelli anunciou ainda uma nova parceria que será crucial para a futura operação do RMB. “Acabamos de assinar mais um contrato com a argentina INVAP para o projeto do laboratório de produção de radioisótopos, que é essencial para complementar o RMB. Ou seja, temos o reator sendo financiado, e agora também o laboratório que vai processar os radioisótopos para entregá-los às radiofarmácias. As duas instalações precisam operar de forma integrada“, contou.

O presidente da CNEN também disse que a entidade está dedicando esforços ao Centro Tecnológico Nuclear e Ambiental (CENTENA). “Já tivemos reuniões no Tribunal de Contas da União (TCU) e na Secretaria do Tesouro, e acredito que em poucos dias ou semanas teremos boas notícias sobre o equacionamento financeiro do projeto“, projetou.

O CENTENA é um centro de tecnologia nuclear ambiental, que vai abrigar o repositório definitivo de rejeitos de baixa e média atividade. Isso permitirá a transferência dos rejeitos gerados pelas usinas de Angra e por outras atividades nucleares no Brasil para um destino final apropriado, substituindo os depósitos intermediários da CNEN.

O PAPEL DA ENERGIA NUCLEAR

DSC_0026O diretor do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo, vice-almirante Celso Koga (foto à esquerda), frisou que o mundo atravessa um período de transformações profundas, em que a urgência da transição energética, as pressões ambientais e os avanços tecnológicos se entrelaçam, exigindo respostas integradas, maduras e estratégicas. Para ele, o Brasil, com sua matriz majoritariamente limpa e renovável, já ocupa uma posição de destaque nesse cenário.

No entanto, segundo Koga, esse protagonismo precisa ser reafirmado e ampliado, sobretudo diante dos novos desafios da nossa geração. Entre eles, destaca-se o crescimento acelerado da demanda energética global — um fenômeno impulsionado não apenas pelo desenvolvimento econômico, mas também por uma revolução silenciosa e contínua: a expansão da inteligência artificial, da automação e da infraestrutura digital.

Servidores, centros de dados e redes neurais consomem hoje volumes expressivos de energia, e as projeções indicam que esse consumo dobrará até o fim da década. A economia digital, em seu ritmo incessante, exige uma base energética robusta, previsível e sustentável. Nesse contexto, a energia nuclear revela seu valor com ainda mais nitidez“, avaliou.

Por fim, o almirante Koga destacou que a energia nuclear é uma fonte limpa, confiável, de alta densidade e capaz de operar de forma contínua, independente de fatores climáticos ou sazonais. “Ela não compete com as fontes renováveis — ao contrário, as complementa, oferecendo estabilidade e segurança ao sistema elétrico nacional. Ao integrar a matriz energética brasileira, a energia nuclear amplia nossa resiliência e nos coloca em melhores condições de enfrentar as exigências de um mundo cada vez mais digitalizado e descarbonizado“, finalizou.

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