UMA BOFETADA NOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS
Não há dúvidas de que a entrada de Pedro Parente na presidência da Petrobrás trouxe novos ares para a empresa e para o mercado. Seu histórico pela economia de mercado não é novidade. Em seus primeiros dias à frente da empresa, fez crescer a confiança de que as ações tomadas pela Petrobrás deram bons sinais e mostrou não ter preconceitos ao manter Ivan Monteiro como Diretor Financeiro da Companhia, mesmo com o executivo vindo do governo petista. Não se sabe ao certo as razões de Parente, mas a credibilidade de Monteiro no mercado contribuiu para a sua permanência.
O novo presidente vislumbrou uma empresa menor, mais enxuta, daí a voracidade do Plano de Demissão Voluntária, que vai tirar 19 mil funcionários da Petrobrás. Não é preciso ser um grande especialista para antever a gigantesca perda de memória e criatividade a que a empresa vai se submeter. Os melhores, e são muitos, terão espaço no mercado. Perseguidos pela política de desconfiança que imperou na gestão Bendine, esses talentos estão deixando ou já deixaram a companhia.
Uma empresa magra, com mais elasticidade, sem parecer um polvo, é a escolha. Vendeu-se o Campo de Carcará, a Petrobrás Argentina, 49% da Gaspetro, a Petrobrás Chile Distribuición e a malha de gasodutos do Sudeste. Negociam-se a BR Distribuidora, a Liquigás, a Transpetro, a Petroquímica Suape, a CITEPE e a participação na Braskem, fora os ativos de Biocombustíveis e Fertilizantes. O objetivo é focar na Exploração e Produção.
Tudo isso é compreensível. Mas a busca de se quebrar a política de conteúdo local, incentivada claramente pelo IBP – o Instituto Brasileiro do Petróleo, formado pelas grandes exploradoras e produtoras internacionais de petróleo, inclusive pela Petrobrás – é um ponto que merece maior cuidado. Não se pode fazer isso de qualquer maneira. Há muito que se colocar na balança. 12 milhões de desempregados, por exemplo, é um peso suficiente para se examinar se a quebra deste conteúdo é justo com os trabalhadores e a economia brasileira. Toda concorrência é importante, mas ela só é saudável quando a competição é justa e equilibrada. E neste particular, como agência reguladora, a ANP não pode se dobrar num momento crucial como o que estamos vivendo.
Em suas últimas entrevistas, coordenadas estrategicamente para O Globo, o Valor Econômico e a Folha de São Paulo, além de palestras na Fiesp e na Firjan, Pedro Parente usa um argumento que é tecnicamente justificável. Ao tentar contratar um FPSO, havia preços superiores em 40% aos preços internacionais. É crível que esta diferença seja real, mas apenas em alguns poucos equipamentos, e não no geral. Não se trata de protecionismo puro e simples, mas de um programa de fomento e desenvolvimento da indústria nacional, como todos os países de primeiro mundo fazem, a exemplo da Noruega, resguardando seus próprios mercados e sua capacidade industrial e tecnológica. Seja onde for. E por que no Brasil não pode ser da mesma forma?
Os empresários da indústria nacional se sentiram desprestigiados e alguns, ouvidos pelo Petronotícias, às raias da revolta, ao ouvirem as argumentações de Pedro Parente em recente palestra na Firjan. Consideraram um absurdo as argumentações. Para eles, a maior culpada do fracasso na execução dos FPSOs replicantes foi a própria Petrobrás, que contratou empresas tecnicamente incapazes de executar o serviço, além de contratar “estaleiros virtuais”. Nas recentes operações da Polícia Federal, ficou claro que a análise técnica foi deixada de lado e optou-se por outras diretrizes. Todos nós que acompanhamos o noticiário policial sabemos quais são.
A indústria nacional, na sua grande maioria, estava com boa performance. Os equipamentos estavam sendo entregues nas datas, assim como os módulos. Um ou outro pequeno atraso, mas todos entregues a tempo da se fazer a integração. Se a indústria nacional não é competitiva, por que quase todos os afretamentos foram entregues no prazo e dentro do custo, mesmo com a exigência de conteúdo nacional? E por que essa ânsia de retirá-lo a qualquer custo?
Façamos uma cronologia dos fatos: no governo FHC, quase todas as plataformas foram contratadas no exterior e o argumento passou a ser o de que a indústria nacional não tinha capacidade de construir plataformas com aquela complexidade. Com a P-52, o governo bateu o pé a necessidade de se construir aqui. E foi feito com muito sucesso. Vieram outras e mais outras, gerando-se milhares de empregos e revitalizando a economia. As empresas nacionais tradicionais conseguiram cumprir suas responsabilidades.
Com o cenário de muitos projetos, o governo cria a regulamentação do conteúdo nacional. As empresas sérias investiram em parcerias estratégicas, com empresas estrangeiras, trazendo para o país o que havia de melhor no exterior. Houve ampliação do parque fabril, treinamento e aperfeiçoamento. Não parece ser acertado mudar essas regras para atender a pressões de empresas internacionais. Que resposta o Ministério das Minas e Energia poderia dar às empresas que investiram milhões nesse desenvolvimento? Elas já passaram pela curva de aprendizado e teriam que passar por um vazio degradante, sem projetos aqui, jogando no lixo todo conhecimento adquirido a duras penas, mesmo cumprindo as rigorosíssimas exigências de QSMSRS. Algumas delas absurdas, como obrigar a servir tapioca aos trabalhadores no café da manhã; arroz servido a determinada temperatura no almoço; ou cumprir indecifráveis itens classificatórios para cadarços de botas a serem usadas pelos trabalhadores nas obras da companhia.
Esses níveis de exigência não são requisitados pela Petrobrás quando ela contrata obras no exterior. Tudo isso encarece o preço final. São tantas exigências a serem cumpridas que a impressão é que o empresário brasileiro tem um filho, não um funcionário. Na China, Malásia ou Singapura, mercados preferidos para se contratar navios, nada disso é cumprido. Uma das razões dessa diferença de preços. Depois de tantos investimentos em gestão de negócios, melhorias profissionais, treinamentos e tecnologia, ouvir palavras simples de que é mais barato contratar no exterior como uma solução de economia para a Petrobrás soa mais do que um desprestígio ao talento das empresas brasileiras. Soa como uma bofetada no rosto dos nossos empresários.
Graças às políticas sindicalistas exageradas e fora do bom senso que alimentam um plano político partidário de poder que resultam na fuga dos investimentos no país e como resultado para o lado social, o desemprego! O próprio partido do PT, através de seus cargos políticos na PETROBRAS por exemplo, quem levou para fora do país a montagem das plataformas, módulos e integrações, alegando dificuldades internas para construção! Lembrando que a principal dificuldade era o pagamento dos aditivos contratuais das empresas aqui no Brasil! A petrobras com a infeccionada pelo PT, faliu muito as empresas brasileiras! O próprio PT desempregou o… Read more »
FHC não contratou todas as plataformas fora do país, pois a P19/31/43/48/50 foram construídas no Brasil, e só não foram construídas mais plataformas porque o Nelson Tanure não quis vender o IVI Industrias Verolme ishibras para German Eframovichi na época, caso issso se concretizasse teriam sido realizadas P37/38/40/36 e outras mais.
Aos trabalhadores e empreendedores brasileiros, vai restar o que de pior tem no governo ilegítimo, mesmo que considerado legal: desemprego e quebra de empresas e empresários, com alienação do patrimônio nacional.
Infelizmente, os trabalhadores vão pagar a maior parte da conta que resultou da aventura da maioria dos empresários, em patrocinar o golpe parlamentar-midiático, que levou Temer ao poder.
Quanta asneira ! Sua presidenta e a quadrilha do PT destruíram a Petrobras com a ajuda desses mesmos empresários a que você se refere.
As atitudes do Pedro Parente frente à gestão Petrobras têm sido desastrosas. É o que dá colocar um financista como gestor de uma petrolífera. Vejamos as suas últimas propostas mexendo com o conteúdo local. Os países desenvolvidos por ocasião das descobertas petrolíferas Mar do Norte, com volumes pequeníssimos quando comparados aos de pré-sal, adotaram as seguintes e principais posturas: 1-Adoção do modelo de partilha: 2- Proteção da indústria local via conteúdo local; 3 – Criação de um fundo de desenvolvimento para ser usado pós esgotamento das reservas. Tudo isso lá funciona como também a democracia e legitimidade do voto popular.… Read more »
Tudo isso para salvar a Petrossauro e aqueles que mamam nessa teta entre eles politicos e funcionários.
Parabéns Luciano! Excelente texto. Vou repassá-lo toda vez que me deparar com um comentador que se julga expert em geopolítica tendo lido só as boçalidades de nossa mídia golpista. Vou citá-lo, obviamente.
Luciano, ótimo texto muito bem explicado, muitos são os “especialistas” do petróleo que fazem afirmações falaciosas, por oportunismo ou incompetência.
A nossa jurássica legislação, seja trabalhista ou tributária, remete à soluções em que a melhor saída seria fazer executar os serviços lá fora mesmo. Concordo plenamente que a Petrobrás deveria buscar executar os projetos e realizar as obras aqui, no entantanto quando vemos o arcadismo das nossas NR´s, que tergivessam até mesmo sobre cadarços de botas e a ridícula exigência do CA para macacões e outros equipamentos de uso pessoal, veremos ainda mais o aumento do desemprego e a fuga de profissionais de extrema competência e qualificação para o exterior.
Nao se preocupem vai ficar pior.
Brave New World…
Tenho esperança boas para a Petrobras com a nova direção, só gostaria que as mesmas exigências feitas aos empresários brasileiros fosse as mesma aos estrangeiros principalmente a China. Não se trata só de produtividade, eles não cumprem 1/3 das exigências trabalhistas que a empresa cobra no Brasil. É também não adianta contratar pelas empresas brasileiras e elas mesmos mandar fazer fora conseguindo menor custo, pelos os mesmo motivos. A nova lei trabalhista têm que passar pelo menor custo para o empregador isso é, até premiar com redução de impostos que mais empregar, um cidadão empregado significa lucro por governo, parado… Read more »
Todos os serviços comprados lá fora tiveram que ser refeitos pela Petrobras, pois não tinham qualidade nem a segurança para entrar em operação.
Muito bom o texto !
Gerou a discussão dos a favor e contra q contribuem para uma visão da sociedade brasileira de como devemos seguir !! Concordo com a necessidade de termos prioridade da indústria nacional nos investimentos e na redução de exigências trabalhistas exageradas para as empresas nacionais , assim como cobrar e fiscalizar no mesmo nível as contratações de fora!