BRASIL PRECISA ACELERAR PROGRAMA NUCLEAR PARA CONTRIBUIR COM METAS GLOBAIS
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
A demanda energética mundial nunca para de crescer e a geração nuclear tem ganhado cada vez mais espaço nos prognósticos da matriz global para os próximos anos, com a meta de representar 25% do total até 2050, mas é fundamental que todos os países contribuam para que os objetivos sejam atingidos. É o que diz o presidente do conselho da World Nuclear Association (WNA), Helmut Engelbrecht, que veio ao Brasil nesta semana para dar aula nos cursos promovidos pela Associação Brasileira de Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) e pela World Nuclear University (WNU).
O executivo considera que as decisões precisam ser tomadas pelos próprios países, a partir do desejo de suas sociedades e das ações dos políticos junto com a indústria, mas ressaltou que demanda energética existe e que o Brasil tem todas as condições para construir novas usinas. “Precisamos que todos os países contribuam, e o Brasil está muito bem posicionado para fazer a sua parte. A geração nuclear é segura e está disponível aqui, então é necessário um esforço para que todos se reúnam e decidam como podem servir aos consumidores da melhor forma”, afirmou.
Como vê a indústria nuclear brasileira a partir da WNA?
O Brasil usa energia nuclear desde a década de 80, e com certeza tem toda a infraestrutura necessária para ajudar no crescimento da participação da fonte na matriz do país. A associação está encorajando todos os países que busquem isso, porque, para atingirmos a meta de 25% de geração nuclear na matriz global em 2050, precisamos que todos os países contribuam. E o Brasil está muito bem posicionado para fazer a sua parte.
Qual a expectativa da participação brasileira nesse crescimento global?
Isso é a sociedade brasileira que precisa decidir. Mas o que com certeza é uma verdade para o Brasil é que a energia nuclear é a melhor solução que existe para as necessidades futuras do país, e a forma de usá-la é uma decisão nacional. Então, existem todas as bases necessárias para seguirem com esse plano, mas são os políticos e a indústria brasileira que precisam tomar essa decisão.
Qual percentual de participação da fonte nuclear na matriz do Brasil o senhor considera ideal?
Eu não tenho os detalhes da matriz brasileira, mas depende muito da localização, de aspectos econômicos etc.
Neste aspecto econômico, uma das questões é que a constituição brasileira não permite a participação privada em usinas nucleares. Ao mesmo tempo, o governo diz que não tem dinheiro para investir em novas usinas. Como vê a participação privada em usinas nucleares e qual o melhor caminho para lidar com esta questão?
Em última instância, a indústria e os políticos precisam servir aos consumidores. E eles são todos os indivíduos brasileiros. E todos os indivíduos desejam usufruir dos benefícios da energia elétrica, em condições seguras e confiáveis, sem preços exorbitantes e sem riscos de blackout. Então, os políticos e a indústria precisam agir de acordo com essas necessidades, se não estarão falhando com a própria população.
Como indiquei, a geração nuclear é segura e está disponível para o Brasil, então é necessário um esforço para que todos se reúnam e decidam como podem servir aos consumidores da melhor forma. Se isso incluirá controle privado, parceria público-privada ou outro modelo, esse é apenas um detalhe. Isso não é o foco do público, que quer ter sua necessidade atendida, com energia segura, confiável e a preços razoáveis.
Ainda assim, a partir do seu conhecimento global, qual o melhor modelo, ou o modelo que tem conseguido melhores resultados, ao redor do mundo?
Cada país tem suas próprias particularidades. E o mercado também muda. Por um tempo, o capital privado tinha questões com os valores exigidos para a construção de grandes usinas, mas, com os modelos de reatores menores, essa realidade mudou. O fundamental é criar as condições econômicas necessárias para viabilizar os projetos. Por exemplo, se realmente existe uma diretriz para evitar a emissão de gás carbônico na atmosfera, como é o caso da fonte nuclear, deveria haver mecanismos de apoio aos que estão gerando energia sem gerar esse impacto. Não se pode selecionar apenas uma ou outra fonte como eleitas e descartar outras.
Como avalia as decisões do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, em relação aos tratados ambientais, revogando medidas anunciadas no governo Obama, inclusive com incentivos ao carvão?
Não sei. É cedo para dizer e não vi nenhuma declaração clara de Trump em relação à fonte nuclear. Ainda assim, ele foi eleito para um mandato de quatro anos. Não estamos falando de questões para quatro anos, mas sobre o futuro do planeta. E a energia nuclear é infraestrutura. O investimento em uma usina nuclear tem um impacto que dura 60 anos. Neste tempo, pode-se ter Trump, X ou Y. De todo modo, trata-se de uma infraestrutura fundamental, como uma autoestrada, que serve à comunidade por muitas décadas.
O foco deve ser em encontrar as melhores soluções dentro desse panorama. Se você decidir subsidiar alguma coisa [como o carvão] apenas porque saiu de moda, está direcionando o dinheiro para o objetivo errado.
Em relação à aceitação pública da energia nuclear, que ainda é uma questão que encontra barreiras em alguns países, qual a melhor forma de lidar com o assunto?
A aceitação pública é uma questão muito local. Por exemplo, nos Estados Unidos, muitos estados são a favor da fonte nuclear, mas a Califórnia é contra; na Europa, a Alemanha se posicionou contra, mas o resto do continente é bastante a favor da nuclear. E, além disso, a Alemanha consome a energia nuclear gerada na França.
O público não compreende muito bem isso, mas o que ele quer no fim das contas é um abastecimento seguro de energia elétrica, sem o lado negativo do ar poluído, como tem acontecido na China. Então, quando essas questões ficam mais claras para todos, acredito que a aceitação é encontrada.
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