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BRASIL PRECISA DE 20 NOVAS USINAS PARA CONTRIBUIR COM META DE 25% DE FONTE NUCLEAR NA MATRIZ ENERGÉTICA MUNDIAL

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

Carlos-Mariz-239x300A World Nuclear Association (WNA) desenvolveu o programa Harmony, cuja meta é colaborar para que a energia atômica alcance uma fatia de 25% na matriz energética mundial até 2050. Assim, o planeta conseguiria atender sua crescente demanda por energia sustentável e limpa. Mas para tirar esse número do papel e torná-lo realidade, será preciso um esforço conjunto de várias nações, incluindo o Brasil. O conselheiro técnico da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), Carlos Mariz, calcula que o país deve construir até 20 novas plantas para contribuir com a meta do Harmony. O número aparenta ser desafiador, mas Mariz ressalta que ele é factível. “O país tem que avaliar o que é preciso, em termos de pessoal, formação e estrutura. Outros países já fizeram isso. É o caso de se estruturar e pegar a experiência de outras nações”, afirma. Os demais países também deverão concentrar esforços. Segundo dados da própria WNA, a taxa mundial necessária de novos reatores não é muito maior do que foi historicamente alcançado. Em 1984, por exemplo, o mundo acrescentou 31 GWe. Já para atingir as metas do Harmony, serão demandados 25 GWe por ano entre 2021 e 2025 e 33 GWe por ano entre 2026 e 2050. “Se analisar a quantidade de usinas que precisam ser construídas, verá que é uma meta possível, porém precisamos acelerar. Não podemos ficar no ritmo que está hoje. Por isso o programa Harmony é importante, porque desperta os países para esta questão”, concluiu Mariz.

Quais os impactos positivos para o mundo ao alcançar essa meta estabelecida pelo Harmony?

O que está acontecendo hoje no mundo, nas organizações de cunho ambiental em relação ao efeito estufa, é uma preocupação muito grande com a questão do aquecimento global. E hoje há mais ou menos um consenso entre os ambientalistas apontando que para atingir as metas ambientais, é praticamente impossível sem a presença significativa da energia nuclear. O caminho para se atingir isso seria marcadamente com uma combinação entre a energia nuclear e as fontes renováveis. A somatória destas duas faria com que pudéssemos ter uma atmosfera mais limpa.

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Nova marca do programa Harmony, apresentada recentemente pela WNA

A França, que tem um programa de eletricidade marcado pela nuclear, com quase 80% de participação, conseguiu limpar os ares de Paris e de suas cidades em geral quando impôs o programa nuclear. Há 20 ou 30 anos atrás, a poluição em Paris era imensa por conta da produção termelétrica. Mas essa mudança na matriz energética deu uma melhora significativa. Tanto é assim que o presidente francês, Emmanuel Macron, está incentivando a produção de carros elétricos na França. A França vai dar um grande exemplo ao mundo, porque limpará ainda mais a atmosfera da poluição de veículos, porque ela produz energia elétrica de forma limpa. Coisa que a vizinha Alemanha [que está desligando suas usinas nucleares] não vai conseguir fazer, porque as energias renováveis são intermitentes. Eles terão de lançar mão das usinas de carvão. E o carvão é a base de lignito,  que é ainda mais poluidor. A Alemanha está na contramão da história. Talvez, seja o único país do mundo que está substituindo a nuclear pelo carvão, quando na maioria dos países é ao contrário.

A meta do Harmony é factível?

Essa meta de 25% do Harmony é uma meta compatível com a questão de não subir a temperatura mais de 2 graus. Existem histórias de construção de usinas nucleares no passado. O programa francês teve num período muito curto a construção de várias usinas nucleares simultaneamente. A China tem um programa semelhante a este. Hoje, os chineses constroem uma quantidade enorme de usinas nucleares. Ou seja, a meta de 25% não parece nada absurda.

Considerando o ritmo atual de novas usinas, é preciso acelerar mais?

É preciso acelerar um pouco mais. Eu não fiz essa conta, mas falo por sensibilidade. Se analisar a quantidade de usinas que precisam ser construídas, verá que é uma meta possível, mas porém precisamos acelerar. Não podemos ficar no ritmo que está hoje. Por isso o programa Harmony é importante, porque desperta os países para esta questão.

Como vê a questão nuclear hoje no Brasil?

Levando em conta o tamanho do Brasil, suas reservas de urânio e sua necessidade de ter um crescimento de energia elétrica, o país tem um programa muito pequeno. Ou seja, proporcionalmente, estamos engatinhando. Quando fizemos Angra 1, a Coreia do Norte fez uma usina igual. Foi a primeira usina de ambos os países. A Coreia do Sul desde então fez mais 25 plantas, adquiriu tecnologia e a disseminou pelo país. Nós ficamos praticamente freados.

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Em 1984, o mundo acrescentou 31 GWe de energia nuclear. O gráficos em amarelo indicam os números necessários para atingir a meta do Harmony

Quantas usinas devem ser construídas no Brasil para contribuir com esta meta?

Fazendo uma conta rápida, em termos de Brasil, admitindo que vamos crescer, entre 2020 e 2050, numa taxa de 3% ao ano, chegaremos ao número de 20 novas usinas nucleares necessárias até lá, para que possamos contribuir com essa meta de 25% do Harmony.

Então, a decisão de construir essas novas unidades precisa ser tomada logo?

Uma usina nuclear demanda 10 anos para sua construção. Isso significa que teríamos que colocar 10 delas em operação entre 2030 e 2040 e mais 10 entre 2040 e 2050. Para tal, as 10 primeiras usinas precisariam ser construídas no período de 2020 e 2030. O país precisaria começar a decisão destes empreendimentos a partir de agora, sendo uma por ano. Isso é factível? Sim, mas é preciso que o Brasil se estruture. O país tem que avaliar o que é preciso, em termos de pessoal, formação e estrutura. Outros países já fizeram isso. É o caso de se estruturar e pegar a experiência de outras nações.

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Luciano Seixas Chagas
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Luciano Seixas Chagas

Os números ensejados para o Brasil são absolutamente cabalísticos, face o País possuir uma invejável diversidade energética com retornos maiores que o da energia nuclear. Isso não significa que o Brasil deixe de pesquisar e implantar novas usinas para conhecer a tecnologia e suprir necessidades futuras que certamente virão.