CAPACIDADE INSTALADA DA COGERAÇÃO DE ENERGIA NO BRASIL PODE CRESCER EM ATÉ 1 GW NO ANO DE 2024
Na edição de hoje (10) da série especial Perspectivas 2024, vamos entrevistar o presidente executivo da Associação da Indústria da Cogeração (Cogen), Newton Duarte. Ele faz um balanço do setor no ano de 2023, destacando que houve uma recuperação da energia exportada pelas usinas movidas a biomassa, especialmente por conta da boa safra de cana-de-açúcar. Além disso, ele avalia também que o segmento de cogeração a gás natural precisa de novas alternativas ao gás da Petrobrás. Já no biogás, Duarte enxerga que 2023 foi marcado por um forte desenvolvimento nas usinas que são alimentadas por essa fonte. “Essa tecnologia deve se proliferar em um grande número de usinas que estão enxergando no biogás e no biometano uma alternativa importante como o quarto produto dessa indústria, além do açúcar, do etanol e da bioeletricidade”, projetou. O presidente da Cogen também cita que a capacidade instalada na cogeração brasileira poderá crescer em até 1 GW durante 2024, de acordo com dados do setor. Por fim, ele também traz uma série de sugestões para ajudar o ambiente de negócios no segmento.
Como foi o ano de 2023 para sua associação e o seu segmento de negócios?
Para a maioria dos associados da Cogen, eu diria que 2023 foi um ano atípico. Primeiramente, em razão de haver uma fartura de energia oriunda da sobrecontratação por parte das concessionárias de energia elétrica e também por uma sobre oferta de energia das novas renováveis, sejam eólicas, sejam fotovoltaicas, com participação forte em regiões do país como no Nordeste.
No caso especificamente para a cogeração, no tocante às biomassas, o ano de 2023 apresentou uma certa recuperação da energia exportada, basicamente por conta da boa safra de cana-de-açúcar. Este ano, a produção de cana veio muito bem, depois de dois anos difíceis em que tivemos pouca exportação de energia por parte das biomassas, por conta de sucessivos fenômenos como a pior seca em 90 anos, incêndios e geadas que afetaram fortemente os canaviais. Em 2023, a cana veio forte, com massa vegetal abundante, e deveremos ter uma boa safra, em termos de açúcar e etanol, com recordes de esmagamento de cana-de-açúcar. Por conseguinte, vamos ter muita biomassa, que irá propiciar grandes excedentes de energia sendo exportados para o Sistema Interligado Nacional (SIN). Aliás, até outubro deste ano, constatou-se uma exportação de bioeletricidade 6% superior ao mesmo período de 2022.
Na cogeração a gás natural, precisamos de soluções e alternativas ao gás da Petrobras, que continua controlando o preço do gás nacional pelos parâmetros do gás importado — e faz isso porque tem de 70% a 80% do mercado do gás do País e por esta razão um preço dominante. Apesar da resiliência e da confiabilidade que a cogeração do gás natural propicia para o usuário, tem sido muito vantajoso comprar energia no mercado livre, considerando-se o preço atualmente praticado, não se preocupando nem com o horário de pico e nem com o custo das diferentes tarifas, porque o custo está extremamente vantajoso para o consumidor.
No caso do biogás, pudemos constatar um desenvolvimento superinteressante de plantas de biogás. Existe um grande número de usinas se preparando para fazer investimentos na produção do biogás, fruto do aproveitamento da vinhaça e de resíduos sólidos, como palha e torta de filtro. Essa tecnologia deve se proliferar em um grande número de usinas que estão enxergando no biogás e no biometano uma alternativa importante como o quarto produto dessa indústria, além do açúcar, do etanol e da bioeletricidade. São opções importantes, seja para a substituição do diesel, tanto em veículos usados no plantio e na colheita, como principalmente no transporte de cana. Em paralelo, a indústria automobilística vem desenvolvendo opções cada vez mais potentes para caminhões que façam uso do biometano com um custo de combustível muito inferior ao diesel. Ou seja, os clientes desse biometano economizam no diesel e melhoram a sua pegada de carbono, com importante impacto de descarbonização para as usinas.
Para a Cogen, o ano de 2023 foi especialmente importante porque comemoramos os 20 anos da associação. Cada vez mais contamos com a participação de excelentes empresas, empresas de renome e com alto impacto na sociedade brasileira em toda a cadeia da indústria: usinas de açúcar e etanol, fabricantes de equipamentos, investidores em sistemas de cogeração, integradores, empresas de engenharia, empresas distribuidoras de gás, distribuidoras de energia elétrica, geradores de energia elétrica, transportadores de gás, empresas que purificam o biogás para produzir o biometano, empresas de advocacia e fabricantes de papel e celulose.
Quais sugestões gostaria de passar para o governo ou para o mercado com o objetivo de melhorar as condições de negócios no Brasil?
Temos duas questões muito claras. Uma é que se permita que as usinas de açúcar e etanol (A&E) possam ter maior liberdade para negociar os excedentes da cogeração, acima da garantia física, também no mercado livre, uma vez que essa indústria já comercializa quase 70% da sua energia neste ambiente. Então, nosso pleito é que se deixe que esse excedente possa também ser comercializado no mercado livre em uma condição bilateral, dando a opção de uma liquidação ao Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), mas não cerceando somente para o PLD ou leilões regulados.
A portaria 564 de 2014, que limita a venda no mercado livre até a garantia física, pode representar um problema nos próximos anos, porque hoje, o que cada usina exceder de sua garantia física, é obrigada a liquidar a PLD, que está no patamar de R$ 70,00, ou seja, não remunera sequer o custo do bagaço da cana-de-açúcar.
Começamos a trabalhar nesse pleito desde 2018 e tivemos, à época, até uma sinalização positiva da Secretaria de Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia, mas, desde então, as sucessivas gestões não deram solução a essa questão. Chegaram a dizer que abririam uma consulta pública, mas até não ocorreu. Ao nosso ver, é preciso criar uma solução para que cada usina possa vender o excedente de sua produção também no mercado livre
A outra questão é reconhecer os atributos das fontes de uma maneira assertiva, de tal forma que a cogeração, especialmente a de gás natural e de biogás, possa ter o reconhecimento das suas vantagens para o setor elétrico e para o setor energético brasileiro.
Nossa expectativa é que o governo possa dar atenção a essas questões no próximo ano.
Quais são as suas perspectivas de negócios dentro do seu setor para este novo ano que está para começar e quais as perspectivas da nossa economia para 2024?
Ao longo de 2024, de acordo com estimativas oficiais da Aneel, deverá ser implantado 800 MW a 1 GW de capacidade instalada na cogeração de energia.
Também vemos como um ano para o crescimento do biogás, que traz uma perspectiva fabulosa, inclusive com as chamadas virtual power plants, onde se congregam várias pequenas cogerações, com um volume que possa fazer efeito para as distribuidoras de energia e o sistema elétrico. Você cria condições melhores de confiabilidade, porque é uma energia firme, resiliente e próxima do ponto de consumo.
Tenho expectativa de que tenhamos acesso a um gás mais competitivo, e com isso possamos dar à cogeração novas perspectivas de crescimento no país.
Com relação à economia brasileira, a perspectiva é de um crescimento de pouco mais de 2,0%, com o crescente consumo per capta de energia elétrica.
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