ENERGIA SOLAR NO BRASIL SÓ SERÁ MAIS BARATA EM 5 ANOS
Em agosto de 2011, Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) lançou uma chamada de Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Estratégico com o tema “Arranjos Técnicos e Comerciais para Inserção da Geração Solar Fotovoltaica na Matriz Energética Brasileira ”. O edital recebeu 18 propostas, das quais, 9 já se encontram em vias de contratação para início da execução, incluindo o maior investimento previsto, que será feito pela Tractebel Energia, estimado em R$ 60,8 milhões. Um possível barateamento da energia solar no país, já é previsto com boas expectativas, particularmente para geração distribuída. A queda dos custos abriria porta para os projetos de microgeração mas, apesar disso, só está previsto para daqui a, no mínimo, 5 anos. O pesquisador na área de financiamento da expansão do setor elétrico e integrante do corpo de pesquisadores do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEL) – UFRJ, Roberto Brandão, conversou com o repórter Estephano Sant’Anna e conversou sobre os desafios que a energia solar enfrenta para se firmar no país e no mundo.
Há possibilidades de que a energia solar se torne tão competitiva quanto a energia eólica no Brasil?
Bom, apesar da energia solar ter barateado nos últimos anos de forma significativa, ainda é uma alternativa muito cara para geração em grandes centrais. No caso da geração distribuída, junto ao centro de consumo a viabilidade já está mais próxima, pois a comparação é com o preço de energia cobrado pela distribuidora, que é mais caro que o cobrado por uma grande central. Ainda assim, temos que ressaltar que essa é uma alternativa muito incipiente no país, e até mesmo no mundo. Mas a geração solar fotovoltaica, sobretudo em ambientes de geração distribuída, tem grande potencial no médio prazo.
Isso favorece a distribuição de micro-energia no país…
É verdade. Mas apesar de muita gente ter um telhado apropriado para uma eventual instalação de placas solares, ainda não há regulação para a microgeração.
Tem algo sendo feito no Brasil em prol do desenvolvimento dessa alternativa?
Há várias movimentações importantes que podem para alavancar a energia solar no Brasil. No ano passado, a Aneel lançou um edital abrindo a utilização de verbas de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) disponíveis para agentes do setor elétrico, para projetos de geração solar fotovoltáica. Houve muito interesse e projetos com valor estimado em R$395 milhões foram apresentados. Isso é importante porque quando cria a demanda por equipamentos e serviços, além de mobilizar universidades e institutos de pesquisa… Esses projetos vão gerar, nos próximos anos, uma micro-cultura que contribuirá para o desenvolvimento dessa tecnologia no país.
Quanto tempo vai levar para que os custos se tornem mais acessíveis?
Os painéis solares baixaram bastante de preço nos últimos anos e a tendência é que este movimento persista em um futuro próximo, tornando a tecnologia cada vez mais competitiva. Mesmo assim a tecnologia ainda deve demorar um pouco a deslanchar no país. Isto por que o Brasil possui outras alternativas de geração a partir de fontes renováveis, como eólica, biomassa e hídrica que tem hoje custos bem menores.
Sobre os modelos de geração, qual é mais interessante para o Brasil e por quê?
A tecnologia solar térmica, de forma geral é usada em grandes centrais e, em princípio, é mais interessante para regiões com poucas nuvens. Essa é uma tecnologia que depende de luz direta do sol e baixa nebulosidade ao longo do ano, situação que é difícil de encontrar no Brasil. É um modelo utilizado em locais como o Texas, por exemplo, onde há pouquíssimas nuvens ou no sul da Espanha. Já a tecnologia fotovoltaica é melhor adaptada às condições brasileiras e se presta melhor à geração em pequena escala.
Os maiores investimentos quanto a energia solar estão no nordeste do Brasil?
O potencial solar do Nordeste Brasileiro é conhecido. Entretanto quase todo o Brasil tem condições favoráveis. Os projetos a serem desenvolvidos com verbas de P&D da Aneel estão razoavelmente bem dispersos pelo país.
O Brasil tem tecnologia para armazenar energia?
O armazenamento de energia gerada por fontes não controláveis, como a eólica e a solar é uma questão desafiadora do ponto de vista tecnológico. Varias técnicas de armazenamento vem sendo testadas ao redor do mundo. Mas felizmente o Brasil já tem uma grande capacidade de armazenar energia de forma barata através da retenção de água nos reservatórios das hidroelétricas sempre que há mais energia natural disponível. Por isso, a estocagem de energia de fontes não controláveis não chega a ser um problema crítico no Brasil.
E quanto a leilões de energia solar? Acha que é possível no Brasil?
É uma opção para o futuro. Hoje seria precipitado. Não existem ainda as condições para que haja competição em leilões para tecnologia solar. Ainda não há players de porte instalados e o custo da energia ainda não parece atrativo.
Qual a perspectiva da GESEL em relação a todo esse panorama?
Estamos empolgados com relação à abertura da Aneel quanto aos projetos para a [energia] solar. Empresas de todo o país se inscreveram e vários projetos pequenos, paralelos uns aos outros, vão movimentando o setor exatamente no momento em que os preços caem e se cria a expectativa de marco regulatório para geração solar. A proposta da Aneel é, definitivamente, um marco na história desse setor, no país. Entre 5 e 15 anos, esperamos que a energia solar se difunda, particularmente para geração distribuída.
Bom dia, eu fico pensando se algum aparelho fosse capaz de transformar diretamente a energia solar em ar frio assim como um ar condicionado, seria um salto enorme para o Nordeste, já que esta matéria existe em abundância na região. Será que ainda estamos muito longe disso?