CHEGA AO FIM O COMANDO DO ALMIRANTE BRASILEIRO À FRENTE DA COALIZÃO INTERNACIONAL CONTRA TERRORISTAS NO MAR VERMELHO
Chegou ao fim o comando brasileiro na força-tarefa de uma coalizão internacional com o objetivo de dissuadir, interromper e suprimir a pirataria nas principais rotas marítimas mundiais, que englobam o Golfo de Áden, a Bacia da Somália, o Mar da Arábia e o Mar Vermelho. Desde o fim de janeiro, essa grande responsabilidade ficou sob o comando do contra-almirante brasileiro Antônio Braz de Souza, que concedeu uma entrevista exclusiva ao Petronotícias. Ele estava à frente da força-tarefa desde quando os terroristas Houthis, do Iêmen, passaram a atacar os navios comerciais que cruzavam a área de atuação da coalizão. Hoje, os navios e submarinos nucleares ainda fazem as patrulhas e tem o controle da região. Os terroristas, alimentados pelo Irã e pela Coreia do Norte, já não conseguem intimidar, mas isso não significa que a força da coalizão relaxou em suas patrulhas. O Contra-Almirante Antônio Braz de Souza, que deixou o comando da coalizão no dia 24 de julho, relatou sobre a sua responsabilidade ao liderar esse trabalho e a experiência que vai trazer para os militares brasileiros, principalmente para os altos oficiais da Marinha brasileira. Agora, ele voltará ao Brasil neste mês para comandar a Primeira Divisão da Esquadra.
Almirante, como foram esses seis meses de trabalho numa experiência única para um militar brasileiro?
A missão de fato foi uma oportunidade única. A possibilidade de atuação em uma força-tarefa combinada, hoje composta por 44 países membros (atualmente a maior coalizão de países do mundo), propôs um cenário de pluralidades como nenhum outro. Embora estejamos focados na atividade de antipirataria, pelo comando da força-tarefa Combined Task Force (CTF) 151, a troca constante de informações, a colaboração de meios em atividade direta e auxiliar e a integração junto a outras organizações, focadas em um resultado comum, criou um ambiente de experiências ímpar ao nosso trabalho. Embora o comando na força-tarefa seja relativamente curto, a possibilidade de crescimento profissional, dado ao elevado grau de conhecimento necessário, demonstrou-se como o principal fator nessa missão.
Como está o cenário no Mar Vermelho, no Estreito de Bab-el-Mandeb?
A região já é conhecida, estratégica e economicamente, como uma via crucial para o transporte marítimo, com forte atuação geopolítica e com forte impacto na economia global. Embora constantemente monitorada, a região continua apresentando um cenário de conflito, com forte atuação de forças não estatais, com ataques por lançamento de mísseis e meios aéreos e de superfícies não tripulados (drones). Esses ataques perduram até os dias atuais.
O que mudou? O que fez os terroristas Houthis pararem os ataques?
No geral, não houve mudanças no cenário da região. Os históricos de ataques podem, inclusive, ser acompanhados pelos infonotes do Joint Maritime Information Center (JMIC), na página da UKMTO: https://www.ukmto.org/indian-ocean/jmic-products/jmic-infonote/2024
– O senhor acredita que o Irã deixou de abastecer com armas os terroristas porque as forças de coalizão estancaram as rotas de fornecimento?
– A julgar pela continuação dos ataques, provavelmente os Houthis devem estar sendo abastecidos por outras rotas.
– Quantas embarcações e quais países estão envolvidos nas forças da coalizão?
– Por ser uma coalizão de vontades, em que cada estado membro fornece os navios e profissionais de acordo com suas possibilidades e intenção estratégica, a quantidade de meios varia constantemente. As forças de coalizão possuem hoje em torno de 20 a 30 navios de guerra, de cerca de 10 nacionalidades diferentes, atuando na área de operação da Combined Maritime Force (CMF).
– Qual foi o momento mais crítico que o senhor passou no comando?
– Em janeiro, no mês de assunção do meu comando, sendo o período com uma maior incidência de pirataria. Desde novembro de 2023, quando houve o ressurgimento da atividade de pirataria na região, contabilizamos 46 atividades piratas na nossa área de atuação, sendo 17 só no mês de janeiro.
– Como e quantos os brasileiros envolvidos estiveram nesta missão?
– Tivemos 12 militares brasileiros atuando na CTF 151, compondo as atividades de Estado-Maior.
– O que o senhor traz de experiência desta missão e o que pode ser levado para outros oficiais graduados da Marinha brasileira?
– Com uma área de operação de mais de 3,1 milhões de milhas náuticas quadradas, uma quantidade limitada de meios e uma ressurgência na atividade pirata na região, a maior experiência obtida foi a de como gerenciar as informações e controlar os navios sobre apoio direto a força-tarefa, em uma coordenação contínua com outras organizações, de forma a obter o melhor aproveitamento possível de todos os meios, desconflitando áreas de patrulha e coletando dados de interesse à coalizão.
– Há alguma previsão de voltar ou de ter navios de guerra da Marinha do Brasil nesta coalizão agora?
– A Marinha brasileira busca constantemente o incremento da Consciência Situacional Marítima (CSM) com vistas a cumprir a sua missão. Nesse sentido, a possibilidade de um intercâmbio de um meio operativo em um ambiente tão complexo e dinâmico certamente contribui para ampliar a CSM, preparar e especializar o pessoal, bem como aprimorar a técnica militar voltada para a defesa naval e a cooperação à repressão aos ilícitos no mar. Desse modo, há um estudo para considerar os diversos fatores necessários ao emprego de um meio naval, assim como aconteceu com todas as contribuições já disponibilizadas pela Marinha do Brasil.
– Quando o senhor vai se apresentar e onde aqui no Brasil?
– Minha apresentação será este mês, no Comando da 1ª. Divisão da Esquadra.
Deixe seu comentário