CHEIA DE UM RIO EM WINSCOSIN CAUSA EROSÃO EM TERRAS INDÍGENAS E DEIXA EM PERIGO OLEODUTO DA LINHA 5 DA ENBRIDGE
ORLANDO – Por Fabiana Rocha – Ninguém ficou satisfeito com a decisão da semana passada do juiz William Conley (foto abaixo, à direita), de Wisconsin, que decidiu dar três anos, até junho de 2026, para que a gigante canadense Enbridge retire a parte do oleoduto da Linha 5 da Reserva Indígena de Bad River. Os reguladores estaduais dizem que estão progredindo em uma revisão ambiental dos planos da Enbridge para realocar a Linha 5, já que o juiz federal ordenou o fechamento parcial do oleoduto. A linha 5, construída em 1953 dá muito lucro para a Enbridge, mas também da uma dor de cabeça daquelas. Parece uma enxaqueca. Isso porque em Michigan, a companhia canadense também enfrenta outro grande problema com o mesmo oleoduto. O governo local mandou fechar a Linha 5 porque um trecho dela que está sob o Lago de Michigan já sofreu dois acidentes com âncoras de navios, que por muito pouco não se transformaram em uma tragédia ambiental sem precedentes. A Linha 5 transporta até 23 milhões de galões de petróleo bruto leve e líquidos de gás natural por dia ao longo de uma extensão de 1.038 quilômetros, desde Superior, ao norte de Wisconsin, passando por Michigan até Sarnia, em Ontário, no Canadá.
Em 2020, a empresa de energia canadense propôs redirecionar o seu oleoduto depois que a Bad River Band, do Lago Superior Chippewa, processou a empresa para fechar e remover o oleoduto de terras tribais. A Enbridge quer construir um novo segmento de 30 polegadas que percorreria 66 quilômetros ao redor da reserva da tribo nos condados de Ashland e Iron. Um projeto estimado em pelo menos US$ 450 milhões. O Departamento de Recursos Naturais ( DRN) de Wisconsin está revisando a declaração de impacto ambiental para o plano de reencaminhamento, bem como analisando o pedido da empresa para licenças de vias navegáveis e em pântanos.
Ben Callan (foto à esquerda), gerente da seção de serviços de integração da agência, disse que é o máximo que ele viu em quase duas décadas gerenciando projetos de serviços públicos e de energia: “É complexo, é controverso e há muito interesse das partes interessadas nele. Estamos tentando garantir que estamos cumprindo nossas responsabilidades por nosso papel na divulgação e revisão da proposta.” Callan disse que o DRN está colaborando com as agências federais e o Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA no pedido da Enbridge, que foi arquivado em conjunto com reguladores estaduais e federais. A versão final da revisão ambiental será usada para decidir se as licenças estaduais serão finalmente emitidas para o projeto.
Os engenheiros do Exército também estão analisando o pedido da Enbridge para a construção de um túnel sob o lago de Michigan para passagem do oleoduto. Para isso, ela está estimando usar a tecnologia brasileira da empresa Liderroll para cruzar sete quilômetros de um túnel com um grande declive e um grande aclive. O Corpo de Engenheiros do Exército está regulamentando as atividades relacionadas à esta construção e também a alternativa de cruzar 66 quilômetros de tubulação fora das terras tribais, em Winsconsin. A agência federal está preparando sua própria avaliação ambiental para o projeto, que os reguladores disseram que determinará a necessidade de uma declaração federal de impacto ambiental.
Nem Enbridge nem a Bad River Band estão completamente satisfeitos com a decisão do juiz. O advogado da tribo disse que a janela de três anos deixa Bad River “vulnerável a catástrofes”, já que as enchentes da primavera aumentaram a erosão perto do oleoduto. Enquanto isso, a empresa contesta que esteja invadindo as terras da tribo e planeja apelar da decisão. Paul Eberth (foto à direita), diretor de envolvimento tribal da Enbridge nos EUA, disse que a empresa acredita que é muito possível que as agências concedam licenças para seu projeto no prazo de três anos do juiz. Ele afirmou que a companhia comprou tubos e garantiu acordos de todos os proprietários de terras ao longo de sua rota preferida. “Estamos prontos para remover as operações do oleoduto da reserva, mas acreditamos que a Band deve e é obrigada a continuar trabalhando conosco nas operações seguras até que o oleoduto possa ser realocado.”
O presidente do Bad River Tribal, Mike Wiggins Jr. disse que proteger a casa da bacia hidrográfica é de extrema importância. “As atividades da Enbridge e seu redirecionamento proposto estão em áreas muito sensíveis onde as águas superficiais e subterrâneas interagem. Portanto, o atual redirecionamento proposto é muito, muito problemático. Está na hidrologia da tribo”, avaliou. A empresa continua a fornecer informações sobre o projeto ao DRN e ao Corpo de Exército, mediante solicitação. Eberth disse que Enbridge acredita que o DRN completará sua declaração de impacto ambiental até o final do ano. No entanto, Callan disse que a agência não tem um cronograma para concluir sua revisão. Em uma parada em Superior, o governador democrata Tony Evers disse que é muito cedo para dizer se ele apoiaria o redirecionamento proposto por Enbridge ou a decisão do DNR em relação às licenças para o projeto.
Em um comunicado, a diretora do Sierra Club Wisconsin, Elizabeth Ward (foto à direita), disse que a Linha 5 derramou 33 vezes e pelo menos 1,1 milhão de galões ao longo de seu comprimento desde 1968. “Pura e simplesmente, não se pode confiar no Enbridge com este envelhecido oleoduto, que há muito sobreviveu à sua expectativa de vida”, ponderou. O governo canadense invocou um tratado de 1977 com os EUA que garante o fluxo de petróleo e gás natural através da fronteira como parte do caso da tribo para fechar o oleoduto. As autoridades canadenses também invocaram o tratado em uma contestação legal separada em Michigan, buscando fechar a Linha 5 nos Grandes Lagos.
A Enbridge diz que o fechamento da Linha 5 pode resultar na perda de milhares de empregos e bilhões de dólares em perda de produção econômica no Upper Midwest, bem como aumentar os custos de combustível em cerca de US$ 20 milhões por ano em Wisconsin e $ 30 milhões anualmente em Michigan. O congressista republicano Tom Tiffany, escreveu em um comunicado: “A Linha 5 não é apenas vital para os mais de 250.000 residentes de Wisconsin que dependem do propano para aquecer suas casas, mas também para a economia do nosso estado. Tudo isso poderia ser resolvido se o Departamento de Recursos Naturais aprovasse a permissão de realocação da Linha 5, mas o DRN do governador Evers está em suas mãos há mais de três anos. Os moradores de Wisconsin merecem mais”. Enquanto a revisão do estado está pendente, a Enbridge propôs colocar sacos de areia ao longo das margens do rio Bad para retardar a erosão perto da Linha 5. O Conselho Tribal do Rio Bad rejeitou uma licença para esse projeto, dizendo que não atende aos padrões de qualidade da água da tribo. A empresa também propôs a instalação de árvores ao longo da margem do rio, dizendo que espera que a tribo aprove o projeto.
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