CHEMTECH PLANEJA TRAZER PESQUISA DE SETORES INTERNACIONAIS DA SIEMENS PARA O BRASIL
Por Daniel Fraiha / Petronotícias
A Chemtech, adquirida pela Siemens há 12 anos, foi uma das empresas aprovadas na primeira fase do programa Inova Petro, criado em conjunto pelo BNDES, pela Finep e pela Petrobrás, com previsão de investir R$ 3 bilhões no financiamento de projetos de pesquisa e desenvolvimento para o setor de óleo e gás até 2017. A empresa está com dois projetos, sendo um na linha 2 e outro na linha 3 do programa. O primeiro deles é um sistema de monitoramento de risers, que seria acoplado às estruturas para avaliar suas condições ao longo do tempo. O segundo é um software para gestão de poços, que será capaz de processar grandes quantidades de dados e apontar as melhores direções na hora da tomada de decisão. O diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Chemtech, Roberto Leite, contou que o mercado maior deve ser o de águas profundas, por apresentar mais oportunidades, mas afirmou que poços maduros também são possíveis alvos do segundo projeto. A área de P&D da empresa está crescendo a passos largos e em breve poderá contar com seu centro tecnológico no Rio de Janeiro. Leite contou ainda que o plano da companhia é atender a clientes mundiais no médio prazo e trazer pesquisa de setores internacionais da Siemens para o Brasil futuramente.
Quais os projetos aprovados na primeira fase do Inova Petro?
São dois projetos que submetemos nessa primeira etapa. Um deles é um sistema de monitoramento de risers, que inclui o hardware e o software, com sensores acoplados nos risers para processar diversos dados. Já fazemos uma parte deste sistema, mas para águas profundas a parte subsea é fornecida por empresas de fora. Já este será um sistema 100% nacional. O segundo projeto é um software para gestão de poços; um sistema para monitorar a produção de um poço, a partir de dados coletados de diversas fontes, com uma base de dados muito grande, com processamentos estatísticos, para tomadas de decisão.
O sistema de monitoramento poderá trabalhar com qualquer tipo de riser?
Pretendemos fazer um sistema genérico que atenda a qualquer tipo de riser. O monitoramento de risers é uma atividade crítica numa plataforma de produção, porque toda produção passa por ali, e eles estão submetidos a um estresse mecânico contínuo. Então, por mais amarrada que a plataforma esteja, ela sempre se movimenta, e as instalações são feitas para durar 20 anos. Por isso é tão importante monitorar a integridade dos risers, para garantir que não haverá a interrupção da produção ou um acidente ambiental.
Qual a importância da gestão do poço?
A produção de petróleo não é homogênea nem contínua, cada poço tem um petróleo diferente, e mesmo em um único poço, o petróleo vai mudando ao longo do tempo, com o aumento no teor de água dele. Então a gestão desse poço é muito complexa e também muito importante.
Quanto a Chemtech pretende levantar de investimento para cada projeto?
Ainda vamos fazer o plano definitivo, mas nessa primeira etapa, que entregamos uma carta de intenção, com um cálculo ainda não detalhado, estimamos um investimento total de R$ 15 milhões nos dois projetos. Mas agora vamos fazer um plano de negócios e um plano de projeto detalhado e esses números serão revisados.
Há parcerias envolvidas?
Ainda não estabelecemos todos os parceiros, mas alguns já foram identificados, como a Coppe/UFRJ, que já é nossa parceira constante e estará cada vez mais presente nos nossos projetos, e também com a EMC, que será nossa parceira para o sistema de gestão de poços, que exigirá a manipulação de grandes massas de dados.
Vocês pretendem formar parceria com alguma operadora para os projetos?
Queremos formar uma parceria com uma operadora, para termos uma segurança de que vai haver um mercado para os produtos que vamos desenvolver. Então gostaríamos de desenvolver esses projetos em parceria com os potenciais clientes, para que tudo seja feito de uma forma a atendê-los realmente, com a definição por parte deles das especificações necessárias para cada projeto.
Os sistemas pretendem competir com os estrangeiros já existentes?
Queremos ter um preço competitivo e estamos buscando uma solução de alta qualidade, melhor do que as que têm sido oferecidas no mercado. Além disso, outra vantagem competitiva da solução é o conteúdo local, que tem sido uma característica constantemente buscada.
Os desenvolvimentos são pensados mais para altas profundidades e para o pré-sal?
Acho que o potencial econômico maior é para grandes profundidades, mas os dois podem ser usados para águas rasas e para águas profundas. Talvez para o sistema de gestão de poços haja mais mercado em águas rasas. Já o monitoramento de risers é particularmente crítico em águas profundas. Porque eles estão submetidos a ambientes mais adversos, com maiores tensões. A gestão de poços é muito importante também em poços maduros, que estão mais presentes em águas rasas.
Qual o prazo de desenvolvimento dos projetos?
O cronograma do programa prevê que a próxima etapa se encerra no dia 5 de abril, quando vamos entregar o plano de negócios e de projeto. Eles vão avaliar as propostas e a resposta deve sair em alguns meses. São 31 projetos a serem analisados, mas imagino que no segundo semestre, se recebermos a aprovação, começaríamos o desenvolvimento. Ainda vamos detalhá-los, mas a partir deste início devem levar dois anos mais ou menos para a conclusão. Serão umas 15 pessoas em cada projeto pelo nosso lado, sem incluir os parceiros.
Quais são os maiores desafios envolvidos nos projetos?
Todo projeto de P&D é desafiante, porque estamos sempre trazendo novas tecnologias, trabalhando com parceiros novos, além de serem projetos multidisciplinares. Vamos pesquisar diversos tipos de sensores diferentes para o monitoramento dos risers, vamos trabalhar junto com a UFRJ, em diversos laboratórios, então juntar vários grupos traz uma complexidade maior.
A Chemtech vem aumentando o numero de projetos de tecnologias voltadas para subsea. É um desejo da empresa desenvolver esse campo como um de seus focos?
Com certeza. O offshore com certeza e o subsea em particular. Tivemos até recentemente muito projetos onshore, mas o Brasil não vai construir mais muitas refinarias, não vemos muitas novas oportunidades onshore, então a maioria deve surgir no mercado offshore. Uma possível exceção é o mercado de gás, com o crescimento do gás não convencional, mas é muito novo ainda.
Vocês pretendem entrar nesse mercado de gás não convencional?
Fizemos uma parceria com Gas Energy para fazer estudos de viabilidade econômica e estudos de engenharia. O gás é uma coisa muito promissora, mas o que coloca esse segmento mais no futuro são dois motivos. O primeiro é que o Brasil ainda não tem uma tecnologia de gás, ainda está muito no início do desenvolvimento desse mercado, diferente do offshore, onde somos líderes. E outro é que o pré-sal está drenando a maioria dos recursos a curto prazo para seu desenvolvimento.
Em que fase está o centro tecnológico da Siemens/Chemtech no Fundão?
O prédio está ficando pronto e devemos nos mudar em breve, mas ainda não temos uma data marcada. O investimento total no centro é de US$ 50 milhões e 800 pessoas vão atuar lá. Os objetivos são desenvolver novos produtos e serviços para atender inicialmente a clientes locais e, no médio prazo, clientes mundiais. Além de trazer pesquisa de setores internacionais da Siemens para o Brasil, envolvendo pesquisadores da Chemtech e da academia brasileira. Além disso, esse modelo de fazer P&D através de parcerias é uma coisa que já temos praticado e pretendemos fazer cada vez mais. Já estamos fazendo parcerias com empresas de lá (instaladas na Ilha do Fundão – RJ), antes de nos mudarmos.
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