CLASSE POLÍTICA REAGE CONTRA A IDEIA DE ABANDONAR ANGRA 3 E DIZ QUE É INADMISSÍVEL NÃO CONCLUIR AS OBRAS DA USINA
O novo membro do conselho da ENBPar, Nelson Hubner, causou consternação e muitas reações no mercado de energia e no mundo político no início desta semana. Conforme noticiamos ontem (26), Hubner, que já foi ministro interino de Minas e Energia entre 2007 e 2008 no segundo mandato de Lula, recorreu à imprensa para falar de suas prioridades agora na função de conselheiro da ENBPar (estatal que controla a Eletronuclear e a Itaipu Binacional). Para surpresa de muitos, ao invés de apresentar ideias construtivas, ele afirmou que uma de suas metas pessoais é convencer o presidente Lula a abandonar o projeto de concluir Angra 3. A fala, claro, causou muitas reações. Hoje (27), o Petronotícias abre seu noticiário trazendo as repercussões desse caso, ouvindo o presidente da Frente Parlamentar Nuclear, deputado Júlio Lopes (PP-RJ). Para ele, é inaceitável que o Brasil cogite a ideia de não concluir a construção da usina nuclear. “Estamos em pleno desenvolvimento da obra e é importante lembrar que o custo para descomissionar o que já foi construído é quase igual ao custo para concluir a usina. Então, fica claro que não faz sentido nenhum abandonar a obra”, declarou. “É inadmissível pensar em não terminar Angra 3”, acrescentou o parlamentar. O Petronotícias também entrevistou o Secretário de Estado de Energia e Economia do Mar do Rio de Janeiro, Hugo Leal, que reafirmou que Angra 3 terá um papel fundamental para o aquecimento da economia fluminense. “A estimativa de geração de empregos durante a construção de Angra 3 gira em torno de 5 mil vagas diretas, além de outras 20 mil indiretas. Ou seja, é uma atividade industrial importantíssima para o estado e o Rio de Janeiro não pode abrir mão disso”, apontou. Leal também criticou duramente as falas de Hubner. “Uma pessoa com esse currículo que faz uma declaração como essa acaba depondo contra o seu próprio passado. Eu acho que o presidente Lula deveria selecionar melhor os seus assessores. Nós precisamos saber qual a voz está prevalecendo no governo: se é a do ministro Alexandre Silveira, que já afirmou que Angra 3 será concluída, ou se é a do Nelson Hubner”, declarou.
Deputado Júlio Lopes, o senhor poderia compartilhar com nossos leitores a sua opinião sobre as recentes declarações de Nelson Hubner, que defendeu o abandono das obras de Angra 3?
Julio Lopes – Em primeiro lugar, eu lamento muito essas declarações. Acho que essas falas foram, no mínimo, precipitadas. Estamos em pleno desenvolvimento da obra e é importante lembrar que o custo para descomissionar o que já foi construído é quase igual ao custo para concluir a usina. Então, fica claro que não faz sentido nenhum abandonar a obra.
O Nelson Hubner citou ainda o custo de geração de energia por Angra 3. No entanto, é preciso lembrar que esse valor citado por ele [de R$ 750/MWh] aloca todas as ineficiências que prejudicaram o projeto. Infelizmente, a obra de Angra 3 sofreu descontinuidades e interrupções ao longo desses anos, gerando assim custos extras. No entanto, esse custo adicional não é da energia nuclear propriamente dita. Na verdade, é um ônus da ineficiência brasileira e da descontinuidade das nossas políticas de Estado.
Eu acho que é preciso mais profundidade e um exame de muito mais responsabilidade na hora de discutir a energia nuclear no Brasil. É inadmissível pensar em não terminar Angra 3.
Agora, gostaria que o secretário Hugo Leal também comentasse as declarações do ex-ministro Hubner.
Hugo Leal – A usina de Angra 3 já recebeu, até aqui, investimentos de cerca de R$ 7 bilhões. Por isso, não faz sentido desperdiçar todos esses recursos já aplicados na obra. Além disso, até onde eu saiba, nós não trocamos de ministro de Minas e Energia. Quem comanda a pasta ainda é o Alexandre Silveira, que esteve em maio na Câmara dos Deputados e afirmou, peremptoriamente, sobre a continuidade das obras de Angra 3.
Durante a audiência de Silveira na Câmara, ele afirmou que o custo para a conclusão das obras de Angra 3 até 2029 gira em torno de R$ 20 bilhões. No entanto, o custo para desmobilização daquilo que já foi construído será de cerca de R$ 13 bilhões. Ou seja, abandonar as obras de Angra 3 vai exigir um gasto de R$ 13 bilhões para que, no final das contas, o país deixe de gerar 1,4 GW de energia nuclear limpa e segura. Então, acho que uma simples análise revela que é muito mais produtivo concluir as obras da usina.
O conselheiro da ENBPar Nelson Hubner já foi ministro interino de Minas e Energia e também diretor-geral da Aneel. Uma pessoa com esse currículo que faz uma declaração como essa acaba depondo contra o seu próprio passado. Agora, é importante dizer que o Brasil é governado dentro do regime de presidencialismo, que tem um Ministério de Minas e Energia que é responsável pelas políticas públicas na área de energia. Eu acho que o presidente Lula deveria selecionar melhor os seus assessores. Nós precisamos saber qual a voz está prevalecendo no governo: se é a do ministro Alexandre Silveira, que já afirmou que Angra 3 será concluída, ou se é a do Nelson Hubner.
Como está a movimentação política em Brasília para demonstrar a importância da conclusão das obras de Angra 3?
Julio Lopes – Estamos demonstrando aos membros do Congresso Nacional e àqueles que estão à frente do Poder Executivo a importância do setor nuclear e as enormes possibilidades que o Brasil tem nesse segmento. O Brasil pode atuar, por exemplo, no desenvolvimento de novas tecnologias, como os reatores de pequeno porte, em parceria com a França ou a Rússia. Além disso, o país tem uma tecnologia extraordinária na área de produção do combustível nuclear. Assim, o Brasil tem potencial de ser fornecedor de combustível para os Estados Unidos, por exemplo. Os americanos possuem 56 usinas nucleares com 93 reatores e precisa de muito combustível nuclear.
É interessante notar que não estamos falando apenas de uma obra de energia. O Programa Nuclear Brasileiro trará consigo todo um avanço em muitas áreas das nossas ciências e tecnologias. Descontinuar o programa nuclear seria um atraso em todo o avanço conquistado pelo setor até aqui.
Especificamente falando do ponto de vista da economia do Rio de Janeiro, qual a importância de concluir a obra de Angra 3?
Hugo Leal – É importante dizer que Angra 3 é fundamental para o Rio de Janeiro. O estado já sofreu com o esvaziamento da indústria naval e, obviamente, isso impactou a indústria do Rio de Janeiro como um todo. A geração de empregos que Angra 3 trará para o Rio de Janeiro precisa ser entendida e respeitada. A estimativa de geração de empregos durante a construção de Angra 3 gira em torno de 5 mil vagas diretas, além de outras 20 mil indiretas. Ou seja, é uma atividade industrial importantíssima para o estado e o Rio de Janeiro não pode abrir mão disso.
Independente dessa importância estratégica industrial e econômica, a usina de Angra 3 tem uma relevância na matriz energética do país. A Central Nuclear de Angra dos Reis está desempenhando um papel crucial na segurança do sistema elétrico nacional há várias décadas. Diante de todos esses fatos, eu entendo que é totalmente racional a conclusão de Angra 3.
A Frente Parlamentar Nuclear está mobilizando-se para tentar fazer um contraponto às declarações de Hubner e apresentar os benefícios da conclusão de Angra 3?
Julio Lopes – Com certeza. Desde o início da frente parlamentar, estamos trabalhando no sentido de mostrar ao governo o quão é importante, necessário e estratégico, recomeçar a obra de Angra 3 com a máxima urgência. O mundo inteiro já vê a energia nuclear com uma energia limpa, de alta potência e de muita estabilidade. São características que fazem todo o sentido para o sistema elétrico brasileiro. O país precisa de perenidade, constância e fornecimento ininterrupto – e quem pode prover todas essas qualidades é a energia nuclear.
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