COMEMORANDO 57 ANOS, SOBENA VÊ NOVO ÂNIMO PARA INDÚSTRIA NAVAL BRASILEIRA NO SETOR OFFSHORE
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
A indústria naval nacional, que tem passado por momentos difíceis, deve ter um novo ciclo de contratação a partir da demanda futura do setor offshore. Esta é a avaliação do presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena), Luis de Mattos (foto). O executivo diz que as mudanças regulatórias recentes trouxeram um impacto positivo para o óleo e gás, o que refletirá também na retomada de negócios. “Estamos sentindo um novo ânimo para a engenharia naval no setor offshore”, declarou Mattos. Na visão do presidente da entidade, uma das possibilidades está no mercado de descomissionamento de plataformas. Mas ele ressalta que também existem oportunidades para a área de extensão de vida útil destas unidades. “Se a opção for pelo descomissionamento, serão gerados serviços para estaleiros e empresas de desmonte. Mas caso a opção seja a extensão de vida útil, os contratos irão para empresas de manutenção e serviço de engenharia. Acho que haverá negócios para todo mundo”, projetou. Enquanto isso, a Sobena está comemorando 57 anos de existência e, para celebrar, realizará amanhã (1°), no Rio de Janeiro, um evento para festejar a data. Na oportunidade, haverá uma palestra do Diretor de Desenvolvimento da Produção e Tecnologia da Petrobrás, Rudimar Andreis Lorenzatto, e uma homenagem ao diretor da Petrosul, João Alberto da Costa Difini.
A Sobena está comemorando mais um ano de existência e gostaria que começasse falando desse momento especial para a entidade.
A Sobena é uma entidade sem fins lucrativos. É uma sociedade técnica e seus associados são de diversos segmentos. O nosso objetivo é discutir a construção naval, promovendo o debate e o conhecimento, sempre voltados à tecnologia. Ao longo dos 57 anos de existência da instituição, já aconteceram vários booms da construção naval e várias crises também. E a Sobena permaneceu. O curioso é que em época de crise, os profissionais se unem mais para discutir. É na hora da crise que as pessoas param para analisar e refletir.
Passamos por uma crise muito severa, mas hoje o país está com uma agenda positiva. As empresas e os executivos estão mais animados. Então, existe muita possibilidade de crescimento. E não podemos cometer os mesmos erros do passado. Por isso, neste momento, a Sobena é importante por ser um fórum neutro de debates. Existem grandes desafios tecnológicos e precisamos ter trocas de experiências e de ideias para não incorrer nos mesmos erros do passado.
Como será o evento de comemoração?
Esse evento será especial, pois teremos o Lifetime Achievement, que é um prêmio para engenheiros que se destacaram ao longo de suas carreiras. O homenageado deste ano será o Dr. João Alberto da Costa Difini. Ele é o fundador da Petrosul e também um dos fundadores da Sobena. Além disso, também teremos um key speaker, que será o Diretor de Desenvolvimento da Produção e Tecnologia da Petrobrás, Rudimar Andreis Lorenzatto. Será interessante ouvi-lo neste momento em que a Petrobrás está se reposicionando. Temos uma perspectivas de vários novos FPSOs aqui no Brasil e isso movimentará o mercado.
Pode nos antecipar também as próximas ações e eventos da Sobena nesta reta final de ano?
Neste ano, teremos ainda o Seminário Hidroviário da Sobena, que já acontece há mais de 20 anos. Ele é o maior seminário sobre navegação interior na América Latina. Esta edição será realizada em Brasília. O evento é dividido em duas partes: a primeira delas é destinada a discutir estratégias para as hidrovias brasileiras; e a segunda é mais técnica, onde as pessoas apresentam seus artigos. Já temos mais de 100 papers inscritos.
Teremos também o Seminário de Náutica, que acontecerá no Iate Clube do Rio de Janeiro. Esta será a terceira edição deste evento.
Haverá ainda o Seminário de Meio Ambiente Marinho e Eficiência Energética, que está em sua 12ª edição. É um evento bem tradicional que já está na agenda dos profissionais. Nesta edição, teremos uma palestra bem bacana da OceanPact, que está trazendo uma tecnologia nova para o Brasil.
Além disso, temos agora uma revista científica. São dois editores-chefes: um é o professor Jean-David Caprace, da UFRJ, e outro é um professor da Universidade de Tóquio. Quando você publica trabalhos nessa revista, eles contam para doutorado e mestrado. É uma revista científica de nível internacional. Isso é único no Brasil.
Qual sua avaliação sobre o momento da indústria naval no Brasil?
A engenharia naval é dividida em vários segmentos. No segmento de petróleo/offshore, as coisas estão melhorando. Essa agenda positiva que está sendo conduzida pela ANP, com um calendário de leilões, anima as pessoas a investirem. Tem também o fato da Petrobrás não ser mais a operadora única do pré-sal. Todas essas medidas trouxeram um impacto muito positivo para o setor. Isso está trazendo novos players. Essas novas empresas vão precisar contratar no Brasil e, a partir disso, a engrenagem começará a rodar. Estamos sentindo um novo ânimo para a engenharia naval no setor offshore. É lógico que ainda estamos “machucados”. As empresas ainda estão se recuperando. Muitas coisas do passado ainda precisam ser resolvidas nas empresas. Mas, tecnicamente, as companhias brasileiras são muito capacitadas e, agora, precisam se preparar para o novo mercado.
E quanto ao mercado de cabotagem?
Neste mercado, precisamos discutir mais. Existe a ideia de abrir a cabotagem de vez [para empresas internacionais]. Mas é preciso ter cuidado, porque isso não existe em lugar nenhum do mundo. Então, é preciso entender como as empresas brasileiras estão funcionando. Elas têm alguns custos que uma empresa estrangeira não terá. O governo ainda não bateu o martelo e isso ainda está sendo discutido. São decisões que não podem ser precipitadas. Temos que estudar primeiro. É importante entender que os setores de cabotagem e construção naval geram muitos empregos diretos.
Existe uma pressão para que isso avance rápido. Porque precisamos escoar nossa produção. Mas, por outro lado, muitas empresas se instalaram no Brasil, acreditando no país. É necessário avaliar o impacto sobre elas. Na verdade, as empresas brasileiras estão prontas para competir internacionalmente. Mas elas precisam ter as mesmas condições.
Recentemente, a Sobena realizou um workshop sobre descomissionamento de plataformas. Poderia nos falar da visão da Sobena sobre o futuro deste mercado?
Na verdade, há duas oportunidades distintas. Você pode optar pelo descomissionamento como também optar pela extensão de vida útil. Em determinado momento, as operadoras terão que decidir sobre o destino das plataformas antigas. Acho que as empresas vão tomar decisões diferentes neste sentido, gerando serviços para diversas companhias ligadas ao setor naval. Se a opção for pelo descomissionamento, serão gerados serviços para estaleiros e empresas de desmonte. Mas caso a opção seja a extensão de vida útil, os contratos irão para empresas de manutenção e serviço de engenharia.
Acho que haverá serviço para todo mundo. Algumas plataformas serão descomissionadas e em outras vai valer a pena fazer a extensão da vida útil. Isso vai depender da análise econômica.
Em relação ao descomissionamento, parece haver muita esperança, mas pouca iniciativa. Passado o seminário/workshop, pouco se evoluiu nessa matéria. Talvez fosse interessante haver um espaço para oportunidades de projetos de descomissionamento no portal da SOBENA.