COMITÊ FORMADO POR EMPRESAS DA ÁREA OFFSHORE DEFENDE AUMENTO DA PESQUISA APLICADA PARA O SETOR
Por Paulo Hora (paulo.hora@petronoticias.com.br) –
Com o objetivo de estudar o efeito do movimento de balanço não linear de FPSOs, cujas particularidades hidrodinâmicas ainda não são completamente compreendidas, membros do Comitê Offshore para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (Copedi) idealizaram o projeto JIP Non Linear Roll, lançado em outubro de 2013. Segundo a coordenadora do comitê, Flávia Rezende, é preciso mudar a cultura das empresas do Brasil, que investem pouco em pesquisa. Ela considera que a academia brasileira se destaca na pesquisa fundamental, mas, sem a parte aplicada, que cabe à indústria, esse conhecimento não proporciona inovação. O Copedi foi criado em 2011 para promover discussões sobre projetos de alta tecnologia.
Que tipos de projetos o Copedi já desenvolveu, desde que foi criado, há três anos?
O Copedi nada mais é que um fórum onde as empresas discutem sobre temas de interesse para o desenvolvimento offshore no Brasil com o objetivo de colaborar na condução de projetos de P,D&I. O Copedi não tem o objetivo de desenvolver projetos, mas sim de identificar demandas e promover parcerias em torno de interesses comuns. Nessas conversas, foi idealizado o JIP Non Linear Roll, que estuda o efeito do movimento de balanço não linear de FPSOs. O projeto está sendo executado por Bureau Veritas, Sintef e Coppe e conta com a participação de 19 instituições e estrangeiras. Os estudos começaram em outubro de 2013.
Quais são as atuais discussões no comitê?
Uma proposta recente da Bureau Veritas, juntamente com Unicamp, Sintef e a empresa 2H Offshore, é o JIP Free Pipe, que está em fase de divulgação, com expectativa de início em 2015. Essa pesquisa vai observar o fenômeno da vibração nos vãos livres de dutos submarinos. As técnicas para minimizar esse efeito são caras e difíceis de ser implementadas em campos profundos e remotos.
Como você avalia o atual estágio da pesquisa de base e em tecnologia aplicada no Brasil?
Obviamente estamos longe de países europeus, como Noruega, Holanda e França, mas há uma evolução. Até pouco tempo, as pesquisas ficavam restritas à academia ou ao Centro de Pesquisa da Petrobrás. As empresas privadas começam a participar mais, porém muito pouco. É uma questão cultural que deve ser superada, passando por um processo longo para convencê-las de que pesquisa é investimento em inovação, que leva a aumento de competitividade.
O financiamento do governo é essencial para pesquisas em alta tecnologia ou as empresas poderiam investir mais nisso por conta própria?
O financiamento é fundamental, pois, juntamente com a academia e a indústria, faz parte do tripé que sustenta as pesquisas que visam à inovação. O Brasil já estabeleceu leis de incentivo para a pesquisa. Cabe às empresas dar o próximo passo. Precisamos eliminar esse conservadorismo.
De que forma isso pode ser estimulado?
Eu acredito que a colaboração divide custos e riscos e viabiliza projetos ambiciosos, devendo ser buscada independentemente de leis que obriguem ou incentivem o investimento. A empresa faz a pesquisa aplicada, enquanto a academia faz a pesquisa fundamental. São elos de uma mesma corrente. Se os estudos ficam restritos à academia, como ainda ocorre no Brasil, forma-se um grande conhecimento científico, mas sem inovação.
A regra que estabelece a obrigatoriedade de que os recursos da exploração do petróleo sejam usados para financiar as atividades de P&D tem sido suficiente para atender à demanda do setor de pesquisa?
Sim. A verba é bastante grande, principalmente a parte da Petrobrás. Dependendo do contrato, exige-se aplicação mínima de 50% dos recursos em instituições de pesquisas e os outros 50% podem ser utilizados dentro da própria empresa. Esse incentivo é importante, mas não é a única fonte possível. O JIP Non Linear Roll, por exemplo, é financiado por empresas que não possuem obrigação de investimento, mas que acreditam nos benefícios do projeto para suas atividades.
O atual panorama da Petrobrás tem dificultado a situação das empresas fornecedoras de tecnologia para as atividades offshore?
Não tenho esse receio. Houve uma redução de investimento em pesquisa por parte da Petrobrás, mas, mesmo assim, os recursos são altos. Por isso, não vejo esse fato como impedidor. O que dificulta é a questão cultural de não se apostar no resultado de longo prazo dos projetos de pesquisa, que levam entre um ano e um ano e meio para se concretizarem. A Petrobrás é importante, mas não é a única potencial participante.
Que demandas na área de tecnologia a indústria offshore tem apresentado?
Dos setores mais discutidos no Copedi, que são os de Flutuantes e Ancoragem, Dutos Submarinos e Equipamentos Submarinos, observa-se demanda para as atividades de desenvolvimento em campos remotos, águas ultraprofundas e ambientes corrosivos, além de processamento submarino, garantia de escoamento e logística.
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