CONSÓRCIO KERUI-MÉTODO QUER PRIORIZAR PAGAMENTOS ATRASADOS ÀS EMPRESAS CHINESAS QUE ESTÃO NA UPGN
A paralisação das obras da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Comperj pelo consórcio formado pela chinesa Kerui e pela brasileira Método Engenharia trará consequências graves e ainda não há a real dimensão do estrago que provocará na cadeia de fornecimento do mercado de petróleo e gás do Brasil. O documento feito pelo consórcio e enviado ao seus fornecedores, que traduzido para o português comum, significa um “devo não nego pago quando puder”, sacudiu pelo colarinho as empresas brasileiras que participam do projeto de construção da UPGN, fornecendo equipamentos e serviços, e apavorou as companhias nacionais que já são credoras da obra. Na matéria que publicamos na segunda-feira (11), falamos da Metasa, uma tradicional empresa fornecedora de estruturas metálicas, que admitiu que tem alguns milhões a receber, mas não quis revelar o real valor. Assim como ela, há uma cadeia de empresas fornecedoras que já vinha trocando as pernas em função da crise imposta pela Operação Lava Jato, que deixou o setor zerado de encomendas. E para piorar a situação, a Kerui, que é líder do consórcio, determinou que a prioridade para pagamentos é para as empresas fornecedoras chinesas e estrangeiras.
Um exemplo disso foi o pagamento de US$ 30 milhões de dólares feito ao estaleiro tailandês BJC Shipyard (foto à direita), referente ao custo dos Skids para as obras da UPGN. O BJC disse que só entregaria esses skids se o pagamento fosse feito antecipadamente. Os skids já estão a caminho do Brasil, mas alguns deles estão incompletos, segundo uma fonte do Petronotícias. Um novo baque deste tipo pode significar a falência destas empresas brasileiras, o agravamento do desemprego e a perda da memória técnica do conhecimento de pequenas, médias e grandes companhias nacionais.
Outro grande prejuízo é para a própria política planejada pelo governo. O programa do gás barato, exaltado pelo Ministro Paulo Guedes, tropeçou logo aos dez minutos do primeiro tempo. Os campos do pré-sal continuam queimando ou reinjetando o gás nos poços. Um prejuízo incalculável com o desperdício de energia. O problema é estrutural e não há como não colocar o peso de mais esse insucesso nos ombros da Petrobrás. Foi ela que estudou para saber quanto custaria a retomada da UPGN. A estatal se fixou em R$ 2 bilhões. O mercado falava que custo seria bem mais do que isso. Mas até aí, tudo bem. É a voz do mercado de compra e
venda. Mas a Petrobrás acatou o preço de R$ 1,94 bilhão proposto pela Kerui. Saber que esse valor era inexequível estava a um passo. Parecia óbvio para todos. Ainda mais para uma empresa que liderava um consórcio e que jamais tinha feito uma obra daquela envergadura. Com um fator agravante: ela não estava começando do começo, como se diz. Estava dando continuidade a uma obra que já tinha sido paralisada. Estava na cara que as empresas iriam dar com os burros n’água. Era pedra cantada dentro do mercado. E olha que depois de escolhida, as empresas tiveram que esperar cinco meses até que o contrato fosse assinado. Tempo suficiente para que houvesse um novo estudo e a constatação de que, com aquele orçamento, as coisas não iriam dar certo. Talvez tivessem apostado na velha tática dos aditivos. Isso mudou, pelo menos.
Para lembrar, a política na época da escolha da Kerui era de desconfiança dos fornecedores da Petrobrás. A ferida da Lava Jato ainda estava aberta. Era preciso o rigor do rigor. Mas o resultado desse rigor, hoje, é uma obra parada, com dívidas a uma cadeia de fornecedores que sofrem com esta inadimplência. O remédio matou o doente. Mais uma vez, a verdade estava com o mercado. Isso é incontestável. A obra era inexequível com o valor contratado.
Agora, a Petrobrás está num mato sem cachorro. Dificilmente o consórcio voltará para a obra. Ele já admitiu que deve há muitas empresas, que não consegue performar. O que a Petrobrás fará? Vai financiar o consórcio? Dificilmente a Flúor, segunda colocada na licitação, vai pegar a obra. Teria que fazer pelo preço da primeira colocada. Impossível. Vai licitar novamente para fazer a conclusão? Mais atraso. Menos ganho. Neste caso, o prejuízo menor, talvez, seja financiar a obra para a própria Kerui-Método. Se isso é possível, também não sabemos. São as conjecturas.
Uma providência que deve ser urgente para se fazer na Petrobrás é um mea culpa. A Petrobrás, através de sua diretoria, deveria obrigar o consórcio a priorizar os pagamentos das empresas brasileiras ao invés das estrangeiras. Talvez isso fique na responsabilidade do Diretor de Exploração e Produção, Carlos Alberto Pereira de Oliveira (foto à direita), já que a diretoria de Engenharia e Serviços foi extinta. As Empresas precisam receber, pois acreditaram e investiram na compra de matérias-primas para cumprir seus contratos. É um dever de justiça com elas. Preservar os empregos aqui, num mercado extremamente abalado pela falta de credibilidade. Em caso contrário, será um caos.
O Petronoticias procurou falar com as empresas, mas não tivemos respostas.
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