CONSTRUÇÃO DE ANGRA 3 AVANÇA E COMEÇAM PREPARATIVOS PARA FASE DE MONTAGEM | Petronotícias




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CONSTRUÇÃO DE ANGRA 3 AVANÇA E COMEÇAM PREPARATIVOS PARA FASE DE MONTAGEM

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

José Eduardo da Costa Mattos

José Eduardo da Costa Mattos, superintendente de construção de Angra 3

O ritmo das palavras pronunciadas pelo superintendente de construção de Angra 3, José Eduardo da Costa Mattos, segue a mesma velocidade que a Eletronuclear vem tentando impor às obras da nova usina nuclear brasileira. Ofegante, ansioso e entusiasmado, é a figura que toca o andamento do megaempreendimento em Angra dos Reis, na Região da Costa Verde Fluminense, e também a que bem representa a situação por ali. Depois de sucessivas revisões no cronograma, com atrasos gerados por diversos fatores – uns externos, outros internos –, a estatal se empenha para tentar cumprir o novo prazo de entrada em operação comercial: 31 de dezembro de 2018. Agora, ao menos o contrato de montagem eletromecânica já é um fato e as atividades para o início desta etapa já estão sendo desenvolvidas. O resultado até o momento é que a construção superou a marca de 50% de realização física, com algumas unidades mais avançadas que outras, como é o caso da esfera de contenção, que já beira os 70% de finalização.

Costa Mattos é enfático ao falar sobre a nova data estipulada para a entrada em operação: “É perfeitamente viável. Acreditamos nesse cronograma”, e aos poucos se anima ao detalhar os avanços, explicando as funções de cada estrutura dentro da usina que vai ganhando cada vez mais forma.

A própria montagem eletromecânica já foi feita em alguns itens onde ela era necessária para o prosseguimento das obras civis, mas a parte principal está prevista para ser iniciada no começo de 2015.

Temos algumas unidades de serviços de montagem feitos, como é o caso da esfera de contenção, assim como de alguns componentes isolados que já estão montados, como pontes rolantes do prédio da turbina, transformadores, e outros componentes”, afirma.

Angra 3

Canteiro de obras de Angra 3

Por enquanto, a predominância nas obras é de operários com uniformes da Andrade Gutierrez, que toca a parte civil da usina, e atualmente conta com 1.681 funcionários no local. Além deles, circulam pelos canteiros outros 97 empregados da Confab e 161 do consórcio Angramon – que reuniu os dois grupos vencedores dos pacotes de montagem, formados pelas empresas EBE, Techint e Queiroz Galvão, inicialmente responsáveis pelos serviços associados aos sistemas nucleares, e Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Corrêa e UTC Engenharia, que eram responsáveis pelas obras dos sistemas convencionais. A previsão é que esse número atinja o pico em junho de 2015, quando devem estar trabalhando nas obras mais de 5 mil pessoas.

O último dos contratempos foi um imbróglio entre a Eletronuclear e a Andrade Gutierrez, em função de atrasos no licenciamento nuclear emitido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear. Como as aprovações foram emitidas em etapas separadas, a Andrade alegou que vinha tendo prejuízo com a espera pelas autorizações para a concretagem de estruturas nos prédios de segurança. Chegou a reduzir o efetivo de trabalhadores no local de 2.365 para 668 empregados, mas, depois de quase quatro meses de negociações, um novo acordo foi selado e a empresa se comprometeu a retomar o ritmo acelerado das obras. Costa Mattos diz que os pleitos da Andrade não foram atendidos, mas que mesmo assim ela aceitou voltar ao trabalho, sob ameaça de ter o contrato rescindido.

Tivemos um problema de relacionamento contratual. Houve uma redução muito significativa do número de trabalhadores na obra, tendo sido tratado de uma maneira, vamos dizer assim, unilateral por parte deles. Nós não aceitamos essa condição, ameaçamos a suspensão contratual, e a partir de então houve um restabelecimento nas relações regulares, com comprometimento de um processo de aceleração das obras civis, que permitirá a manutenção desse cronograma. Essa aceleração já ocorreu. Hoje temos mais de 1.600 homens da construtora na obra e a expectativa é que até junho do próximo ano esse número chegue a cerca de 5 mil pessoas”, diz.

O contrato inicial com a Andrade foi assinado em 1983 e desde então recebeu cerca de 15 aditivos. No último, em 2009, o contrato chegou ao valor de R$ 1,25 bilhão, sendo que atualmente a realização das obras civis está em 58,3%.

A aceleração é realmente uma necessidade da Eletronuclear, que precisou fazer não só revisões nos cronogramas, mas também nos orçamentos. O último cálculo feito pela empresa estimava o preço final da usina em R$ 13,9 bilhões. Um empreendimento que, atualmente, faz cada vez mais falta o Brasil, tendo em vista a crescente crise energética nacional.

Paulo Werneck

Paulo Werneck, assistente de operação da Eletronuclear

Neste ano, por conta da falta de chuvas no país, o nível dos reservatórios das hidrelétricas já atingiu índices mais baixos do que os de 2001, quando houve a última grande crise elétrica no Brasil. O ano ficou marcado pelos apagões, mas nem todos lembram que foi o mesmo momento em que a usina de Angra 2 começava  operar. Em fevereiro de 2001 foi dada a partida da operação comercial da segunda unidade nuclear brasileira, com uma potência de 1.350 MW.

Na visão do assistente da superintendência de coordenação da operação da Eletronuclear, Paulo Werneck (foto à esquerda, abaixo), com 38 anos de história na empresa, essa nova geração foi fundamental para que o sistema elétrico da região Sudeste, principalmente o Estado do Rio, não fosse o centro de uma crise energética muito maior. “Angra 2 foi o que nos salvou”, diz.

A tendência do planejamento energético brasileiro, inevitavelmente, é ampliar a participação da geração térmica no país, já que o potencial hidrelétrico nacional deverá se esgotar entre 2025 e 2030. Com isso, a geração nuclear vem sendo há tempos apontada por especialistas como uma das melhores opções para a matriz brasileira, tendo em vista que as usinas ocupam pouco espaço físico e não geram emissões de gases poluentes, como é o caso do carvão e do óleo combustível. Além disso, o Brasil possui uma das maiores reservas de urânio do mundo, atualmente apontada como a sexta da lista global, mas previsões do segmento indicam que podemos saltar para o segundo lugar, caso novos levantamentos sejam feitos.

Esse ritmo de crescimento da participação térmica na geração nacional, apesar de ainda muito falado como se fosse relativo ao futuro, já é uma realidade. Para se ter uma ideia, enquanto a complementação térmica em 2000 respondia por apenas 6,26% da geração do país, em 2013 esse número chegou a 25,89%. Em 2014 deve ser ainda maior, em função da situação complicada dos reservatórios e ao fato de as termelétricas estarem ligadas desde o início do ano, praticamente sem intervalos.

Angra 1 e 2

Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto

Enquanto isso, os operadores da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, que engloba as usinas de Angra 1, 2 e 3, trabalham com a potência no nível mais elevado das duas unidades em funcionamento, ao mesmo tempo em que os responsáveis pela obra da terceira trabalham em ritmo intenso. A necessidade de fortalecer o sistema elétrico é tanta, que há algum tempo os operadores descobriram inclusive que a capacidade máxima das usinas é maior do que a que estava registrada nos documentos oficiais.

O superintendente adjunto de operação de Angra 2, Anselmo Carvalho, conta que foram trocados alguns equipamentos de medição da geração e a partir dali perceberam que os números antigos respondiam pela operação das usinas a 99% da potência e não ao topo da capacidade. Com isso, apesar de oficialmente Angra 1 poder gerar 640 MW e Angra 2, 1.350 MW, na última quarta-feira (19), a primeira estava gerando 643 MW e a segunda 1.380 MW.

Agora, a expectativa é ganhar todo o tempo possível para incluir Angra 3 na conta do Sistema Interligado Nacional o mais rápido que se consiga. Além disso, muitas discussões paralelas vêm tentando mostrar ao governo a urgência de aprovar novos projetos de geração nuclear no Brasil, que tem no horizonte um cenário cada vez menos firme em relação à segurança energética.

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