CONSULTOR ALERTA QUE MODELO DE CONTRATAÇÃO DE FPSOs DA PETROBRÁS AUMENTA CUSTOS E REDUZ ARRECADAÇÃO DE PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS | Petronotícias




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CONSULTOR ALERTA QUE MODELO DE CONTRATAÇÃO DE FPSOs DA PETROBRÁS AUMENTA CUSTOS E REDUZ ARRECADAÇÃO DE PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

rizzoA Petrobrás movimentou o mercado de óleo e gás no início do ano após reduzir o conteúdo local para os navios-plataformas (FPSOs) que serão usados no Projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP I e SEAP II). Para o consultor do setor de óleo e gás, Felipe Rizzo, essa medida traz consequências ruins para o mercado, pois representa a “desmoralização da política de conteúdo local”. O entrevistado também vê problemas no modelo atual de contratação de plataformas por afretamento, por conta da taxa de juros extremamente elevada em dólares americanos. “É um problema significativo, porque o valor do afretamento é descontado da Participação Especial. Isso aumenta, talvez, em até 5 vezes o custo [da plataforma] e reduz substancialmente o valor das Participações Especiais no campo, que são as contribuições governamentais que seriam pagas à União e ao estado de Sergipe”, explicou. Rizzo afirma ainda que a companhia deveria priorizar a contratação de plataformas próprias, além de voltar a gerenciar o conteúdo local. “No entanto, a Petrobrás prefere não entrar nessa discussão. Ela prefere continuar pagando a mais para que alguém gerencie o conteúdo local, a construção e a entrega das plataformas. Essa é a questão central”, disse.

Quais são as consequências dessa decisão da Petrobrás para o mercado?

fpso_almirante_barroso_buzios_1Isso é muito ruim para o mercado, porque se trata da desmoralização da política de conteúdo local. A primeira mudança promovida pela Petrobrás no edital, que foi bastante grave, foi a substituição da certificação do conteúdo local feita por terceiros por uma mera declaração do afretador, apenas seis meses antes da plataforma entrar em operação. Isso representa uma completa desvalorização do mecanismo de aferição do conteúdo local.

Quando chegar próximo do período de entrega da plataforma, a Petrobrás só vai cobrar [da afretadora] se for autuada pela ANP [Agência Nacional do Petróleo]. Além disso, o impacto será praticamente nulo, pois será feito um parcelamento quando a unidade estiver em operação. E esse parcelamento será descontado das diárias devidas pela Petrobrás à empresa afretadora. Em outras palavras, o papel didático da multa para incentivar os participantes do mercado a cumprir o conteúdo local foi completamente jogado no lixo.

Qual foi a outra mudança promovida pela empresa no edital?

A segunda mudança é que a Petrobrás concedeu voluntariamente um desconto no conteúdo local previamente estabelecido. O vencedor da licitação ficará isento do pagamento de multa caso não atinja os 40% de conteúdo local no afretamento do navio-plataforma de SEAP I, conforme previsto no edital anterior. Isso só ocorrerá se o percentual de aquisição de bens e serviços for inferior a 31%. Para SEAP II, a multa só será cobrada se o conteúdo local mínimo for inferior a 18,1%, em vez de 30% como previsto anteriormente. Em resumo, a Petrobrás resolveu descumprir os contratos de concessão, em um movimento contrário aos interesses da indústria.

Como avalia o modelo atual da Petrobrás para contratação de plataformas afretadas?

modulosO problema do afretamento de plataformas não está relacionado ao conteúdo local, mas sim à taxa de juros extremamente elevada em dólares americanos. Eu soube que na parte de investimento próprio da empresa para financiar essas plataformas por afretamento, a taxa de juros considerada é de 17% ao ano em dólares americanos. É um problema significativo, porque o valor do afretamento é descontado da Participação Especial. Isso aumenta, talvez, em até 5 vezes o custo [da plataforma] e reduz substancialmente o valor das Participações Especiais no campo, que são as contribuições governamentais que seriam pagas à União e ao estado de Sergipe.

Ou seja, quem financia o não cumprimento do conteúdo local são as Participações Governamentais, isto é, a alta taxa de juros é subsidiada pelas unidades da federação, por decisão da Petrobrás, sem qualquer contrapartida. Isso tudo é muito ruim. 

Qual a justificativa para a adoção desse modelo?

A justificativa fornecida é tornar o projeto mais viável do ponto de vista financeiro. O que acontece é que a Petrobrás não tem controle sobre o conteúdo local. A empresa não sabe se as operadoras estão buscando os preços mais baixos, bem como não sabe com quem as operadoras estão negociando em relação ao conteúdo local.

Acontece que, atualmente, as taxas de juros dos financiamentos para exportação da China são mais baixas do que as taxas de juros no Brasil. Então, priorizam aumentar o conteúdo chinês, por exemplo, para aproveitar essas taxas de juros mais baixas. E então dizem que o problema é o conteúdo local. Em outras palavras, eles não estão lidando com a questão central.

O cerne do problema é que as taxas de juros, em geral, estão muito altas e, como resultado, a Petrobrás está buscando mecanismos para reduzir custos, porque a empresa só quer adotar o modelo de afretamento.

Qual seria uma alternativa melhor para a Petrobrás?

Uma alternativa seria a Petrobrás priorizar as plataformas próprias, ao invés das unidades afretadas. E, assim, contratar diretamente o conteúdo local separado do conteúdo estrangeiro. Tudo isso é possível de ser feito. No entanto, a Petrobrás prefere não entrar nessa discussão. Ela prefere continuar pagando a mais para que alguém gerencie o conteúdo local, a construção e a entrega das plataformas. Essa é a questão central.

Como está a situação dos estaleiros brasileiros para um possível atendimento às demandas da Petrobrás?

Estaleiro-InhaúmaOs estaleiros que só constroem navios, os da região Sul e o Atlântico Sul, em Pernambuco, são atualmente as mais bem equipados. Mas, por exemplo, os módulos podem ser fabricados na área do Estaleiro Mauá, desde que seja uma empresa de montagem industrial. Podem ser feitos também na área aqui do Rio de Janeiro, onde costumava ser o antigo Brasa. O módulo também pode ser feito na área do Enseada, na Bahia, e em quase todos os lugares.

O que não existe é a disposição da Petrobrás para gerenciar o conteúdo local. Se ela gerenciasse o conteúdo local, poderia reduzir o preço geral da plataforma. Ela deveria fazer esse esforço porque as taxas de juros hoje estão muito altas. Ela deveria sair de sua posição de conforto para reduzir o CAPEX. Por que ela não sai dessa posição? Porque a empresa empurra o custo para reduzir o pagamento de Participações Especiais, é isso que está acontecendo. Em resumo, no fundo, os governos estaduais e a União estão subsidiando a quebra do conteúdo local.

A Petrobrás não modificou sua política de tratamento do conteúdo local das plataformas nos últimos 6 anos. Ela continua fazendo a mesma coisa. Ou seja, não houve mudança de rumo algum. 

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Ralfo Penteado
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Ralfo Penteado

Desmoralização é importar o que tem e praticar custos e preços formados lá fora quando o de dentro é 10x mais barato

ANTONIO RIVAS
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ANTONIO RIVAS

A indústria naval e o Governo Federal poderiam avaliar a possibilidade de compensar, ao menos parcialmente, a diferença de Capex de FPSO fabricado no exterior ou em estaleiros brasileiros, com a aplicação do sistema Cashback, onde o armador brasileiro receberia de volta todos os impostos pagos na contratação de bens e serviços.

Os impostos seriam devolvidos, mas ficariam os empregos diretos, indiretos e do efeito renda, a renda gerada pelos empregos, o aprendizado na formação de mão de obra qualificada, além do aumento da atividade industrial no País, que é reduzida a cada ano.

Rogério Faria
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Rogério Faria

Cada vez fico mais pessimista na reativação dos estaleiros nacionais.
É um jogo de interesses onde quem sempre perde são os empregos.

Alan Rodrigo de Almeida
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Alan Rodrigo de Almeida

O entrevistado fala como se fosse porta voz da indústria. Claramente não é, claramente tem uma opinião forte e enviesada e não deveria falar em nome da indústria pois passa um ar de extrema presunção ao agir dessa forma. O nosso amigo parece se esquecer que a política de contratação de FPSOs acelerou e muito a produção de óleo e gás no Brasil, o que está trazendo agora uma arrecadação enorme que poderia nem existir caso esse modelo não tivesse sido adotado.

Carlos Filipe Rizzo
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Carlos Filipe Rizzo

Desculpe-me se pareceu arrogância. Ter ponto de vista claro, nao é enviesado. Houve um periodo onde havia restrições à contratação de unidades próprias devidio ao acordo com o FMI. Era nedessario montar operacoes off balance. Também nao se trata de campos de petroleo com vida curta, nem projetos piloto. Sao campos em que a curva de producao é igual ou maior que a vida util do equipamento, o que nao recomenda o uso de afretamentos que utilizam linhas de financiamento em media de 12 anos. Alem disso, o patamar da taxa de juros americanos assim como a pouca disponibildade de… Read more »

Rui O. de Carvalho Jr.
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Rui O. de Carvalho Jr.

Olá Felipe Rizzo, boa tarde, interessante o seu artigo. Tenho uma dúvida. Saberia dizer ou teria uma estimativa dos custos envolvidos para uma operadora bancar a estrutura de pessoal para gerenciar projetos desse porte? Poderia ser uma decisão estratégica ao invés de colocar recursos existentes e limitados atuais para tocar esse projeto, no computo geral, ganhar-se focando em projetos de maior retorno?

Carlos Filipe Rizzo
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Carlos Filipe Rizzo

Para montar uma grande equipe, como sempre a petrobras fez com ate 100 profissionais, ficaria em algo ao redor de 50 milhões de dolares. Sobre a itilizacao eficiente de eecursos humanos, acho que nao é o caso. O problema é que apos a lava-jato, ouve uma decisao de certa maneira precinceituosa por parte da direcao da petrobras, e resolveu aposentar ou demitir toda a equipe experiente em gerenciamento de projetos qienficava alocada na engenharia. Os cargos de gerencia foram substituidos por jovens sem experiencia previa nesse tipo de contratavao e boa oarte oriunda do E e P, onde sempre foi… Read more »