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CONSULTOR AVALIA QUE FALTA DE INVESTIMENTOS EM 2024 LIMITARAM O CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO DO SETOR ONSHORE BRASILEIRO

luciano-CapexsO Projeto Perspectivas 2025 abre a semana de Natal ouvindo as avaliações do consultor e geólogo Luciano Seixas Chagas, profundo conhecedor do setor de óleo e gás. Ele traz um alerta sobre o atual momento da produção onshore, apontando que o baixo volume de investimentos em campos terrestres fez com que esses ativos patinassem em termos de produção. Segundo ele, houve falta de perfuração de poços exploratórios e planejamento de CAPEX, o que impactou negativamente a recuperação de petróleo em campos terrestres importantes. Além de sugerir uma reversão desse cenário e maiores volumes de investimentos, Chagas também vê a necessidade de mais atenção a projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Também sugere o fomento e subsídio de aquisições sísmicas nas bacias do Amazonas, Parnaíba, Paraná e Tucano para identificação dos reservatórios não convencionais. O consultor também destaca que algumas das novas operadoras de ativos onshore, que antes reclamavam que a Petrobrás era grande demais para os ativos terrestresviraram vidraças pela mesma questão. “Essas empresas têm nos seus portfólios ativos pequenos demais para darem atenção, e estes deveriam ser vendidos para empreendedores menores, transformando-os em outros principais negócios, que certamente terão investimentos de retornos curtos, aumentando-se assim o número de atores diferenciados pelos seus portes”, avaliou.

Nota da redação: A série especial Perspectivas 2024 voltará a ser publicada na próxima quinta-feira (26).

Como foi o ano de 2024 para sua empresa e seu segmento de atuação?

onshoreFoi um ano ruim em termos de demandas. Ao contrário do que prevíamos, e era o óbvio, pouco se fez em investimentos para aumentar a eficiência dos volumes varridos dos reservatórios nos ativos onshore comprados pelos novos atores, algo de vital importância para um melhor desempenho de produções. Também quase não foram perfurados poços exploratórios e nem outros investimentos nos bons leads e prospectos que ainda existem nas bacias. Alguns dos blocos comprados no último leilão parecem ser apostas em ficção, com base nos conhecimentos atuais. Podem até que, por razões técnicas que desconhecemos, descortinem novos rumos ou objetivos. Oxalá estejamos errados!

Todas as companhias pagaram preços relativamente elevados por alguns dos ativos. A nosso ver faltou a elas planejarem valores adicionais de Capex, justo os necessários para se retornar às produções a nível de 2014 e superá-las, como é desejável e possível, mudando assim o patamar das recuperações, cujos fatores (FR) são ainda inferiores aos internacionais e que deveriam servir de metas.

As análises de algumas curvas de produção apontam que apenas no Polo Remanso, na Bacia do Recôncavo, os valores estão em conformidade com os expectados, necessitando ainda de investimentos em P&DI para se obter melhores varridos dos reservatórios, via novos métodos de recuperação ditos eficientes, tais como o uso de nanotecnologias e outros bem personalizados para cada tipo de reservatório e fluido, como os choques mecânicos na superfície capazes de modificar os arranjos arquiteturais dos reservatórios produzidos,  modificando os fabrics (estruturações) originais e as tensões decorrentes, comprimindo os reservatórios in loco e liberando os fluidos aprisionados nos poros e capilares.

oil_drill_rig_onshore350_50d3691258746Nos megacampos, tipo Carmópolis, e até nos demais, menores, de mesmo jaez, causa esgar ver só a água circulando (elevados BSw’s), até nos poços recentes, sem quaisquer aumentos na produção de petróleo. Campos com malhas já muitos reduzidas e elevadas permeabilidades, tanto de rocha como de fraturas naturais, necessitam de outros tipos de intervenções e não de novos poços caros. Lembramos que intervenções feitas pela Petrobrás na década de 1980 tiveram bons resultados e isso nem é sequer repetido. A possibilidade de melhorar e muito as recuperações é latente e, para nós, falta às empresas adquirentes conhecerem melhor os reservatórios e suas propriedades. O uso de consultores experientes e familiarizados com o assunto parece inexistir. Sem absolutamente desmerecer os novos técnicos, não usar experiências pretéritas como mentoria implica na demanda de muito P&DI, que as vezes levam tempos demasiados, piorando os EVTE´s dos projetos já ora impactados. Aí, a nosso ver, o problema é exclusivo de gerenciamento da produção dos reservatórios, sabendo o que fazer e do novo a ser utilizado.

Nos campos de Rio Grande do Norte, Fm Açú, onde o fluido é óleo de baixa mobilidade, o vapor também apenas circula e ainda ele consome energia extra para ser gerado, o que sempre eleva o Opex. Por ter mais mobilidade que o líquido, o problema é atingir os hidrocarbonetos densos, adjacentes, de difícil extração, e produzi-los, pois sempre os custos totais (CTPP) serão mais elevados. Para tanto, é fundamental conhecer as principais peculiaridades das fácies (aparências) reservatórios já em produção, e, como em Carmópolis, adequar soluções via controle dos intervalos de injeção e outras, sempre lembrando que os reservatórios de menores permeabilidades são os maiores portadores de óleo residual.

petroleirosEm Alagoas, os produtores e armazenadores de gás parecem ter boas soluções inclusive com nova descoberta de gás e já planejam novos poços. Como o gás era indesejado no passado sobraram boas oportunidades dentro dos ring-fences dos campos de gás e até mesmo em blocos exploratórios adjacentes. No ES, ainda há boas oportunidades nos 3 principais reservatórios lá existentes, mas com também problemas em se aumentar as produções atuais.

As empresas que reclamavam que a Petrobrás era grande demais para os ativos onshore, agora viraram vidraças, pela mesma questão. Têm nos seus portfólios ativos pequenos demais para darem atenção, e estes deveriam ser vendidos para empreendedores menores, transformando-os em outros principais negócios, que certamente terão investimentos de retornos curtos, aumentando-se assim o número de atores diferenciados pelos seus portes.

Todo o exposto e algo mais foram muito prejudiciais para o mercado de consultoria onde atuamos.

Se fosse consultado, quais seriam suas sugestões (ao governo ou à própria indústria) para melhorar o ambiente de negócios no seu setor?

pesquisaAproveitar as experiências consultivas disponíveis. Há uma grande disponibilidade de conhecimentos que precisa ser aplicada para melhora das performances;

Empresas investirem mais e melhor em P&DI via universidades;

Obter e dar acesso as todas as informações e pesquisas existentes sobre os ativos comprados, evitando-se assim gastos redundantes de propriedades e de petrofísica de rocha e fluidos, como também novas aquisições de dados em amostras virtuais (fotografias), com uso de Inteligência Artificial ajustadas ou calibradas com os dados reais existentes e já digitalizados. Isso propiciará a expansão das propriedades que faltam para os entornos, com uso da IA, com as suas dessemelhanças e variâncias, para melhor compreensão dos reservatórios, adequando-os aos métodos mais econômicos e que propiciem aumento dos FRs. Para uma consecução ótima são necessários conhecimento e experiências, além de desburocratização das regras para elaborações de P&DI por parte das empresas de todos os portes, e envolvendo as universidades, a ANP etc.,  pois a atividade está impactada negativamente por compliances desnecessárias, as  que dificultam e complicam a aquisição de conhecimentos que possibilitam ganhos reais. Um horror a burocracia atual com exagero de regras para se evitar a corrupção. Achamos que demitir os corruptos e punir os corruptores é mais eficaz!

anp-novaMaior ação da ANP e dos Tribunais na resolução das pendências acumuladas que dificultam a oferta de muitas áreas para novas licitações. Estas, aliás, deveriam ser verdadeiramente permanentes e obedecer às seguintes etapas: demonstração de interesse; divulgação para estimular a participação de outrem; leilão virtual propriamente dito com prazos curtos e não intermitentes logo após a demonstração conjunta de interesse; e, após, a respectiva aquisição. Algo semelhante aos direitos de mineração controlados pela Agência Nacional de Mineração – ANM;

Fomento e subsídio de aquisições sísmicas nas bacias do Amazonas, Parnaíba, Paraná e Tucano para identificação dos reservatórios não convencionais, incluindo os shale oil & gas nas partes profundas das bacias, os conhecidos reservatórios de centro de bacia com as suas características diferentes e peculiares. Só assim conheceremos o nosso real potencial sempre citado e absolutamente desconhecido;

Idem para as bacias do Pré-Cambriano tipo São Francisco, Parecis e demais na busca de gás incluindo aí o hidrogênio branco, onde é necessário se conhecer o seu sistema migratório, gerador e alimentador e os tipos de armadilhas para reter tal molécula leve e de difícil aprisionamento. Focar em áreas ferríferas e afins e onde há registros de exsudações e até produção de gás, como pequenos blowouts. Também sugerimos a intensificação de pesquisas em P&DI junto com universidades, empresas, ANP e outros, para melhores entendimentos sobre o H2 branco;

Continuar a pesquisa e usos experimentais de todos os biocombustíveis, principalmente o do sistema de transporte aéreo, os de maiores preços;

Estudar outros usos para geração crescente das energias solares e eólicas e os tipos de armazenamento possíveis para superar as intermitências de geração.

A seu ver, de que forma os recentes acontecimentos no cenário político internacional podem influenciar os negócios no Brasil?

eua-petroleoVárias incógnitas. É verdade que o domínio econômico e financeiro ainda está nos EUA, como é também inquestionável o desenvolvimento superlativo da China em todos os setores, principalmente o tecnológico. A China já consome mais energia que os EUA e cresce a taxas mais aceleradas. Suas necessidades energéticas serão muito maiores no curto prazo, algo como 280 exajoules, o dobro do consumo atual de 140, que já é muito maior que o dos EUA com 76. O Brasil é o sexto colocado consumindo aproximadamente 40 exajoules. Como consumo energético é relacionado à pobreza, para nos desenvolvermos ainda é necessária muita energia.

Os chineses, mais pragmáticos, querem um mundo multipolar enquanto o Trump, eleito, quer manter o dólar/petróleo como moeda e promete penalizar quem usar outra referência. Os chineses ampliam fronteiras econômicas com a nova Rota da Seda e já atuam além das fronteiras asiáticas, estando presentes e estabelecidos na África e América do Sul. Usar o banco dos BRICS, nem pensar para a América, principalmente a de Trump, enquanto o G20 acena e insiste na multipolaridade, pois o PIB do bloco é musculoso e já significativo. Aliado a isso, países como a Índia e Nigéria, de grandes populações, precisam crescer rápido para resolver suas latências, sob pena de convulsões sociais, como exarado subliminarmente em recente discurso do presidente Lula.

Xi Jinping e Donald TrumpIsso coloca o Brasil num dilema, pois a China e USA são nossos principais parceiros comerciais. Ressalto que foi brilhante o papel do nosso Ministério das Relações Exteriores com o pragmatismo e ambiguidade necessários de não pender para um lado ou outro, tentando surfar nas duas ondas. Entretanto, as recentes declarações de Trump, que de bobo não tem nada, sendo somente farsante, algo que exige tomadas de posições de complicadas tecituras em países do porte Brasil.

Com o PIB brasileiro crescente (hoje 3,2%), desemprego mínimo (~6%) e crescimento da renda média, os economistas e, principalmente, os especuladores rentistas preveem juros elevados, por conta de aumento da inflação de demanda, o que fará diminuir o crescimento e investimento. O aumento desenfreado de cotação do dólar frente ao real, sem razão aparente, pois todos os hedges estão preservados pelo atual governo. Isso terá que ser obrigatoriamente resolvido e os governantes deverão exaurir as suas habilidades políticas para controlar a inflação e o valor do dólar para algo como R$ 5,4 a R$ 5,7 e, além, conter a ganância parlamentar pelas emendas de execuções duvidosas, apesar do judiciário tentar definir as suas destinações precípuas. Isso demandará esforços hercúleos de fiscalização pela Controladoria da União.

petrobrasNo petróleo, a atual gerência de jaez técnico da Petrobras, quase todos oriundos da própria corporação, demostra como fica fácil o gerenciamento da empresa sem as intervenções políticas, evidenciando que o problema não é ser estatal ou privada e sim de condução séria e consonante com o bem-estar da população e depois dos acionistas, que pouco têm a reclamar, face o pagamento do maior dividend yeld entre as empresas brasileiras estimado em 18% a/a. Estes ainda serão maiores em 2025 face a entrada de produção de novas FPSO em 2025 e maiores valores de investimentos já  aprovados de US$ 111 bilhões (quinquênio 2025/2029) no Plano de Negócios da empresa , que tem o seu endividamento líquido bem controlado de US$ 46.1 bilhões que podem ser pagos, facilmente, nos seus prazos de vencimentos, exclusivamente com o faturamento, como já feito no passado e  que dispensaria a venda de bons ativos, na áreas de distribuição, dutos e de exploração.

Também é salutar observar a exploração da empresa sendo bem conduzida pela geóloga e doutora Sylvia dos Anjos, conhecedora das atividades e riscos inerentes, provando a necessidade de a empresa ter diretores que conhecem a atividade, ao invés de financistas que recentemente quase acabam com a empresa vendendo-a em pedaços e por valores ínfimos. É algo como impedir que as raposas tomem conta do galinheiro.

FPSO_CariocaCom os ativos exploratórios e os de produções superlativas no pré-sal, com breakeven de US$ 36/boe e a entrada de produção dos novos FPSOs com taxas de incrementos de produção superiores, no curto prazo, às taxas de declínio, fica garantido assim um caixa volumoso consequente de aumento expectado da produção, salvo se ocorrer outra catástrofe mundial que afete os preços e consumo, nunca inferiores a US$ 55/boe, que é o breakeven do petróleo dos folhelhos norte-americanos. Além disso, o incremento de investimentos em exploração vistos no Plano de Negócios resultará em novos ativos, muito provavelmente nas bacias da Margem Equatorial, Pelotas e Margem Leste. Aí o governo tem que se entender intramuros com os órgãos ambientais. Também na Namíbia onde foram adquiridos bons ativos e na Colômbia, já com nova descoberta, os investimentos e lucros prosperarão. Finalmente, o FPSO de Sergipe Águas Profundas, ora em contratação, garantirá volumes de gás novo para o mercado, dando-lhe a segurança necessária para realização de investimentos com garantia de entrega.

Nas energias alternativas, estamos avançando bem e a nossa matriz energética continuará equilibrada, apesar dos problemas na distribuição tipo ENEL.

Merece parabéns para as escolhas de diretores feitas pela presidente Magda. Sylvia dos Anjos, Renata Bruzzi, Melgarejo, Schlosser, Spinelli, Tolmasquim, Clarice Coppeti e França, conhecem do assunto e têm equilíbrio e competência. Também a paridade de gênero representa um avanço e o voto de minerva feminino é algo inédito e bem representativo do registrado no censo demográfico com 51,5% de mulheres. A propósito, me impressiona a incapacidade do maior país do mundo, o que tem orgulho de ostentar ser o campeão da democracia, de eleger uma mulher presidenta.  O problema, creio, está na letra H ou duplo H conforme ocorrido com Hillary e Hamala Harris. Essa com dificuldades somadas por conta da ascendência africana, a que já foi transposta por Obama.

Por fim, quais são as perspectivas de sua empresa para o ano de 2025?

onshoreMantendo-se o quadro atual, as perspectivas não são das melhores para o setor que atuamos, exceto se os projetos de P&DI forem muito desburocratizados. Aí o cenário pode ser diferente com ganhos para todos, quer sejam empresas majores tipo Petrobras, Shell, Equinor, Total, Exxon, Galp, Ecopetrol; demais empresas menores tipo PRIO, Eneva, Brava, PetroReconcavo, Origem, Seacrest, Carmo e outras; universidades, ANP, EPE e consultores; empresas de serviços etc. Dinheiro já carimbado para as atividades é o menor dos problemas.

Os nossos esforços deverão ser redobrados e esse será nosso maior desafio segundo nosso próprio vaticínio.

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