CONSULTOR DIZ QUE MODELO DE CONTRATAÇÃO DE FPSOs DA PETROBRÁS EXCLUI EMPRESAS NACIONAIS E AMPLIA CUSTOS EM US$ 400 MILHÕES | Petronotícias




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CONSULTOR DIZ QUE MODELO DE CONTRATAÇÃO DE FPSOs DA PETROBRÁS EXCLUI EMPRESAS NACIONAIS E AMPLIA CUSTOS EM US$ 400 MILHÕES

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) – 

rizzoO Petronotícias inicia o noticiário do setor de óleo e gás de hoje (15) falando sobre um tema que voltou a ganhar força no mercado: a participação das empresas brasileiras em concorrências da Petrobrás. No geral, o índice atual de conteúdo local em plataformas da estatal gira em torno de 25%. Para o consultor do setor de óleo e gás, Felipe Rizzo, será preciso realizar algumas mudanças nos moldes atuais de licitação da Petrobrás para ampliar a presença de companhias nacionais em grandes obras. Rizzo explica que, nos últimos anos, a petroleira deixou de  gerenciar as interfaces de múltiplos contratos para a construção de uma plataforma. “Por conta dessa decisão, na prática, a Petrobrás paga em torno de US$ 400 milhões a mais por plataforma para não precisar gerenciar os múltiplos contratos de construção”, afirmou. “A única  forma de garantir conteúdo local nas plataformas é dividir o topside das unidades, para que sejam construídos mais módulos no Brasil”, acrescentou Rizzo. Além disso, o entrevistado também lembrou que a Petrobrás ampliou o prazo para pagamento de seus fornecedores, inviabilizando assim a participação das companhias nacionais em licitações. “Na prática, os fornecedores precisam bancar entre três e quatro meses de obra sem receber um tostão. Isso diminui a concorrência e faz com que as empresas nacionais sejam alijadas, porque foram bastante afetadas após a Lava Jato”, declarou. Por fim, Rizzo defende ainda uma mudança na licitação dos FPSOs P-84 e P-85, de modo que o edital passe a determinar maiores índices de conteúdo nacional. “Se não houver contratação de conteúdo local na licitação das plataformas P-84 e P-85, será muito difícil ver um nível de atividade pujante na indústria naval durante o mandato atual de Lula”, projetou.

A retomada da indústria naval brasileira voltou ao radar com o início da nova gestão Lula. Como, efetivamente, reanimar esse setor?

p-71_9Para o Brasil iniciar uma retomada de sua indústria naval, a solução é criar as condições necessárias para o ressurgimento da demanda. Atualmente, não existe demanda por navios nos estaleiros nacionais, apenas serviços de reparo. Para tirar do papel a promessa do presidente Lula de retomar a construção naval até o final de seu mandato, a única alternativa rápida para geração de demanda nos estaleiros do Brasil é a licitação das plataformas P-84 e P-85, previstas para os campos de Atapu e Sépia, respectivamente. Essas unidades serão plataformas próprias da Petrobrás, contratadas sob o regime de EPC. A licitação começou no dia 23 de dezembro e a entrega dos envelopes com as propostas das licitantes está marcada, inicialmente, para o dia 23 de julho.

Supondo que não haja adiamento no cronograma e que a entrega de propostas aconteça, de fato, no dia 23 de julho, a Petrobrás fará suas avaliações internas e negociações. O contrato só deverá ser assinado, se tudo der certo, por volta de dezembro deste ano. A empresa que vencer a licitação terá em torno de oito meses para fazer a revisão da engenharia e iniciar a contratação dos equipamentos de longo prazo de entrega. O primeiro corte de chapa no estaleiro só deve acontecer em agosto de 2024. É um ciclo de quase dois anos.

Se não houver contratação de conteúdo local na licitação das plataformas P-84 e P-85, será muito difícil ver um nível de atividade pujante na indústria naval durante o mandato atual de Lula.

A Petrobrás só deve anunciar novas licitações de plataformas próprias depois que assinar os contratos da P-84 e da P-85. Na melhor das hipóteses, uma nova concorrência para contratação de mais plataformas só deverá ser lançada até o final de 2023. Nesse caso, se tudo der certo e não ocorrerem atrasos, só veremos os estaleiros iniciando a contratação de pessoal apenas em agosto de 2025.

Mas seria possível mudar a licitação da P-84 e P-85, de forma a incluir maiores índices de conteúdo local?

Cerimônia de entrega de FPSO da Petrobrás no estaleiro DSIC, na China

Cerimônia de entrega de FPSO da Petrobrás no estaleiro DSIC, na China

Sim. Basta a nova diretoria da Petrobrás paralisar a concorrência e redesenhar a licitação. A Petrobrás precisaria ainda conversar com os seus sócios nos campos de Sépia e Atapu, mas é perfeitamente possível parar a licitação agora e revisitar o edital. No final do ano passado, a Petrobrás determinou uma multa de 200% nos contratos da P-84 e da P-85 pelo não cumprimento da exigência de conteúdo nacional. Só isso não será suficiente. A empresa nacional vai entrar como subcontratada e não existe garantia de que o conteúdo local será cumprido.

E quais outras medidas são necessárias para permitir uma maior participação dos estaleiros nacionais?

A Petrobrás também tem que modificar a sua cultura de Gestão de Risco de Integridade (GRI). Esse foi o mecanismo que mais afetou as empresas brasileiras nos últimos anos. É um critério subjetivo feito pela diretoria de desenvolvimento da produção, que influencia a diretoria de governança.

A Petrobrás determinou que as empresas brasileiras possuem um risco de integridade muito alto e esse foi um motivo para excluir essas companhias do cadastro da petroleira. Esse é o principal motivo da ausência das empresas brasileiras nas grandes obras da Petrobrás ao longo dos últimos anos.

E quais outras mudanças poderiam ser realizadas?

estaleiro1Além disso, desde a Lava Jato, houve um predomínio de profissionais do E&P no comando da companhia. A antiga área de engenharia da Petrobrás era responsável por gerenciar as interfaces de múltiplos contratos para a construção de uma plataforma. Ou seja, a plataforma era dividida em cinco contratos – quatro fornecedores de módulos e um fornecedor de casco. Uma dessas empresas era escolhida para realizar a integração e a montagem final da plataforma. Os FPSOs replicantes foram construídos dessa maneira.

Depois da Lava Jato, o E&P assumiu o comando da companhia e rejeitou essa ideia de múltiplos contratos. Por conta dessa decisão, na prática, a Petrobrás paga em torno de US$ 400 milhões a mais por plataforma para não precisar gerenciar os múltiplos contratos de construção.

Além disso, atualmente só concorrentes internacionais muito grandes participam das concorrências. Não existe espaço para a empresa brasileira nesse modelo de contratação EPC que a Petrobrás concebeu.

Qual seria uma alternativa a esse modelo de contratação que a Petrobrás vem adotando nos últimos anos?

A única  forma de garantir conteúdo local nas plataformas é dividir o topside das unidades, para que sejam construídos mais módulos no Brasil. Sem isso, não haverá conteúdo local garantido, por mais que se aumente a multa pelo não cumprimento de conteúdo nacional.

Muitos fornecedores nacionais também reclamam de uma longa espera para receberem o pagamento pelos serviços prestados à Petrobrás. Como avalia esse quadro?

sede-petrobrasA Petrobrás passou a praticar, em seus contratos de construção, um cash flow negativo em mais de 10%. Não há motivo para isso, tendo em vista o caixa robusto da empresa. Antes, uma empresa fornecedora trabalhava 30 dias e, após a medição, o pagamento era recebido em 30 dias. Contudo, atualmente, uma empresa trabalha 30 dias, mas só vai receber entre 60 e 120 dias.

Na prática, os fornecedores precisam bancar entre três e quatro meses de obra sem receber um tostão. Isso diminui a concorrência e faz com que as empresas nacionais sejam alijadas, porque foram bastante afetadas após a Lava Jato. Nos moldes atuais, só as empresas internacionais muito capitalizadas podem participar das licitações. Não existe sentido nesse alargamento do prazo de pagamento que a Petrobrás vem fazendo.

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Leonardojoão batista de assis pereiraCarlos Filipe RizzoEduardoJoão Recent comment authors
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Luciano
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Luciano

Os argumentos postos parecem convincentes e de mudanças possíveis que mudarão para melhorar o setor industrial. Salvo outros senões técnicos, gosto da finalidade da proposição..

João
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João

E a justiça do brezil, onde está?

João
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João

Vamos

Eduardo
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Eduardo

“os FPSOs replicantes foram construídos dessa maneira”
Deve ser por isso que a fabricação deles entre o primeiro e o último durou quase 8 anos ….

Na prática, ao “nacionalizar” a industria naval só temos visto corrupção e ineficiência!! E atrasos e mais atrasos na execução de projetos.

Carlos Filipe Rizzo
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Carlos Filipe Rizzo

Vc parece ter abstraído o estrago que a lava-jato fez. Além disso, a empresa que vc louva por estar entregando da maneiraeficaz atualmente foi uma das que pagou propinas, a keppel. Foi obrigada a fazer um mega acordo de leniência entre EUA- Brasil

assim como afretadoras que prestam serviço a Petrobras de FPSOS e de sondas.

Corrupção não é exclusividade de obras em EPC ou modularizadas. Acho muito seletiva seu comentário. Aliás rebaixa muito o debate.

Me parece preconceituosa com os ótimos profissionais da Petrobras.

joão batista de assis pereira
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joão batista de assis pereira

Em linha com o excelente e oportuno artigo acima publicado pelo website PETRONOTÍCIAS segue o link do artigo entrevista do engenheiro aposentado da Petrobras, joão batista de Assis Pereira: https://petronoticias.com.br/shandong-kerui-corre-risco-de-perder-upgn-se-a-petrobras-seguir-o-que-defende-o-seu-compliance/

joão batista de assis pereira
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joão batista de assis pereira

“A Petrobrás está reduzindo a pó a Indústria nacional, incluindo aí as prestadoras de serviços, principalmente as empresas sérias que não foram contaminadas pelo Petrolão e aquelas novatas que certamente apareceriam para compor o cadastro de fornecedores da estatal, mas estão pagando a conta do aparelhamento na Petrobrás. A empresa aproveita as ilicitudes ocorridas na Lava Jato para montar o cadastro de seus fornecedores a seu bel prazer, da forma que melhor lhe convier e exterminar de vez com o conteúdo local. Não vejo, por exemplo, demandas de recursos nos certames licitatórios na adequada proporção, nem mesmo na Justiça comum… Read more »

joão batista de assis pereira
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joão batista de assis pereira

AO EMPRESARIADO PRESTADORES DE SERVIÇOS NO BRASIL NA ATUALIDADE: A Petrobras esta reduzindo a pó a Indústria nacional, ai incluídas as Prestadoras de serviços, principalmente as empresas sérias que não foram contaminadas pelo Petrolão e aquelas novatas que certamente apareceriam para compor o cadastro de fornecedores da Estatal, mas estão pagando a conta do aparelhamento na Petrobras. A Petrobras aproveita as ilicitudes ocorridas na Lava Jato para montar o cadastro de seus fornecedores a seu bel prazer, da forma que melhor lhe convier e exterminar de vez com o conteúdo local. As derradeiras entrevista que concedi a Petronotícias retrata a… Read more »

Leonardo
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Leonardo

Bem aos comentário, razos e alguns, profundos ; não adianta mas discutir passado infelizmente o brasil . Tem tido disficuldades mas e justamente nessas dificuldades que se constrói hum soberania solida , a indústria naval e petrolifera sofre reflexo do pássado é fato , mas olhar adiante se torna necessário em qualquer governo que se preze; faço parte dessa indústria infelizmente aguardo respostas conclusivas e cabais e lógica para retomada dos empregos legítimos dos verdadeiros propulsores desse país . Operrios lutar não é opção é obrigação. Brasil no setor naval e industrial merece mas carinho e enganjamemto pelos responsáveis pelo… Read more »