CONSUMO DE GLP DEVE TER QUEDA NESTE ANO, MAS SETOR JÁ ESPERA POR AUMENTO DE DEMANDA EM 2020
Na edição desta sexta-feira (6) do projeto Perspectivas 2020, o assunto será o mercado de GLP – o gás de cozinha. Para isso, convidamos o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), Sérgio Bandeira de Mello. O executivo revela que o consumo do combustível em 2019 deve apresentar queda entre 0,8% e 1,0% na comparação com 2018. No entanto, as expectativas para o ano que vem são mais animadoras. “As empresas do setor esperam em 2020 crescimento da demanda entre 1% e 2%, o que representa aumento importante frente aos anos recentes de estagnação”, afirmou. “Também acreditam que a agenda regulatória da ANP esteja mais voltada a um cenário de estímulo aos investimentos e do aumento de oportunidade do GLP para competir com outros energéticos”, acrescentou. Bandeira de Mello cita também projeções promissoras para o longo prazo, como a estimativa de crescimento da demanda para 9,4 milhões de toneladas em 2029.
Como viu seu setor no ano de 2019?
O ano de 2019, em termos de volumes de vendas teve um comportamento tímido, semelhante ao dos diversos mercados, frente às dificuldades do país em retomar o crescimento econômico. O consumo de GLP no Brasil em 2019 deverá apresentar queda entre 0,8% e 1,0% na comparação com 2018. O setor de GLP é resiliente, tanto em momentos de quedas, quanto nos de recuperação da economia. Assim, a melhora dos indicadores econômicos deverá demorar a ser observada nos nossos indicadores de vendas.
Em 2019, tínhamos a expectativa, dada pelo MME [Ministério de Minas e Energia], de que o marco regulatório seria afetado em temas muito importantes, e que superaríamos questões como a diferença de preços praticada pela Petrobrás para o GLP comercializado em embalagens até 13kg e para o destinado a embalagens maiores, prevista em Resolução do CNPE de 2005, e o fim das restrições ao uso do GLP. O CNPE [Conselho Nacional de Política Energética] enfrentou o tema da diferenciação de preços. A data para o fim da diferenciação é março de 2020, mas, na prática, sua eliminação pela Petrobrás veio em novembro de 2019. Porém, as restrições ao uso do GLP, que datam da Guerra do Golfo, de 1991, ainda perduram. O aceno ao fim das restrições é um bom sinal. Essas duas medidas citadas podem atrair investimentos e iniciativas para importação de GLP, além de aportes na infraestrutura do abastecimento nacional de GLP. Pena que as duas medidas não ocorreram juntas, mas vemos com otimismo o trato por parte da ANP [Agência Nacional do Petróleo], MME, EPE [Empresa de Pesquisa Energética] e de outros membros do CNPE, e apostamos em uma solução rápida.
Por outro lado, a pauta de debate regulatório foi muito contaminada com debates secundários que consumiram muitos recursos, tanto do setor privado quanto do público, para questões como venda fracionada de GLP e permissão para que qualquer empresa encha botijão de marca concorrente. As duas propostas, na visão das associadas ao Sindigás, não têm potencial para cumprir o que era anunciado – mudança do perfil de competitividade do setor e GLP mais barato para a sociedade. Ao contrário, tinham enorme potencial de desestabilizar o bom funcionamento do segmento de GLP e também de afugentar capitais, justamente quando é necessário atrair investimentos e ampliar as capacidades para garantir o abastecimento nacional de um produto importante como o GLP, especialmente no momento em que a Petrobras revê seu posicionamento como única abastecedora de GLP para o Brasil.
Qual é a sua expectativa para 2020?
As empresas do setor esperam em 2020 crescimento da demanda entre 1% e 2%, o que representa aumento importante frente aos anos recentes de estagnação. Também acreditam que a agenda regulatória da ANP esteja mais voltada a um cenário de estímulo aos investimentos e do aumento de oportunidade do GLP para competir com outros energéticos. Vemos na ANP, EPE, MME a percepção de que o GLP é um energético nobre, com muito potencial em um país com características continentais como o Brasil e que precisamos criar condições de que variados agentes participem do abastecimento primário do produto, seja por novos agentes no Refino, novas UPGNs e novos “Traders” importando produto. Com essa combinação no suprimento, somada ao fim das extemporâneas restrições ao uso, poderemos oferecer à sociedade o GLP como mais uma de suas alternativas na cesta de produto. Nossa crença é de que precisamos ter um marco regulatório que deixe o consumidor livre para escolher de acordo com suas conveniências o produto que prefere usar, seja por conveniência, preço, emissões de carbono e particulados, ou seja pelo conjunto de qualidade que cada energético ofereça.
Vemos 2020 como um importante ano para o setor e como oportunidade para uma virada importante. A própria EPE calcula um cenário promissor para o setor de GLP, que hoje tem demanda nacional de 7,3 milhões de toneladas ao ano. A EPE aponta para uma demanda em 2029 de 9,4 milhões de toneladas. Para chegar lá, precisamos arregaçar as mangas e correr. Precisamos de muitos investimentos em infraestrutura, mas o cenário está se abrindo e se firmando da forma adequada. A ANP e a EPE, em seu Plano Decenal de Expansão de Energia, com cenários projetados para 2029, estimam que 89% do total de GLP consumidos no Brasil em 2029 serão produzidos internamente, contra 73% em 2018. Dessa forma, a fatia de GLP importado cairia de 27%, em 2018, para 11%, em 2029.
O que gostaria de sugerir para que seu segmento de negócios fosse mais ativo?
O setor de Distribuição é muito ativo, com vendas de 34 milhões de botijões de 13 kg, entregues porta a porta, todos os meses, o que representa 12 botijões por segundo. De qualquer forma, precisamos ajustar os últimos vetores para que agentes do midstream e as distribuidoras possam competir com os produtores de GLP no Brasil, criando um mercado mais dinâmico no Supply. Algumas de nossas empresas já experimentam a importação de GLP via Bolívia e Argentina. Essa configuração deve-se muito às mudanças regulatórias sobre preços diferenciados promovidas pelo CNPE. Esperamos agora que venha o fim das restrições ao uso do GLP e também que a Petrobrás cumpra com seus planos de privatizar algumas das refinarias e que acabe com sua posição hegemônica na infraestrutura de abastecimento, posição que é menos resultado da vontade da empresa e mais do histórico do monopólio da responsabilidade que sempre recaiu sobre a Petrobrás. No caso do GLP, é importante o passo atrás da Petrobrás, para garantir um ambiente competitivo e estimular passos a frente dos investidores no setor de GLP.
Estamos animados. Que venha o ano de 2020 e muito mais.
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