AQUECIMENTO DA INDÚSTRIA NAVAL BRASILEIRA DEVE SER ACOMPANHADO COM PASSOS CAUTELOSOS
Tirar as encomendas do atraso, investir em capacitação e balancear conteúdo local com competitividade. Três desafios para um Brasil que vive o auge do aquecimento da indústria naval. A lista é feita pela Eagle, empresa de consultoria para companhias do setor de petróleo e gás, que vê o crescimento deste mercado com otimismo e cautela. Funcionando há mais de quinze anos e com uma bagagem pesada de conhecimento na área, a empresa aponta a lei de conteúdo como um dos desafios que o país precisa saber lidar. Com a quantidade de projetos surgindo, atender em orçamento e prazo virou exigência. Em entrevista ao repórter Estephano Sant’Anna, o sócio-diretor da empresa, Bruno Skornicki, falou sobre os quesitos necessários para que o país continue em disparada neste setor.
Qual o trabalho da Eagle?
Trabalhamos com representação comercial fornecendo consultoria para a área de petróleo e gás. A Eagle funciona desde 1996, mas já está no ramo há mais tempo. Ela começou com o meu pai, Zwi Skornicki. Ele está há 38 anos no mercado. Já foi diretor-superintendente da OPL (Odebrecht Perfuração Limitada), sócio de um ex-presidente da Petrobrás, o Alfeu Valença, durante sete anos, através da Conpet (empresa de consultoria). Na verdade, ele traz esse relacionamento com o mercado de óleo e gás desde 88, com a Keppel Fels. Isso nos traz bastante competência, confiança e tudo o que é necessário.
Qual o foco de vocês?
Nosso grande foco é a indústria naval. Estamos no dia a dia do estaleiro. Dando suporte comercial, ajudando nas propostas comerciais, conversando junto ao cliente, atendendo a Petrobrás, entendendo tudo o que acontece.
Falando em estaleiros, o que pensa a respeito da lei do conteúdo local?
Eu acho que tem que ser colocado numa balança. Não adianta ter um alto conteúdo local e um equipamento que, lá fora, sai 30% mais barato. Tem que ver até que ponto vale a pena comprar no Brasil. Que precisamos desenvolver nossa indústria local, é fato, mas tem que ser balanceado, se não, gera problema.
Problema pra quem?
É um problema pra gente. Para a Petrobrás como cliente, que contrata um bem que lá fora poderia ser bem mais barato. Sou a favor dessa política, mas não com hipercustos.
Quem são os clientes da Eagle?
Podemos citar a Dockwise, Keppel Fels. São clientes de bastante tempo, para quem oferecemos um trabalho de consultoria específico e especializado. Não representamos empresas de varejo, então não precisamos de equipe de vendas, e tal. Nosso trabalho é bem personalizado, e a maior parte de nosso tempo é com a Keppel Fels. Já é bastante trabalho.
Como foi na OTC (Offshore Technology Conference, em Houston) este ano? Tem outros eventos programados para o ano?
É sempre bom. Estamos lá todos os anos. Meu pai vai desde 81. É bom porque é possível encontrar pessoas que, no Rio, você normalmente tem dificuldade de encontrar. Fomos para fazer contatos, buscar parcerias. Este ano estaremos na Rio Oil & Gás.
Como vê o mercado de petróleo e gás no Brasil?
Vejo com muita prosperidade, apesar de todos os atrasos. A produção de petróleo é o que gera renda para a Petrobrás, então, com a quantidade de investimentos que tem feito, somado aos contínuos atrasos, já deixa uma dúvida. Ninguém sabe como vai ser se as encomendas continuarem fora dos prazos de entrega.
Este é o maior desafio dessa indústria?
É atender tanto em orçamento quanto em prazo. Tem um monte de projetos na rua como a cessão onerosa, os módulos replicantes, as sondas do pré-sal, e tantos outros. E vem muito mais, tanto por parte da Petrobrás, quanto por outras empresas de óleo, como a OGX. Atender a todos os projetos que vão surgindo é um desafio e tanto.
Você acha que o Brasil está indo no caminho certo pra se adequar a tantas mudanças?
Estamos caminhando. Só não podemos esquecer de balancear conteúdo local com competitividade, se não você pode desenvolver a indústria brasileira, mas fazendo com que ela se torne mais cara.
E a qualificação profissional para atender a toda essa procura?
Eu acho que ainda é escassa, mas de certa forma, pelo menos no Rio, está sendo melhorada. Hoje, no estaleiro de angra (BrasFels), a qualidade de solda é de altíssimo nível. Tem uma escola própria, muito investimento em capacitação, desde 2000. Já para o Nordeste, no Suape, por exemplo, ainda vai ter um processo de aprendizado muito grande. Lá, quem trabalha nos estaleiros são os antigos produtores de cana e não técnicos. Isso vai levar um certo tempo até se acertar. Uns cinco anos, no mínimo. Mas estamos caminhando.
Muito oportuna esta matéria e bem trabalhada pois aborda principais problemas do setor.
O grande desafio é onde achar profissionais “just in time” para essa área que ficou sem formar profissionais durante anos e agora tem que correr atrás do prejuízo .
E agora a PF está atrás do ZWi. Vergonha hem?
Realmente é uma vergonha a pessoa trabalhar por anos e construir uma carreira que fica ameaçada por um bandido que faz uma delação sem qualquer prova. Pior ainda é ver o julgamento das pessoas que acreditam em tudo que sai na mídia. Está na hora da população do Brasil acordar e deixar de ser manipulada pela imprensa marrom que está hoje em dia dominando os meios de comunicação.