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COP26 COMEÇA MARCADA POR DEBATE SOBRE O PAPEL DA ENERGIA NUCLEAR E AUSÊNCIA FORMAL DE PETROLEIRAS

rafael-grossiO mundo volta suas atenções desde as primeiras horas desta segunda-feira (1º) para a cidade de Glasgow, na Escócia, onde será realizada a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP26). A reunião está sendo apontada como uma janela de oportunidade crucial para os países acelerarem ações em direção às metas acertadas no Acordo de Paris. Espera-se que os governos renovem ou aumentem seus compromissos no sentido de reduzir as emissões de gases do efeito estufa, especialmente aquelas geradas a partir da geração de energia. Por isso, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) quer aproveitar esse momento para defender o papel da fonte nuclear como uma das peças fundamentais no combate às mudanças climáticas. Para o diretor da agência, o argentino Rafael Grossi, chegou a hora de agir com base na ciência e nos fatos, sem ideologias. “De acordo com o melhor conhecimento científico da atualidade, a energia nuclear faz parte da solução”, declarou em mensagem divulgada pela AIEA.

De fato, há muitos técnicos e cientistas que já afirmaram que os objetivos internacionais sobre o clima só poderão ser alcançados com a participação da energia nuclear. Especialistas da Comissão Econômica da ONU para a Europa (UNECE) divulgou um relatório, em agosto, destacando a importância da fonte para evitar que a temperatura global suba mais do que 1.5° Celsius. “A energia nuclear fornece mais de um quarto da energia limpa do mundo. Ao longo do último meio século, evitou a liberação de mais de 70 gigatoneladas de gases de efeito estufa. Sem a energia nuclear, muitas das maiores economias do mundo não teriam sua principal fonte de eletricidade limpa”, defendeu Grossi.

cop26O diretor da agência, no entanto, alega que para o mundo atingir o valor de emissões líquidas zero, a energia nuclear precisa ganhar uma maior participação na matriz energética mundial. “Esse é o consenso científico do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e de outros importantes especialistas em clima”, lembrou. A AIEA sediará e participará de diversos eventos na COP26 para contribuir com o debate sobre os benefícios e o papel da energia nuclear. Na quinta-feira (4), por exemplo, Grossi, ministros de estado e líderes da indústria estarão no evento “Nuclear Innovation for a Net Zero” [que será transmitido neste link]. Durante o encontro, será discutida a relação de complementariedade entre a energia nuclear e as energias renováveis na transição para um futuro neutro em carbono. O encontro também debaterá como a cooperação internacional pode ajudar na transição para o chamado net zero.

Diante da mudança climática, somos todos uma nação. Então, vamos abandonar a ideologia. A parceria nuclear com energias renováveis pode nos levar a zero e levar nossas economias à prosperidade sustentável. A energia nuclear precisa de um lugar à mesa. Estarei em Glasgow para garantir que haja um”, finalizou Grossi.

PETROLEIRAS INTERNACIONAIS SEM PAPEL OFICIAL NA COP26

ben Van BeurdenA COP26 será marcada também pela ausência das grandes companhias internacionais de petróleo. Nos últimos dias, a imprensa internacional revelou documentos e e-mails que mostram a decisão da organização da cúpula de deixar as petroleiras de fora dos debates. Com isso, além de não terem envolvimento oficial com o evento, as companhias de petróleo também não farão qualquer tipo de patrocínio ao evento. Apenas a título de comparação, na edição passada da COP, em 2019, na cidade de Madri, a lista de participantes registrados trazia nomes de executivos de empresas como BP, Total, Eni, Enel, BHP Billiton, Equinor e também a Shell.

O presidente-executivo da Shell, Ben van Beurden (foto à esquerda), foi categórico, na última semana, ao dizer que a companhia não participará do encontro. “Disseram-nos que não éramos bem-vindos, por isso não estaríamos lá. Provavelmente é só isso”, declarou Beurden, durante a apresentação dos resultados financeiros da Shell no terceiro trimestre. “Espero que, de fato, as pessoas que estão representando as nações do mundo façam as escolhas certas”, completou. O movimento de não aceitar as petroleiras na COP26 foi entendido como um puxão de orelhas à indústria de óleo e gás. Foi um recado claro, mostrando insatisfação com as atuais contribuições propostas pelas empresas do setor no debate sobre o aquecimento do planeta.

Antonio GuterresEnquanto isso, os investimentos e incentivos em fontes fósseis deverão ser fortemente contestados durante o encontro. O secretário-geral das Nações Unidades, António Guterres (foto à direita), escreveu recentemente um artigo de opinião dizendo que a crise climática é um alerta vermelho para a humanidade. Para ele, é preciso trocar os subsídios dos combustíveis fósseis por energia renovável e taxar a poluição e não as pessoas. “Só há um caminho à frente. Um futuro com 1,5 grau Celsius é o único futuro viável para a humanidade. Os líderes precisam seguir com o trabalho em Glasgow, antes que seja tarde demais”, completou Guterres em seu artigo.

O secretário da ONU já havia falado em “sentença de morte” para as fontes fósseis após a publicação do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês).

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