EX-DIRETOR DA PETROBRÁS ESTUDA INVESTIR EM PEQUENAS REFINARIAS NO BRASIL
Por Daniel Fraiha / Petronotícias
“Não me pergunte nada sobre a administração da Petrobrás que eu não poderei comentar por uma questão ética”. Antes de qualquer comentário ou pergunta, o ex-diretor de abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que atualmente comanda a consultoria Costa Global, deixou claro que não pretendia entrar em assuntos da estatal. É com grande orgulho que Costa fala dos 35 anos e três meses em que trabalhou na empresa. Os troféus em sua sala são um sinal das lembranças, mas o que chama ainda mais a atenção é um uniforme laranja – dos utilizados pelos funcionários da Petrobrás em plataformas –, com a assinatura de Lula estampada do lado esquerdo do peito, emoldurado com destaque em uma das paredes. Ao lado, um enorme painel com imagens de instalações de petróleo completam o ambiente de trabalho do executivo que por oito anos dirigiu a área de abastecimento da Petrobrás. Apesar da fala saudosa e do respeito pela empresa, Costa não parece nenhum pouco infeliz no novo emprego, e um dos planos que tem em mente é o investimento em pequenas refinarias em pontos chaves do território brasileiro. Confira a segunda parte da entrevista com o executivo a seguir. (Veja aqui a primeira parte, publicada em 19/02).
Interessa à Costa Global investir em refino? Tem algum projeto de montar refinaria?
Interessa. Obviamente que não uma refinaria do porte das que a Petrobrás está fazendo, porque é um investimento muito grande. Mas existe possibilidade de avaliação aqui dentro da Costa Global de unidades menores de refino. Estamos hoje trabalhando neste sentido também.
Menores de que tamanho?
Entre 5 mil e 10 mil barris [por dia], localizadas em locais estratégicos do ponto de vista logístico e de mercado. Hoje existem gaps em termos de logística e em termos de mercado que nós possivelmente temos condição de atender. Então é um projeto ainda em fase inicial, mas também estamos avaliando essa possiblidade.
Seriam várias unidades?
Seriam várias pequenas unidades. Já tenho o investidor e já tenho o parceiro tecnológico. Estamos discutindo como fazer o casamento entre eles. Hoje está em fase de namoro.
Em relação aos derivados, você teve que lidar muito tempo com a dificuldade de reajustar o preço dos combustíveis na Petrobrás?
Esse assunto eu não vou comentar. O comentário que eu posso fazer é que a Petrobrás está hoje, como já estava no meu tempo, operando no limite de capacidade das suas refinarias, com o fator de utilização acima de 90%, que é um fator altíssimo, às vezes passando 94%, 96%. Então é extremamente necessário o andamento e a construção das refinarias novas. A Petrobrás está fazendo isso, com o Comperj e com o Rnest. O mercado de derivados hoje está na faixa de 2,2 milhões a 2,3 milhões [de barris por dia], dependendo da sazonalidade. Daqui a oito, dez anos, isso vai para 3,2 milhões, sendo que a capacidade de refino já está no limite, em torno de 2 milhões de barris. Ou seja, é preciso agregar mais 1,2 milhão de barris até 2020. Então elas não podem sofrer atrasos, têm que ser feitas, porque isso é reflexo direto em relação à Petrobrás atender ao mercado. E, caso isso não ocorra, só vai aumentar a necessidade de importação, o que não é um bom negócio para a companhia.
Você acha que é um bom negócio para a Petrobrás ter parceiros nas refinarias?
Existe um problema muito sério que é o fato de os parceiros sempre quererem praticar um preço de mercado e às vezes a Petrobrás pratica um preço de mercado no longo prazo. Então acho que tem que fazer as refinarias, porque se não só vai sangrando a companhia, porque você compra lá fora e, com a política de longo prazo, às vezes ganha, às vezes perde.
O que acha que ficou de mais relevante de todos esses anos na Petrobrás?
Acho que fui um cara muito abençoado. Porque entrei por concurso público, no dia 2 de fevereiro de 1977, comecei como engenheiro estagiário, subi todos os degraus e terminei minha carreira como diretor da companhia, no dia 28 de abril de 2012, então me considero totalmente realizado profissionalmente. Nesses últimos oito anos na área de abastecimento, tivemos muitas conquistas, com o crescimento da empresa nessa área e a adequação das refinarias para a qualidade dos derivados, que foi um projeto lindo que a gente fez. Hoje já tem o fornecimento da Petrobrás de diesel com 10 partes de enxofre por milhão, sendo que em 1980, com a legislação vigente da época, era de 12 mil partes por milhão.
Como foi esse processo?
A Petrobrás teve que fazer um investimento gigantesco, de bilhões de dólares, para oferecer esse diesel. E esse trabalho foi feito em todas as refinarias. Além disso, dei inicio à construção das refinarias, depois de 32 anos sem [a Petrobrás] construir nenhuma. Tive a oportunidade de iniciar as refinarias da Rnest, do Comperj, Premium I e Premium II, e, coroando isso tudo, a grande competência da equipe da Petrobrás, de um relacionamento muito profícuo, com todo pessoal. Me senti muito realizado de ter participado de tudo isso. Só tenho uma pessoa a agradecer por isso tudo e essa pessoa é Deus.
O que você pôde carregar de herança da Petrobrás para o trabalho atual?
Primeiro, todo o conhecimento. E o grau de relacionamento que tive com quinhentas mil pessoas, sempre relacionamento de respeito, profissional. Então, quando alguém vem me procurar, sabe como foi meu passado na companhia, como eu agi, e isso tudo é um alavancador das coisas que eu estou fazendo hoje na Costa Global.
Está gostando da nova fase, sem a pressão de ser um diretor da Petrobrás?
Estou. Obviamente a pressão aqui é muito menor, nem se compara com o que acontecia na Petrobrás, em termos de pressão de trabalho e de responsabilidade. Aqui eu sou o meu patrão, então se eu quero começar só às nove horas, eu começo, se quiser sair às quatro, eu saio. Quando eu me aposentei, pensei que eu ia trabalhar, depois de 35 anos de trabalho árduo, num sistema “TQQ”, que é só terça-quarta-quinta, mas não consegui. Estou trabalhando de segunda à sexta e às vezes ainda levo coisa para casa. Mas acho isso muito bom, porque o volume de atividade aqui está sendo grande, muito motivador para mim, e sem a pressão que tinha antes.
Como era a pressão?
O pessoal de fora perguntava “O que é a área de Abastecimento?”. Eu dizia o seguinte: “Se faltar um litro de qualquer derivado seja no Amapá ou no Rio Grande do Sul, a culpa é do diretor de Abastecimento”. Porque a Petrobrás não tem o monopólio da produção, nem do refino, nem da distribuição, mas ela tem o compromisso moral de entregar os derivados em qualquer parte do país. Uma coisa que orgulha muito a Petrobrás é que mesmo com todas as crises, guerras do Oriente Médio, conflitos globais em geral, ela nunca deixou de atender ao mercado brasileiro de derivados – com muita dificuldade às vezes, mas por parte dela nunca faltou derivado em qualquer lugar do Brasil.
Como foi a saída da Petrobrás?
Na Petrobrás você está diretor, você não é diretor, não nasceu diretor, nem vai morrer diretor, então houve uma mudança de gestão e alguns ajustes foram feitos. Alguns diretores saíram e eu fui um dos diretores que saiu. E nessa época, em abril, eu já era aposentado da Petrobrás. Eu tinha um vínculo como diretor, mas como empregado já estava aposentado, então a minha saída foi tranquila, sem nenhuma dificuldade.
Quais são as expectativas para 2013?
O Brasil tem oportunidades ímpares na mão, seja com o pré-sal ou com o crescimento de um modo geral. Obviamente tem que superar alguns gargalos, com destaque para infraestrutura, e o governo está atuando pesado nessa área. O Brasil precisa dar um salto nessa parte porque vai gerar um menor custo Brasil. E em relação à mão de obra, você melhorando a produtividade do trabalhador brasileiro, aliado ao salto de infraestrutura, vai tornar o país competitivo no mundo. Essa é a década do Brasil. Todas as classes da sociedade têm que pegar o mesmo norte e remar em conjunto. Então teremos um modelo de referência internacional.
E em relação à Costa Global?
Começamos a atuar em final de agosto, início de setembro do ano passado, então nesses meses estamos plantando muitas coisas. Em 2013 espero começar a colher o que plantamos.
Quem diria sr. Paulo, pego por uma evoque.