DELCÍDIO AMARAL DECIDE FAZER DELAÇÃO PREMIADA E PODE INFLUENCIAR PROCESSO DE IMPEACHMENT

Uma frase antiga diz que o Brasil é abençoado, porque, além das belas paisagens, não tem terremotos, vulcões ou furacões. Ao pé da letra, é verdade, mas na política brasileira a Operação Lava Jato fez a terra tremer muitas vezes desde o início do ano passado. E agora treme novamente, com epicentro em Brasília, onde o senador Delcídio Amaral, preso após ser flagrado planejando a fuga de Nestor Cerveró, decidiu fazer delação premiada. A depender do que revelar o ex-líder do governo no Senado, seus depoimentos devem sacudir os alicerces de Brasília, com forte impacto sobre os deputados que votarão no processo de Impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A decisão de Delcídio, que contratou para isso o advogado Antonio Augusto Figueredo Basto, responsável por cuidar de vários acordos de delação anteriores na Lava Jato, veio após muita pressão de familiares e após ele se ver isolado na prisão, sem movimentações aparentes para sua libertação. Agora, pode ser que esse cenário mude, já que o senador era líder do governo no Senado, com trânsito livre entre os maiores caciques políticos do PT, incluindo a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. Além disso, a relação de Delcídio com o PSDB também vem de longo tempo, já que ele foi diretor da Petrobrás entre 1999 e 2001, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Na gravação que levou o senador para a prisão, captada pelo filho de Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, Delcídio discutia formas de pressionar o Supremo Tribunal Federal para liberar o ex-diretor da estatal da prisão, negociava para que Cerveró não citasse seu nome, nem o do banqueiro André Esteves – também preso –, e chegou a falar sobre as melhores formas de ajudá-lo a fugir para a Espanha, caso conseguissem um Habeas Corpus.

O áudio, que revelava muitos detalhes dos bastidores espúrios da política brasileira, ainda deixou claro como nem a Operação Lava Jato, nem as dezenas de prisões de grandes figuras da engenharia nacional reduziram a voracidade com que o interesse político dispõe da Petrobrás, já que na mesma reunião o senador chega a discutir com o advogado Edson Ribeiro sobre a criação de uma nova diretoria na estatal, de TI, que teria orçamento de um bilhão. Eles chegam a falar o nome que seria indicado para a vaga, Edson Feitosa dos Santos, e dizem que, como não seria uma área essencial da companhia, “ninguém encheria o saco”.

Até o início desta semana, Delcídio ainda esperava um resgate de seus pares políticos, mas na segunda (7) o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, formalizou a denúncia criminal contra o senador, além de obter a autorização do Supremo para abrir mais dois inquéritos contra ele. Com isso, o ex-líder do governo no Senado bateu o martelo pela delação.

O resultado do que ele revelar pode ser decisivo para o futuro do País, que vive dias de tensão em torno da abertura do pedido de Impeachment da presidente Dilma na Câmara. A delação de Delcídio terá forte impacto na votação dos deputados, apesar da tentativa de muitos em afastar o “teor político” do processo.