DELOITTE DEFENDE MAIOR FLEXIBILIDADE DO GOVERNO EM RELAÇÃO AO PRÉ-SAL | Petronotícias




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DELOITTE DEFENDE MAIOR FLEXIBILIDADE DO GOVERNO EM RELAÇÃO AO PRÉ-SAL

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Carlos Vivas, líder de óleo e gás da Deloitte no Brasil

No 26° andar do Palácio Austregésilo de Athayde, no Centro do Rio de Janeiro, mesmo a bela vista para a Baía de Guanabara não amoleceu as palavras dos executivos da Deloitte voltados à área de óleo e gás. Na visão deles, é preciso uma flexibilização do governo em relação às regras de exploração no pré-sal, para que a indústria não seja prejudicada caso a Petrobrás não tenha condição de fazer frente aos investimentos necessários.

Como manda o novo marco regulatório, a estatal brasileira deverá ter pelo menos 30% de participação em todos os blocos do pré-sal, onde será obrigatoriamente a operadora. O que foi pensado pelo governo como uma maneira de garantir a presença da Petrobrás nas grandes reservas nacionais de petróleo é visto por parte da indústria como um possível entrave à ágil expansão da exploração no país.

“O nível de investimento para essas áreas é muito grande, então isso pode prejudicar a viabilização não só de Libra, mas de outros campos que ainda serão ofertados, onde pode haver dificuldades para que esses 30% sejam seguidos pela Petrobrás”, afirmou o líder de óleo e gás da Deloitte no Brasil, Carlos Vivas, antes de complementar: “Provavelmente vamos ter que encontrar algum tipo de flexibilização para que esse percentual seja mudado no curtíssimo prazo”.

A Deloitte tem a Petrobrás como um de seus principais clientes no país, onde atua com 800 funcionários no escritório carioca, de um total de 5 mil empregados espalhados por todas suas unidades brasileiras. Uma das maiores empresas do mundo na área de auditoria e consultoria, a companhia britânica, fundada em 1845, inaugurou um centro de excelência em óleo e gás no Brasil, com o objetivo de aproveitar as oportunidades que estão surgindo com a volta das rodadas de licitação da ANP.

Ricardo Savini, diretor do centro de excelência em óleo e gás da Deloitte

A unidade, que deverá contar com 120 funcionários exclusivamente dedicados a ela, mais uma boa parcela do quadro geral como auxiliares, é a primeira do tipo que a Deloitte instala na América Latina e a quinta no mundo. Com US$ 1 milhão de investimentos, um andar inteiro no edifício da Academia Brasileira de Letras, o Centro de Excelência pretende abarcar ainda mais clientes para a gigante, que fechou o último ano fiscal com receita global de US$ 32,4 bilhões. No Rio de Janeiro, o setor de petróleo e gás responde pela maior parte dos negócios da empresa, representando cerca de 60% do faturamento do escritório local. Para que esse mercado não dê um primeiro salto e acabe emperrado em alguma esquina, os executivos da empresa defendem que as mudanças no marco são necessárias.

“Se nada mudar, a variável é o tempo de entrada de novos leilões. Certamente isso será espaçado no tempo para dar fôlego à Petrobrás, para que possa investir e operar novas áreas”, afirmou o diretor do Centro de excelência da Deloitte, Ricardo Savini, que já atuou na estatal no passado e até recentemente era diretor de operações sísmicas da Georadar.

IOCs, NOCs E OS CHINESES

O líder global de óleo e gás da Deloitte, Adi Karev, de origem israelense e com mais de vinte anos atuando em diversos pontos do globo, acredita que, independente da mudança regulatória, a indústria de óleo e gás brasileira deva passar por transformações relevantes nos próximos anos. Para ele, com a entrada de novas empresas estrangeiras e a maior participação de companhias multinacionais no mercado do país, haverá novas perspectivas no horizonte de investidores, induzindo a revisão de posturas.

Adi Karev, líder global de óleo e gás da Deloitte

“As transformações que afetarão o Brasil, em termos de mudanças de governança, da dominância da Petrobrás, da visibilidade e do nível de conforto associado a empresas estrangeiras no país, serão tantas, que o risco de empresas não-brasileiras, focadas principalmente no retorno financeiro, sem o benefício do relacionamento político entre governos, será menor. Será percebido como menor. Então acho que nesse tempo veremos as IOCs [International Oil Companies – companhias internacionais de petróleo] vindo com mais força ao país”, afirmou.

Karev ressalta que as companhias internacionais não têm atuado com tanta presença no país por avaliarem que há componentes de risco maiores do que em outras áreas do globo em que há ofertas de ativos, mas acredita que elas virão com mais afinco em dois ou três anos. Além disso, os chineses devem representar um papel importante no cenário global de exploração de petróleo nos próximos anos.

Com um planejamento de expandir os investimentos para fora da China, as estatais do país asiático têm o aval do governo para alocarem dezenas de bilhões de dólares em ativos de exploração nos próximos cinco anos. O executivo explica que há pouco tempo, quando as estatais começaram a comprar participações em blocos e em empresas pelo mundo, o foco era a produção, para que pudessem aprender e se preparar para os investimentos em exploração fora do próprio território. Agora esse momento está se desenhando e Karev dá sinais de que a atuação deles deixará marcas, como têm feito em todas as indústrias em que já investiram:

“Eles aprendem rápido e imitam. E fazem isso extremamente bem”.

PEQUENAS E MÉDIAS NA 12ª RODADA

Robin Mann, sócio da Deloitte Canadá, especialista em recursos não convencionais

Não só a primeira rodada do pré-sal deve ser um marco na história da indústria de petróleo e gás nacional. A 12ª rodada, voltada a ativos de gás convencional e não convencional, também deverá ter papel relevante no desenvolvimento do mercado brasileiro. Essa é a visão de Robin Mann, sócio da Deloitte Canadá, geólogo e especialista em gás não convencional.

Ele afirma que o desenvolvimento de recursos não convencionais no Brasil até agora é mínimo, mesmo com os grandes esforços que a Petrobrás tem dispendido em entender esse tema, e prevê que as pequenas e médias empresas norte-americanas deverão se destacar no leilão.

“Atualmente as grandes estão inundadas com gás e seus conselhos de administração e seus investidores não vão querer que elas busquem o mesmo fora de seus países. Então as pequenas e médias vão querer vir, porque as grandes de lá já possuem a maior parte das reservas”, afirmou.

O diretor do centro de excelência, Ricardo Savini, destacou que, nos Estados Unidos, quando houve o boom do shale gas, já havia uma malha de dutos incrivelmente interligada no país, o que não é nem de longe a realidade brasileira, portanto o modelo de negócios provavelmente se dará de outra maneira.

“A oportunidade é monetizar o gás a partir de geração elétrica, como a OGX fez na Bacia de Parnaíba”, disse.

UNIVERSIDADE DELOITTE

Junto com o novo centro de excelência em óleo e gás da empresa britânica, virá também mais qualificação para o quadro de funcionários, que deverão passar por um intenso processo de treinamentos após a entrada na empresa, segundo Carlos Vivas.

Savini é partidário do mesmo propósito e contou que tem defendido a ideia de instalar uma universidade Deloitte aqui no Brasil, para a constante capacitação dos funcionários, como já acontece em outras unidades da empresa no exterior, mas ressaltou que a decisão ainda não foi tomada.

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