DEMANDA DA EUROPA MOBILIZA TURQUIA, AZERBAIJÃO E TURCOMENISTÃO PARA CONSTRUÍREM UM NOVO GASODUTO NO MAR CÁSPIO

gasodutoOs ministros das Relações Exteriores da Turquia, Azerbaijão e Turcomenistão se reuniram em Ancara para uma reunião trilateral. No topo da agenda estava a energia. Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, os mercados globais de energia ficaram em desordem. Em nenhum lugar isso está sendo sentido mais agudamente do que na Europa. Ao longo dos anos, o continente não conseguiu diversificar suas fontes de petróleo e gás, enquanto depositava muita fé em fontes de energia renovável, que permanecem caras e menos produtivas. Isso levou a uma dependência do petróleo e gás russos, o que dá a Moscou uma vantagem geopolítica. A  Europa começar a procurar melhores opções para suas importações de energia. E os olhos se voltam para o norte da África, o Mediterrâneo Oriental e até mesmo exportações de gás natural liquefeito de países distantes, quanto os Estados Unidos  e alguns do Golfo Pérsico.

No entanto, uma área à qual a Europa deve prestar especial atenção é a região em torno do Mar Cáspio. É por isso que a reunião dos ministros das Relações Exterioresmapa da Turquia, Azerbaijão e Turcomenistão foi tão importante. A região do Cáspio tem uma estimativa de 292 trilhões de pés cúbicos de gás natural em reservas provadas e prováveis. Também possui uma extensa e confiável infraestrutura de gasodutos que a conecta aos mercados da Europa. No entanto, uma peça importante do quebra-cabeças  da energia do Cáspio continua faltando: um gasoduto transcáspio,  ligando o Turcomenistão na costa leste com o Azerbaijão no oeste. Acredita-se que o Turcomenistão tem a  maior reserva de gás natural do mundo, embora seja ligado fundamentalmente ao governo russo.

Um gasoduto é a única maneira economicamente viável para  transportar o gás natural através do Mar Cáspio porque a alternativa, transformá-lo em GNL, é muito cara para transporte em uma distância tão curta. Sem um gasoduto através do mar, portanto, não há maneira lucrativa de transportar gás da Ásia Central para a Europa sem primeiro passar pela Rússia. A ideia de construir um gasoduto de gás natural através do Mar Cáspio tem sido debatida há décadas. No entanto, existem quatro razões pelas quais agora é o momento certo para finalmente construir um. Em primeiro lugar, o Turcoemenistão está sem dinheiro. Seus dirigentes confiaram  muito nas exportações de gás natural para poucos clientes, principalmente Rússia e China. O país vive uma crise econômica. Os investidores internacionais que podem entrar no país estão relutantes em fazê-lo porque pouco foi feito para melhorar o clima de negócios, privatizar indústrias estatais ou combater a corrupção desenfreada.

paulo fernandesO maior potencial para o Turcomenistão reverter sua terrível situação econômica está em seus recursos energéticos. O ex-presidente Gurbanguly Berdimuhamedov recentemente entregou o poder a seu filho, Serdar. Resta saber se ele adotará uma abordagem mais aberta ao investimento estrangeiro do que seu pai, mas uma coisa é certa: o Turcomenistão precisa de novos fluxos de receita e um gasoduto transcaspiano pode ajudar. O CEO da empresa brasileira Liderroll, Paulo Fernandes ( foto a esquerda) esteve no Turcomenistão em conversações sobre a construção de um outro gasoduto, que levaria o gás para países como a China, Afeganistão, Paquistão e Índia. O projeto inicial previa a construção de um túnel de quilômetros, cortando parte da cadeia de montanhas da região, por onde parte do gasoduto está programados para ser lançado.

 Nenhum país apoiou a ideia de um gasoduto sob o mar no passado. Rússia e Irã  já sabiam que isso os eliminaria  quaisquer acordos de gás com a Europa. No entanto, nenhum deles está atualmente em posição de fazer muito sobre um projeto de gasoduto transcaspiano. Diante das sanções econômicas, a economia da Rússia continua frágil. Embora o apoio popular à guerra na Ucrânia permaneça alto. O Irã também enfrenta problemas econômicos semelhantes em casa. O presidente Ebrahim Raisi está lidando com os crescentes protestos públicos em todo o país. Enquanto isso, um novo acordo nuclear com os Estados Unidos  parece improvável. Portanto, é provável que tanto Moscou quanto Teerã tenham problemas maiores para se preocupar do que um gasoduto transcaspiano.

A  maior parte da infraestrutura já está instalada para fornecer gás do Turcomenistão para a Europa. No lado ocidental do Mar Cáspio, o Corredor de Gástapi Meridional começou a operar em 2020. Esta rede de gasodutos, com 3.340 km em sete países, tem potencial para fornecer 60 bilhões de metros cúbicos de gás natural anualmente para a Europa. Na costa leste do Mar Cáspio, Ashgabat, capital do Turcomenistão,   já construiu seu chamado gasoduto Leste-Oeste, um gasoduto de 780 km que liga a província de Mary, no leste, com a costa do Cáspio do país. Tem potencial para transportar 30 bilhões de metros cúbicos anualmente. Finalmente, a maioria dos obstáculos legais à construção de um gasoduto já não existe. A Convenção sobre o Estatuto Jurídico do Mar Cáspio, assinada por todos os cinco estados litorâneos do Cáspio em 2018, permite o estabelecimento de oleodutos com o consentimento apenas dos países envolvidos no projeto.

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