RETOMADA DE CONTRATAÇÕES NA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO É ESPERADA SOMENTE PARA DEPOIS DE 2017
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
A crise da indústria de petróleo, que ocorre no cenário internacional pela queda do preço do barril, e é ainda mais extensa no Brasil, por conta dos desdobramentos da Operação Lava Jato e da difícil situação econômica do País, vem afetando profundamente a demanda por mão de obra nacional. Os estaleiros e os canteiros de obras do segmento passam por graves esvaziamentos em diversos estados e a questão também se reflete no alto escalão das empresas, com menos oportunidades para profissionais com alto nível de qualificação e redução de salários em cargos de diretoria. A gerente executiva da Michael Page, Giovanna Dantas, afirma que apenas este ano a empresa teve a carteira de projetos no segmento reduzida em 40% e vê 2015 como um ano de luta. No entanto, a executiva se mantém otimista e acredita que a venda de ativos da Petrobrás, estimada em um total de US$ 13,7 bilhões, e as atividades de exploração na Margem Equatorial podem dar novos impulsos às contratações nos próximos anos. Ainda assim, ela reconhece que a retomada do crescimento da demanda de mão de obra deve ocorrer apenas a partir de 2017 ou 2018.
Como a crise no setor de petróleo está afetando a demanda por mão de obra qualificada no Brasil?
A crise está afetando a demanda sim. O que gera demanda são os projetos. Hoje, não temos projetos novos em andamento, ou temos na fase de análises de estudos ou de produção. Então, o momento atual, com poucas perspectivas, faz o mercado ficar receoso e as empresas não querem investir. Então temos uma crise interna política e econômica, aliada a uma crise global por conta da baixa do barril. É uma tempestade perfeita. Então existe uma crise grande de segurança em relação aos investidores, porque não se sabe bem o que vai acontecer com a Petrobrás e não há outro grande player no mercado. Quase todos os projetos estão relacionados a ela e ela está parada.
Como a indústria está se posicionando em relação a isso?
Hoje, o momento como um todo é de esperar para ver o que vai acontecer com a Petrobrás e com a indústria. Existem empresas que estão de olho nos ativos que devem ser ofertados no próximo leilão da ANP, então temos que aguardar as decisões políticas para saber para onde vamos.
Quais têm sido as áreas menos afetadas em termos de demanda de mão de obra na indústria de petróleo?
Quando pensamos em contratação de mão de obra para óleo e gás, podemos dividir o ciclo de vida dos projetos em três fases. A primeira em estudos e análises sísmicas; a segunda de exploração e desenvolvimento dos projetos – que inclui a fase de perfuração de poços, então tem muita demanda por empresas de serviço, com mais de 60% do custo relacionado à mão de obra. A última fase é a de produção, e, de maneira geral, já tem equipes montadas, então conta mais com recolocação de profissionais, mas não tem uma demanda muito grande. Os menos afetados são as profissionais relacionadas à produção, como engenheiro de produção, de reservatório e de integridade de ativos. Esses são alguns profissionais que continuam tendo demanda.
E quais os mais afetados?
Os que tem uma dificuldade maior são os cargos relacionados à exploração, como gerente de perfuração e gerente de instalação offshore, por exemplo. Tem uma demanda muito alta para os que trabalham na parte de apoio logístico, porque o dia a dia da operação continua. Já os estaleiros vão sofrer ainda mais e vão ter um baque ainda maior com demissões em massa do pessoal operacional, se os contratos da Sete Brasil forem realmente cancelados. Se acontecer mesmo o que tem sido falado da Sete Brasil, muitos empregos serão cortados.
Além disso, hoje todas as empresas estão reduzindo os investimentos em exploração e produção, por conta da redução do preço do barril do petróleo. Mas quando houver recuperação do preço, vai haver uma retomada forte e rápida.
A empresa tem alguma avaliação em termos percentuais da queda da demanda por mão de obra?
Tivemos uma redução de carteira por volta de 40%, em termos de posições sendo trabalhadas, já em 2015. Não há projetos e não há perspectivas de projetos. A indústria de petróleo é diferente, porque se tem uma reserva e continua a explorar aquela reserva, começa a perder valor, porque ele está atrelado às reservas da empresa. E se não há novas licitações, não há renovação de reservas.
Agora a Petrobrás sinalizou que vai se desfazer de US$ 13,7 bilhões de ativos, o que deu uma animada nas empresas. Temos que esperar para ver o apetite dos investidores para isso. Imagino que essa demanda volte a crescer, porque toda Margem Equatorial está sendo analisada, na aquisição de dados sísmicos, e tem datas limites estabelecidas pela ANP, o que deve fomentar novas contratações.
Houve queda de salários? De que ordem?
Houve uma redução salarial. A indústria ficou muito aquecida e o mercado ficou inflacionado depois de 2010, influenciado também pelas empresas do Grupo EBX e pela HRT na época. Muitas empresas buscaram mão de obra na Petrobrás, inflacionando em 30%, 40% os salários para atrair esses profissionais. Hoje alguns desses profissionais saíram, as empresas estão passando por problemas, demitindo, congelando salários, com demissões mundiais e os salários voltaram ao patamar de 2010, quando não tinha acontecido ainda essa inflação.
Como está esse quadro atualmente?
Hoje há vários projetos em que as pessoas estão recebendo menos. Pessoas que recebiam de R$ 45 mil a R$ 50 mil estão aceitando R$ 40 mil pelos mesmos cargos. Ainda são salários altos, e sempre serão altos na indústria de petróleo, mas é uma redução drástica para um diretor de operação, por exemplo. Há um tempo atrás, esse mesmo profissional não se movimentaria sem receber um aumento para R$ 60 mil ou R$ 70 mil. Hoje, eles já aceitam se movimentar passando a receber menos. Muitas empresas oriundas do mercado de construção e montagem vinham contratando pessoas do setor e agora isso mudou, com menos players no mercado. Então essas pessoas se vem com menos opções e muitas querem se movimentar, dispondo-se a ter uma redução salarial em uma empresa em que veem mais perspectivas.
Como deve ser este ano e quando deve haver uma retomada do crescimento?
A visão que a gente tem hoje é que 2015 será um ano de luta, mas que o mercado vai voltar. O Brasil é internacionalmente reconhecido como um local com muitas reservas e as petrolíferas precisam repor reservas, então veem o Brasil como um país em que precisam estar. Já passamos por diversas crises complicadas, como em 2008, isso será superado. Acredito que para 2017, 2018, voltemos a ter um mercado aquecido.
Quais os caminhos que indicam para os executivos que estão precisando se realocar no mercado?
O caminho que indico é manter o networking, sempre entrar em contato com alguém que está atuando no mercado de forma pró-ativa, como a nossa equipe, que está sempre conversando com os principais stakeholders do mercado. É importante também atualizar o currículo e ter contato com empresas especializadas em recolocação no mercado. Outros caminhos são cursos de atualização, como pós-graduações, assim como buscar fazer parte de algum comitê ou algum grupo relacionado à área de atuação, para que se mantenha sempre ativo e aumente seu networking, tendo seu nome ainda circulando no mercado.
Como o cenário para 2016 se modificou com a crise política, ameaça de impeachment, lava jato e piora da crise economica ?