DIRETORA DA WNA DEFENDE QUE O BRASIL DESENVOLVA A GERAÇÃO NUCLEAR MAIS RAPIDAMENTE
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
Celeridade. É disso que o Brasil precisa no que diz respeito ao desenvolvimento de seu parque de geração nuclear. A opinião é da diretora-geral da World Nuclear Association (WNA), Agneta Rising, que esteve recentemente no país para participar do evento World Nuclear Spotlight, no Rio de Janeiro. Agneta ficou satisfeita com os anúncios dos representantes do governo brasileiro, que se mostraram compromissados com a conclusão de Angra 3 e a construção de novas usinas. No entanto, a diretora da WNA alerta que a “energia nuclear poderia, e deveria, se desenvolver mais rapidamente no Brasil”. Ela aponta ainda que a demanda por eletricidade cresce continuamente e a capacidade nuclear será necessária para garantir o fornecimento de eletricidade limpa e confiável. Apesar dos desafios, o Brasil pode ter, cada vez mais, destaque dentro do programa Harmony, que visa uma fatia de 25% de fonte nuclear na eletricidade global até 2050. “O Brasil pode contribuir para o sucesso global do programa Harmony sendo um forte defensor da energia nuclear no cenário internacional”, concluiu.
Qual a importância do Brasil para os objetivos do programa Harmony?
O objetivo do Harmony é que a energia nuclear forneça 25% da eletricidade global até 2050. Para isso, é importante que países como o Brasil, que possuem uma longa experiência em tecnologias nucleares, liderem a expansão de sua capacidade de geração nuclear.
Como o Brasil pode contribuir com os objetivos do programa?
O Brasil pode contribuir com o programa Harmony apoiando o desenvolvimento da energia nuclear. Atuando de forma que as atuais barreiras ao desenvolvimento da energia nuclear sejam removidas. Isso trará benefícios significativos para o Brasil, além de resultar no ar mais limpo e no fornecimento de eletricidade mais confiável. A construção e operação de usinas nucleares trarão excelentes oportunidades de trabalho.
O Brasil também tem muita influência regional e internacional, inclusive como um dos países do BRIC e um dos principais membros do G77. O Brasil pode contribuir para o sucesso global do programa Harmony sendo um forte defensor da energia nuclear no cenário internacional.
O desenvolvimento da energia nuclear no Brasil poderia ter um ritmo mais acelerado?
A energia nuclear poderia, e deveria, se desenvolver mais rapidamente no Brasil. O país tem a expertise de operar usinas nucleares por mais de 40 anos. O desempenho de seus reatores tem melhorado continuamente ao longo de sua vida útil. Eles alcançam desempenho de classe mundial hoje, com fatores de capacidade acima da média. A conclusão de Angra 3 será um passo importante no desenvolvimento da capacidade de geração nuclear do Brasil. Mas com a demanda por eletricidade crescendo continuamente no Brasil, mais capacidade nuclear será necessária para garantir um fornecimento de eletricidade limpo e confiável.
Qual é o maior desafio do Brasil para aumentar o uso da energia nuclear?
A energia nuclear é uma forma muito econômica de geração de eletricidade, quando considerada a vida útil de uma planta, com custos operacionais e de combustível relativamente baixos. No entanto, eles são projetos intensivos em capital durante suas construções. Por este motivo, a conclusão oportuna da construção é um fator importante. Angra 3 enfrentou interrupções em sua construção. Em todo o mundo, em média, o período de construção das usinas nucleares estão caindo, com o tempo gasto desde o início da obra até a conclusão da usina e o fornecimento de eletricidade à rede sendo regularmente inferior a cinco anos. É importante que os futuros projetos de construção recebam suporte contínuo de políticas e sejam bem administrados para garantir que sejam concluídos e forneçam eletricidade prontamente.
A WNA planeja novas ações ou eventos para estimular o uso de energia nuclear no Brasil?
Há muito tempo, a World Nuclear Association apoia o uso de energia nuclear no Brasil. Além do recente evento Spotlight, a World Nuclear University (WNU) realiza cursos regularmente no Brasil desde 2008, para oferecer treinamento sobre os últimos desenvolvimentos internacionais. A WNU realizará o curso deste ano em junho, em Brasília. Também estamos satisfeitos em ter empresas brasileiras como membros da World Nuclear Association. Estamos ansiosos para atender às necessidades de nossos membros e esperamos trabalhar com eles para ver como podemos continuar a apoiar a energia nuclear no Brasil.
Além disso, a World Nuclear Association tem coordenado o programa Harmony para a indústria nuclear global. Ele visa remover as barreiras que estão impedindo a indústria de atender à demanda crescente por uma contribuição muito maior da geração nuclear para o mix de energia. Isso inclui assegurar condições de concorrência equitativas nos mercados de energia que impulsionem o investimento em energia limpa; processos regulatórios harmonizados para fornecer um regime de licenciamento mais consistente internacionalmente, eficiente e previsível; e um paradigma de segurança eficaz focado no genuíno bem-estar público. Atingir essas metas estimulará o uso de energia nuclear no Brasil e no mundo, para ajudar a garantir um fornecimento de eletricidade limpa, confiável e segura para um futuro sustentável.
Como a senhora avalia os resultados do Spotlight Brazil, realizado no início do mês passado?
Eu acho que o Spotlight Brazil foi muito bem sucedido em reunir representantes do governo e líderes da energia nuclear brasileira e internacional para trocar experiências sobre questões como economia nuclear, tecnologia, recursos humanos, cadeia de suprimentos, financiamento e os benefícios gerais da energia nuclear. Fiquei satisfeita ao ouvir o compromisso com a conclusão de Angra 3, bem como os planos do governo de considerar novas usinas nucleares, incluindo reatores de Geração IV e SMRs [sigla em inglês para Pequenos e Médios Reatores] para suas usinas de energia de longo prazo.
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