DIRETORES DA PETROBRÁS ASSINAM CONTRATO BILIONÁRIO PARA DUAS PLATAFORMAS NO DIA DA POSSE DE MAGDA SEM COMUNICÁ-LA

Independente da religião que professa a nova presidente da Petrobrás, Magda Chambriard, que assumiu de direito o cargo na sexta-feira (24), mas de fato nesta manhã (27), ela vai precisar benzer a sua sala. E talvez não seja suficiente. O melhor mesmo é defumar a sala, usar um patuá, colocar na porta  um jarro de plantas  com Espada de São Jorge, outra de Comigo Ninguém Pode, Arruda, Guiné e espalhar pelos cantos cabeças de alho para afastar serpentes. Talvez assim possa se desviar da turma mais pesada que vai precisar enfrentar. Se você acha um exagero, veja o que aconteceu um dia antes  de sua posse, na sexta-feira. Enquanto a nova presidente recebia os parabéns, os tapinhas nas costas, o beija-mão, as felicitações e políticos se apresentando, parecendo íntimos, por trás, uma outra turma corria para assinar na Ásia os contratos das plataformas bilionárias P-84 e P-85, mas que no Brasil ainda era noite de quinta-feira (23). Isso sem o conhecimento da nova presidente da Petrobrás. E com um detalhe: a corrida para assinar os contratos era porque eles previam apenas 25% de conteúdo local, exatamente a principal bandeira com que o Presidente Lula reclamava com o ex-presidente Jean Paul Prates, e que pediu à Magda uma atenção especial a isso e à indústria naval.

Até para um mau entendedor, um pingo pode ser letra e frases, neste caso.  Antes mesmo de sua posse, a turma da licitação e os diretores responsáveis por essa assinatura, vamos dizer, não tiveram o “cuidado” de avisar à nova presidente que estavam assinando, às carreiras, do maior contrato  da companhia  este ano? Será que não poderiam ter comunicado anteriormente ou esperar dois dias para fazer a assinatura? Ou será que não sabiam da determinação do governo de  aumentar o índice de conteúdo local e dar mais incentivo à indústria naval? Ou sabiam disso tudo e disseram, “vamos correr com isso, não falar nada e mostrar que temos força”? Muito provavelmente, os diretores que assinaram estes contratos priorizaram as construções navais no exterior. Uma política avessa às novas diretrizes da companhia, pedida pelo presidente Lula.  Ou seja, uma nova política de Governo, portanto. É possível que sejam as primeiras cabeças à rolar.

Para lembrar, as duas plataformas serão construídas pela Seatrium e serão instaladas nos campos de Atapu e Sépia, em águas ultraprofundas, no pré-sal da Bacia de Santos, com início de produção previsto entre 2029 e 2030. O coração da construção ficará em Singapura, sede da Seatrium, e também na China. Aos estaleiros brasileiros, muito provavelmente só caberá a construção de módulos e a realização de serviços de comissionamento. As duas plataformas terão cada uma, capacidade de produção diária de 225 mil barris de óleo por dia e processamento de 10 milhões de metros cúbicos de gás por dia.  Atualmente, os campos de Atapu e Sépia contam com a produção de duas plataformas, sendo a P-70 no Campo de Atapu e o FPSO Carioca no campo de Sépia. P-84 e P-85 serão as segundas unidades em seus respectivos campos.

Como já dissemos em outra publicação, nem Lula e nem o ministro Alexandre Silveira querem a permanência de diretores que não coadunam com as diretrizes. Nem diretores, nem gerentes executivos. Mas Magda terá pela frente um desafio que até agora foram intransponíveis para os ex-presidentes da empresa:  Graça Foster,  Aldemir Bendine, Pedro Parente, Ivan Monteiro, Roberto Castelo Branco,  Joaquim Luna y Silva,  José Mauro Ferreira  Coelho, Caio Paes de Andrade e Jean Paul Prates. Nenhum deles teve poder sobre o departamento de Licitação. Nem os diretores de compliance ou conformidade e governança.   Fazem o que querem e como bem entendem, como a assinatura desses contratos com a Seatrium, que parece ter sido uma mensagem para a nova presidente Chambriard. Basta lembrar os tanques da Replan entregues à Toyo, que ficou em segundo lugar na licitação; ou o heliponto da P-53, que há anos precisa de três embarcações que custam US$ 30 mil por dia para estabilização da plataforma durante pousos de helicópteros.

Hoje (27) às 18 horas, a nova presidente da companhia dará a sua primeira entrevista coletiva à jornalistas, na sede da Petrobrás, no Rio de Janeiro. Só então, depois de tanta especulação, poderemos saber quais serão de fato às políticas prioritárias que ela deve implantar para a companhia. O Petronotícias aposta que o Polo Gaslub, o antigo Comperj, a Refinaria Abreu e Lima, a Margem Equatorial e a indústria naval receberão atenções especiais.