DÍVIDA DE R$ 4 BILHÕES DO GRUPO INEPAR COMPROMETE TODAS AS OBRAS DA IESA PARA A PETROBRÁS | Petronotícias




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DÍVIDA DE R$ 4 BILHÕES DO GRUPO INEPAR COMPROMETE TODAS AS OBRAS DA IESA PARA A PETROBRÁS

Valdir Lima CarreiroUma cascata que ainda não começou a molhar o solo. É mais ou menos assim que poderia ser definida a situação do grupo Inepar, cuja dívida já supera a marca de R$ 4 bilhões, entre bancos, fornecedores e direitos trabalhistas. Essa enxurrada de débitos a serem quitados, em valores que vão desde módicos  R$ 0,80 até uma conta de R$ 309 milhões com o BNDES, faz parte de uma longa lista de credores do grupo, com 279 páginas preenchidas, incluindo valores que estão sendo investigados pelas autoridades do Ministério Público.

No caso, não há nenhuma acusação formal envolvendo os  valores citados na lista de credores do grupo Inepar, mas as informações já estão no radar da Polícia Federal, que pretende pedir esclarecimentos sobre alguns serviços de empresas relacionadas em débitos admitidos. No mar de dívidas do conglomerado, os valores à pagar se estendem a todas às suas frentes de atuação e afetam todas as empresas controladas, com destaque para a Iesa, que vive um momento dramático.

No mercado, ninguém acredita que a empresa conseguirá se reerguer. O valor entregue por ela através de mútuo ao grupo Inepar, de quase R$ 460 milhões, poderia tirar a empresa da crise, mas não há indícios de que isso deverá acontecer. Com isso, a Petrobrás vê o empreendimento contratado para a construção de 32 módulos de algumas plataformas replicantes inteiramente comprometido. A estatal informa que continua pagando à Iesa para que seu contrato seja cumprido e exigirá que a obra seja entregue no prazo, mas é uma imposição quase inócua. Como se um treinador de atletismo exigisse que uma criança de dois anos fizesse o mesmo tempo de Usain Bolt numa prova de cem metros rasos.

A Petrobrás já errou ao contratar 32 módulos somente com uma empresa. E erra ainda mais quando insiste em manter o contrato com esta mesma empresa em recuperação judicial e ainda ameaça puni-la caso não cumpra esse contrato. Para seguir o bom senso, a estatal deveria redirecionar esses módulos para empresas que estão trabalhando com eficiência para a montagem de outros módulos e que tenham e espaço em seus canteiros, com profissionais treinados e capacitados. A diretoria de engenharia sabe quais são essas empresas, mas prefere colocar a conta deste fracasso na indústria nacional e transferir todo este trabalho para ser feito na China, como se fosse a solução ideal, contrariando o programa de conteúdo nacional. A ANP, por sua vez, com seriedade e competência, tem batido na tecla de que quem não cumprir a lei será multado. Mas, até agora, esta ameaça não tem sido muito respeitada. O FPSO para Tartaruga Verde é um exemplo clássico, assim como alguns navios da cessão onerosa e a própria ideia da Andrade Gutierrez, que assumiria o contrato da Iesa e pretendia levar boa parte desses módulos para a China.

O problema não está na capacitação da nossa indústria, mas no erro estratégico em entregar tantos serviços para tão poucos e depois fazer exigências absurdas às empresas, puni-las e multá-las, além deixar de pagar seus claims, comprometendo o fluxo de caixa das epecistas. Muitas empresas têm responsabilidades por assumirem compromissos gigantescos sem estar inteiramente preparadas. Mas a Petrobrás, nestes casos, tem maior responsabilidade em entregar obras monumentais a poucas empresas. Em todos estes contratos há graves problemas. E pelo menos dois exemplos vivos a estatal conhece bem: a montagem de módulos pelo consórcio DM-TKK e os cascos dos navios encomendados à Engevix/Ecovix. Há uma lista enorme de empresas fornecedoras sem receber de suas contratadas, comprometendo o andamento dessas obras. O resultado disso poderá ser visto um pouco mais à frente.

Apenas na lista do grupo Inepar, por exemplo, há diversos valores de grande peso a serem quitados. Na lista de bancos, o BNDES vem na frente disparado, com uma série de valores a receber, somando, entre BNDES e BNDESPar, mais de R$ 603,6 milhões. Além dele, há muitos outros bancos na fila de cobrança, como Bradesco, Itaú BBA, Citibank, Morgan Stanley, Votorantim, entre outros. A Finep também tem bastante a receber, mais de R$ 24 milhões.

Outra credora que está esperando para conseguir reaver alguma parte de seu dinheiro é a Fundação Petrobrás de Seguridade Social (Petros), a quem o Inepar deve mais de R$ 43,5 milhões. As dívidas incluem também empresas de plano de saúde, como a Unimed Macaé, que espera por cerca de R$ 3,8 milhões, e a Amil, que tem pouco mais de R$ 1 milhão a receber.

Na parte de fornecedores a lista também é bastante vasta, contando com empresas como Estaleiro Atlântico Sul, Estaleiro EBR, Estaleiro Quip, CSN, Rohr, Siemens, Vallourec, Schulz, Tomé Engenharia, entre muitas outras.

Quanto às dívidas trabalhistas, há nomes e mais nomes que não acabam mais. A situação é tão complicada que até o presidente da Iesa, Valdir Lima Carreiro (foto), está entre os que têm muito a receber do grupo. No caso dele, consta um débito de mais de um milhão e 360 mil reais.

O total listado é avaliado pela própria empresa em R$ 4.052.405.219,78. Desse montante, o grupo explica que R$ 146.576.733,63 são referentes a credores com garantia real, enquanto R$ 898.332.933,27 são relativos a créditos fiscais e R$118.654.270,27 são devidos a credores extra?concursais.

Toda a indústria, os fornecedores, os trabalhadores e a própria Petrobrás torcem muito para que o processo de recuperação judicial, já aprovado pela justiça, seja de fato uma recuperação, já que o contrário disso serão inevitavelmente atrasos e prejuízos para todos. Ainda assim, olhando para os números, não há quem discorde de uma triste avaliação: é muito improvável o resultado ser positivo. Em outras palavras, em breve a cascata vai molhar muita gente.

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