DOW PREVÊ CRESCER MAIS DE 10% AO ANO NO BRASIL ATÉ 2017
A Dow faturou US$ 60 bilhões mundialmente em 2011, sendo US$ 3 bilhões somente no Brasil, e as perspectivas da empresa preveem um crescimento galopante para os próximos anos. Alinhada ao plano global de investir US$ 1,6 bilhão em pesquisa e desenvolvimento, a expansão da empresa no país deve seguir fortemente no setor de óleo e gás, que tem demandado uma série de inovações em função do pré-sal. A diretora comercial de petróleo e gás da Dow para a América Latina, Regina Oliveira, conversou com o repórter Daniel Fraiha e contou como foi sua vinda para o segmento, depois de trabalhar muitos anos no setor automotivo. Além de falar dos novos desafios, Regina se mostrou animada com o futuro da empresa na área de óleo e gás, prevendo um crescimento anual acima de 10% para os próximos cinco anos.
Como a Dow vê o mercado de óleo e gás?
A Dow tem um faturamento anual de US$ 60 bilhões, com cinco mil linhas de produtos, para diversas aplicações. Uma delas é a área de óleo e gás. É um segmento estratégico para a Dow, porque vai crescer globalmente, e a região da América Latina tem excelentes oportunidades, com destaque para o Brasil, em função do pré-sal.
Qual o plano de investimentos para o setor?
A Dow anunciou em 2011 que vai investir cerca de US$ 1,6 bilhão em pesquisa e desenvolvimento, sendo 30% para o segmento de energia. Será um investimento anual e global. Isso vai para óleo e gás, energia eólica, renovável, biocombustível, mineração, etc. Então há uma série de investimentos nessas áreas e aqui podemos constatar esse investimento citando o Centro Tecnológico de Jundiaí (SP), onde foram investidos US$ 2 milhões no ano passado. Além desse laboratório, temos investimentos em outras áreas, como na planta do Guarujá, para aumentar a capacidade de produção dos poliglicois (poliglicol é a base do desemulsificante, que auxilia na fase de separação do petróleo da água) em 20%.
E além das pesquisas?
Isto é a parte de investimento direto em laboratório e centro de pesquisa, só que para ter resultado no mercado não basta isso, então você precisa levar as soluções a ele. Pensando nisso, apresentamos oito lançamentos durante a Rio Oil & Gas este ano, sendo que um deles, o Neptune, foi um lançamento mundial.
Qual é a função dele?
A linha Neptune é uma tecnologia diferenciada utilizada para isolamento térmico em tubulação subsea. Ele é base híbrido-poliéter, uma tecnologia que não existia e estamos trazendo em primeira mão.
O que ela faz de diferente?
Hoje as tecnologias que existem te dão a capacidade de fazer esse isolamento térmico até uma temperatura de 110°C no máximo. A nossa nova tecnologia te permite trabalhar com óleos que cheguem até 160°C, então é uma coisa única, que ainda não existe no mercado. Além disso, a capacidade de isolamento térmico do polímero é superior às alternativas existentes no mercado, isolando mais a temperatura do óleo.
Na prática, como isso impacta o mercado de isolamento térmico?
Quando o óleo sai do fundo do mar, ele fica entre 110°C e 120°C, podendo chegar a 160°C, sendo que a temperatura do oceano gira em torno de -4°C próximo ao poço. Então, se não houver um isolamento adequado da tubulação, esse óleo produzido esfria, ganha uma viscosidade muito grande, e não consegue chegar à superfície da plataforma. Por isso, é muito importante o isolamento térmico. O Neptune, além de conseguir isolar temperaturas mais altas, tem um coeficiente de isolamento superior aos outros, o que gera uma necessidade de espessura menor da camada a ser aplicada, levando a um ganho de produtividade e à redução de custos. A diferença é da ordem de dois para sete em relação aos isolantes do mercado.
Desse US$ 1,6 bilhão em pesquisa e desenvolvimento, quanto será aplicado no Brasil?
Esse número é confidencial, mas o que podemos dizer é que já foram investidos US$ 2 milhões em Jundiaí e que o Brasil é um dos focos, em função do pré-sal. As oportunidades de crescimento aqui são muito grandes e por isso estamos nos voltando tanto para cá. Por isso também que lançamos tantos produtos novos aqui, com um lançamento mundial no país, por exemplo. Nossa estimativa, considerando os novos lançamentos e nosso portfólio, é crescer a no mínimo dois dígitos nos próximos cinco anos, do ponto de vista de faturamento, de crescimento de participação no mercado e tudo mais.
Quanto o Brasil representa no faturamento da Dow?
A Dow mundial faturou US$ 60 bilhões ano passado, sendo que a América Latina representou US$ 7,2 bilhões e o Brasil, US$ 3 bilhões. Só que isso é a empresa como um todo. Apenas óleo e gás eu não posso dar o número.
Você veio da área automotiva para a de óleo e gás. Como foi essa mudança e qual é a estratégia daqui para frente?
Foi uma mudança bastante grande. Do ponto de vista de demanda, são indústrias muito parecidas, com uma busca muito forte por inovações e melhorias, por soluções com maior produtividade, que reduzam o consumo de energia, sejam sustentáveis, aumentem o conteúdo local…
Como estão lidando com essa questão?
A Dow está colocando um foco bastante grande na questão do conteúdo local. Temos inclusive a iniciativa de ficar sempre próximos à ANP, para podermos acompanhar as tendências e nos antecipar, com a iniciativa de produção local de novos produtos. Um exemplo é a produção dos desemulsificantes – um de nossos lançamentos deste ano -, que estão sendo feitos na nossa planta do Guarujá (SP), com matéria prima daqui e 80% de composição local. Além disso, temos os produtos de Jundiaí, e vamos trabalhar cada vez mais para aumentar esse conteúdo local no setor de óleo e gás.
Mas voltando à sua entrada no segmento…
Eu diria que a indústria de petróleo e gás é extremamente desafiadora. Fiquei muito surpresa com a quantidade de produtos e aplicações com que a gente precisa lidar no dia a dia. Temos produtos do poço ao posto, com cerca de 50 linhas, então foi um desafio absorver esse portfólio em tão poucos meses. E posso te assegurar que estamos muito bem posicionados em todos os segmentos, sendo que, do ponto de vista de crescimento, o nosso foco maior hoje está na área de exploração e produção.
O que achou do plano de negócios da Petrobrás?
Achei que foi um plano realista. Temos que trabalhar com a realidade como ela é. Prefiro trabalhar num cenário que reflita melhor a realidade do que com a probabilidade de que as coisas não aconteçam como o previsto.
Quais são as regiões que mais interessam à Dow no Brasil?
É claro que o pré-sal é extremamente importante. Em função dele, temos grandes oportunidades de crescimento, com novas linhas de produtos diretamente ligadas a ele. Então o sucesso do pré-sal também será o nosso sucesso. A perspectiva para os próximos cinco anos é muito positiva, com um crescimento anual sempre acima de 10%. Mas isso não quer dizer que o Nordeste e as novas refinarias não sejam importantes. Muito pelo contrário, também estamos trabalhando fortemente para oferecer produtos à Petrobrás, como o Ucarsol, que aumenta a produtividade e diminui o consumo de energia nas plantas de tratamento de gás.
Dentro da estratégia de crescimento, há algum plano para inaugurar uma nova unidade ou escritório no Brasil?
Temos um novo escritório, inaugurado há um ano no Rio de Janeiro, que foi montado justamente com o objetivo de estreitar o relacionamento da Dow com a indústria de óleo e gás, porque além da Petrobrás, todas as empresas de serviços estão na região. Então o escritório do Rio foi o primeiro passo nesse sentido, mas os próximos virão assim que conseguirmos concretizar esses negócios.
Uma nova fábrica poderia estar no plano?
Pode estar no plano, mas não vou confirmar nada agora, porque isso ainda não é realidade. Vai depender da evolução dos negócios. Na medida em que justificar, por que não?
Quais são as expectativas com o Brasil para os próximos anos?
Do ponto de vista estratégico, a gente entende que o Brasil é chave. Os próximos cinco anos são muito promissores.
Em termos de corpo de funcionários, a empresa também deve crescer?
Vai aumentar. Não posso te falar o quanto exatamente, mas já temos um plano aprovado neste sentido.
Quantos funcionários a Dow tem no Brasil hoje?
São 2.300 ao todo, mas não posso dizer quantos são de óleo e gás. Posso adiantar que na minha área já temos aprovado o aumento de corpo técnico e comercial para os próximos dois anos, para acompanhar o crescimento da companhia.
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