EBSE COMPLETA 100 ANOS RENOVADA E COM PARCERIAS INTERNACIONAIS
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
O ano era 2000, próximo à virada do milênio, e o primeiro cenário não dava a impressão de que o futuro chegara. As primeiras imagens eram de lama, instalações antigas, de madeira, pouca coisa a se aproveitar, além de o sócio ser um banco em liquidação. Essa era a EBSE há 13 anos, quando o engenheiro Carlos Maurício de Paula Barros, assumiu a presidência. O maior ativo era a equipe, qualificada e competente, que ainda resistia em deixar a empresa, mesmo com cinco meses de salários atrasados. De lá para cá, a companhia saiu de um faturamento de R$ 12 milhões para R$ 400 milhões, sem endividamento bancário, formou joint ventures com grandes corporações internacionais e vem se consolidando como um importante nome do setor de óleo e gás, em que atua tanto fornecendo peças e equipamentos, como desenvolvendo projetos de engenharia complexos e montando módulos para FPSOs. Além de comemorar a virada de mesa na última década, a EBSE está completando 100 anos em 2013 e preparou uma série de novidades, como o vídeo que conta a trajetória e as conquistas da companhia, disponibilizado pelo Petronotícias na seção “Vídeos em Destaque”, e o lançamento do livro histórico da empresa, na quinta-feira (28), no Rio de Janeiro.
Como foram os últimos contratos para fabricação de módulos?
O primeiro deles, que terminou no início deste ano, envolveu quatro módulos para o FPSO Cidade de Paraty, em contrato com a SBM. Depois fizemos três módulos para o FPSO Cidade de Ilhabela, que terminamos há pouco tempo, também para a SBM. Conseguimos fazê-los mais ou menos na metade do tempo que levamos para o Cidade de Paraty. Inclusive, recentemente fomos a um jantar da SBM no Rio, e um executivo da Petrobrás disse que os nossos módulos iriam criar problemas, porque vão passar a ser referência e o diretor só vai querer esse padrão de qualidade. Ele ainda brincou: “os módulos parecem aquelas mulheres que vão para a festa e antes passam na manicure. Quando você olha para as mãos delas, estão impecáveis”.
E não tiveram problemas para atender aos prazos?
Na verdade esses módulos para nós foram uma vitória muito grande, porque o resultado de uma empresa depende muito da sua capacidade de entregar tudo no prazo. Coisa que a indústria nacional, na maioria das vezes, não consegue. Hoje o atraso já é algo esperado, e a gente tem feito um trabalho muito grande para fazer o contrário. Não só não atrasar, como antecipar a entrega.
E como têm conseguido isso?
Atribuo à confiança que a SBM nos deu. Fizemos um primeiro projeto mediano e mesmo assim eles nos deram um segundo contrato, que foi Ilhabela. Então isso nos permitiu aprimorar o que tinha dado certo e evitar os primeiros erros, assim como a evolução da relação com o cliente, levando o prazo a ser reduzido. Com isso, tivemos uma integração das equipes, de modo que hoje no canteiro não tem nem divisão de portas entre a SBM e a EBSE. É como se fosse uma equipe única. Comemoramos inclusive recentemente a marca de 500 mil homens/hora sem acidente, o que é um número bem relevante.
Com o ganho de expertise e o alinhamento dessa parceria, já vislumbram novos passos a serem dados?
Já. Acreditamos que quanto mais tivermos sucesso com prazo e preço, vamos conseguir automaticamente novos contratos. Porque na área offshore esses navios custam mais de um bilhão, então qualquer dia de operação antecipado paga qualquer esforço feito. A EBSE passou por uma transformação muito grande nos últimos anos e a intenção é que a evolução seja contínua.
Ao que você atribui essa transformação da EBSE nos últimos anos?
Em 2000, a empresa estava quebrada. Quando eu entrei aqui, o lugar metia medo. Cheio de barraco de madeira, tudo velho, cinco meses de salários atrasados, um lamaçal enorme aqui. O que tinha de ruim era aqui mesmo, menos a equipe. Era um grupo sério, de pessoas competentes e corretas. Então me perguntei: o que essa empresa tem de mais forte? As pessoas, porque mesmo o maquinário remanescente estava em boa parte sem funcionar.
Como foi esse trabalho inicial?
Começamos a vender, dar ou jogar fora tudo aquilo que não funcionava e não ia adiantar. Procuramos arrumar a fábrica. Mas é claro que ninguém faz nada se não tiver amigos. Os amigos, nessa hora, que eram muitos, como os epecistas e a Petrobrás, nos deram um prazo para que conseguíssemos nos estruturar e participar das concorrências. E a empresa foi se firmando aos poucos, ao passo que a equipe foi se motivando novamente.
Tiveram que buscar financiamento?
Você vê: tudo tem dois lados. Nosso sócio na época era o BERJ [antigo Banco do Estado do Rio de Janeiro, depois adquirido pelo Bradesco], que estava em liquidação, então não conseguíamos crédito para nada. E como não tínhamos crédito, não tínhamos endividamento bancário e, assim, a EBSE pôde crescer a partir do resultado. Ou seja, tínhamos que dar resultado de qualquer maneira para poder sobreviver, porque não tínhamos como pedir ajuda externa.
Isso gerou muitas dificuldades?
Fez com que perdêssemos algumas oportunidades, em contratos que às vezes exigiriam o financiamento do fluxo de caixa por algum período, para depois receber. Mas, por outro lado, fez com que a empresa saísse de um faturamento que, na época, girava em torno de R$ 12 milhões, indo para os cerca de R$ 400 milhões que devemos fechar neste ano, sem nenhum endividamento bancário. Mesmo hoje o BERJ sendo Bradesco, o que permitiria isso, temos conseguido fazer com que dê resultado e ele seja aproveitado dentro da própria empresa, sem endividamento.
Mesmo assim deram um salto nos últimos três anos…
Tivemos dificuldades no ano passado e retrasado, porque crescemos demais, por conta de atrasos de projetos que não dependiam da gente, mas conseguimos reorganizar as coisas. A EBSE cresceu quase o dobro de um ano para o outro. Passou de um faturamento de R$ 170 milhões em 2011 para R$ 320 milhões em 2012, e esse ano deve fechar com R$ 400 milhões.
Quantos funcionários a EBSE tem hoje?
A EBSE mesmo tem mais de 1.200, sendo cerca de 600 na sede e outros mais de 600 em Itaguaí, onde estão sendo montados os módulos. Somando com as subsidiárias, temos cerca de 1.500 funcionários. Mas quando começamos, em 2000, eram 450, com cinco meses de salário atrasado.
Pode falar um pouco sobre as joint-ventures que formaram com empresas estrangeiras?
Temos um diferencial enorme hoje que são as associações internacionais. Temos um sócio do peso da CB&I, que adquiriu a Shaw. Quando você fala de CB&I, qualquer um no mundo conhece. Estamos fazendo spools com eles, apenas, por enquanto, mas a EBSE fabrica tanques, por exemplo, no que a CBI é a maior especialista no mundo, então essa junção também vai gerar outras oportunidades. Eles já fabricaram 140 mil tanques, fazem tanques esféricos, tanques de aço inoxidável, enfim, alguns que ainda não fazemos e provavelmente viremos a fazer. Já com a Frames, assinamos em dezembro do ano passado, depois de uma parceria de muitos anos, que vinha dando certo, e em fevereiro deste ano já tínhamos contratos importantes, de mais de R$ 200 milhões.
A EBSE faz 100 anos este ano. O que tem programado para a comemoração?
Vamos fazer um coquetel de lançamento do livro que conta a história da empresa, desde o momento em que ela surgiu, em 1913, com Manoel da Rocha Soares comprando cinco máquinas de solda na Áustria, até os dias de hoje. O livro está muito bonito, tem um texto excelente e um acabamento espetacular. A festa será simples, com show da Maria Gadú, mas esperamos que os amigos compareçam, porque para nós tem uma importância muito grande.
Estão de parabéns!!!
Espero que continue o sucesso e entre também na área de inox, onde então poderemos trabalhar juntos.
Marcelo Bueno
Schulz CEO