ECOVIX CONTESTA PETROBRÁS SOBRE LIBRA E MOSTRA DIFERENÇAS NA CONSTRUÇÃO DE PLATAFORMAS ENTRE BRASIL E CHINA
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
A comparação dos prazos dos estaleiros brasileiros com os asiáticos é frequente e ganhou um peso maior na gestão de Pedro Parente à frente da Petrobrás, mas nem sempre os detalhes destas duas realidades são mencionados. Com o avanço da quebra do conteúdo local para os próximos leilões, promovida pelo governo após pressão da estatal e do IBP, agora a maior expectativa da indústria gira em torno dos efeitos retroativos dessa nova postura diante do setor de óleo e gás, e a decisão sobre o waiver (perdão pelo descumprimento dos índices) de Libra está nas mãos da ANP. A Petrobrás alega que os preços e prazos brasileiros são muito mais altos que os da construção do FPSO no exterior, sem sequer abrir os números para análise da indústria brasileira, mas dados da Ecovix mostram que a própria estatal contribuiu para os maiores custos do passado, indicando que a postura da companhia é diferente quando trata das obras dentro e fora do Brasil.
Na carta enviada pela Ecovix à ANP durante o processo de consulta pública, assim como na apresentação feita na audiência pública, a empresa faz comparações entre as realidades dos canteiros de obras de projetos no País e na China, afirmando que na construção dos navios-plataforma P-67 e P-68, por exemplo, a Petrobrás enviou cerca de 120 fiscais para acompanharem as atividades, enquanto que na China, durante a construção da P-69, a estatal manteve em torno de 10 fiscais, o que, nas palavras do estaleiro, provocou “uma interferência muito maior do cliente no andamento das obras em canteiros no Brasil”.
Além disso, a Ecovix enumera uma série de diferenças nas legislações trabalhistas dos dois países, que elevam os custos no Brasil e reduzem os quesitos de segurança para os trabalhadores na China. Dentre elas estão:
– Na China, o profissional que se acidentar no trabalho é afastado e seu salário é descontado pelos dias não trabalhados, enquanto que no Brasil ele recebe normalmente nos primeiros 15 dias. Para prazos maiores, ele passa a receber do INSS, mas a empresa continua pagando FGTS e plano de saúde, além de ter que garantir 12 meses de estabilidade após a volta.
– Na China, para a desdocagem de um casco de FPSO, são utilizados 3 rebocadores, enquanto que no Brasil são 5;
– No Brasil, as regras para trabalho em espaços confinados determinam 1 monitor para cada espaço, um vigia na entrada de cada espaço e um supervisor por área, enquanto que na China é necessário apenas 1 vigia por espaço confinado, que em alguns casos cuida de outros espaços se estiverem próximos;
Além destas questões, há outras mencionadas pelo estaleiro, como a limitação na movimentação interna, a necessidade de mais banheiros e as dificuldades na contratação e desmobilização de profissionais conforme o projeto avança, fruto de legislações diferentes das leis chinesas, que são menos rígidas também em termos de QSMS (quesitos de saúde, segurança e meio ambiente), como pode ser visto em algumas fotos comparativas.
Outro ponto destacado pela Ecovix é que, em projetos como os dos replicantes, que incluíam seis cascos de FPSOs – com possibilidade de extensão para mais dois – a serem construídos pelo estaleiro, normalmente é entregue o projeto básico ou detalhado para as empresas na fase de licitação, mas no caso dos replicantes foi repassado somente um documento de descrição técnica geral do projeto (General Technical Description – GTD), que apresentava “apenas aspectos técnicos muitos simplificados do projeto, os quais não caracterizavam nem mesmo um projeto conceitual”. Com isso, a Ecovix afirma que as informações continham “limitado grau de detalhamento e maturidade, inviabilizando o levantamento de valores precisos de quantitativos e prazos”.
Esse método de atuação foi a fonte para muitos problemas posteriores na vida da Petrobrás, inclusive relacionados à Operação Lava Jato, já que muitas empresas e empreiteiras mergulhavam no preço das licitações e aproveitavam os projetos rasos ou falhos para lucrar depois com pleitos adicionais de contrato. E mesmo muitas das que ganharam licitações honestamente vieram a ter problemas depois por conta disso, já que faziam orçamento baseados em premissas que se mostravam diferentes da realidade posteriormente.
A Ecovix foi uma das envolvidas nas investigações e chegou a ter seus controladores presos pela Polícia Federal, mas desde 2015 ela passou a ser administrada pelo banco Brasil Plural, que vem tentando resolver a situação. No final de 2016, a empresa entrou com um pedido de recuperação judicial, com dívidas somadas em cerca de R$ 6 bilhões, e no início deste ano a justiça deferiu o pedido.
No entanto, a empresa vinha tocando os empreendimentos e aponta outros problemas relacionados à Petrobrás como razões para os atrasos. No caso da P-66, que levou 44 meses para ser construída, a Ecovix alega que outros problemas encontrados foram o atraso na desocupação das instalações do Estaleiro Rio Grande – comprado da WTorre pela Engevix em 2010 – pela Quip, que construía a P-55 na época e só desocupou totalmente o empreendimento em 8 de agosto de 2014; e a demora da Petrobrás em contratar as empresas que projetariam e construiriam os módulos do topside, com decisões destes integradores sendo tomadas somente 29 meses depois do início da construção da P-66.
Esse primeiro impacto acabou afetando os projetos posteriores e atualmente a Ecovix está com um grande elefante branco nas mãos: a P-71. Com avanço de cerca de 50% da construção do casco, com 57,8% de conteúdo local, a unidade teve seu contrato rescindido pela Petrobrás em dezembro passado, e recentemente o presidente da estatal, Pedro Parente, afirmou em entrevista a uma rádio que “não teria uso” para a plataforma. Ainda assim, durante a audiência pública do waiver de Libra, o gerente de projetos da Ecovix, Alexandre Rodenheber, afirmou que há rumores de que o projeto seria relicitado pela Petrobrás no exterior, do zero, enquanto que o estaleiro brasileiro teria condição de finalizá-lo em 16 meses.
Se não bastassem todas as informações sobre os problemas encontrados ao longo destas obras, um comparativo de avanço dos projetos que foram enviados para a China, feito pela Ecovix, mostra que a grama lá não é tão mais verde quanto querem fazer crer os comandantes da Petrobrás e do consórcio de Libra.
De acordo com a Ecovix, em setembro de 2015 a P-67 e a P-68 foram enviadas para conclusão num estaleiro chinês, por determinação da Petrobrás, com o intuito de acelerar as atividades, que estavam 93,4% concluídas para o primeiro FPSO e 66,02% concluídas para o segundo até aquele momento. No entanto, em dezembro de 2016, ou seja, mais de um ano depois, a P-67 tinha avançado apenas 1,6% no estaleiro chinês, para 95%, com 25 mil homens-hora agregados, e a P-68 tinha avançado 20,3%, para 86,32%, com 1.700.000 homens-hora agregados.
Outro projeto que mostra que os problemas de atrasos não são exclusividade de estaleiros nacionais é o próprio FPSO Piloto de Libra, que foi praticamente todo feito em Cingapura, com apenas 7% de conteúdo local, ao custo aproximado de US$ 1 bilhão, e que deveria ter entrado em operação no segundo semestre de 2016, mas ainda está navegando rumo ao Brasil, com previsão de chegada para junho deste ano.
Voltando ao caso da Ecovix, um agravante para o processo de construção dos navios-plataforma foi a própria edificação das instalações do estaleiro – incluindo ERG-1, ERG2 e ERG-3 –, que foram sendo feitas paralelamente aos projetos da Petrobrás. Hoje, estas edificações estão em outro momento, com dique seco com capacidade para a construção de dois FPSOs simultâneos e dois pórticos (um com capacidade para 2 mil toneladas e outro para 600 toneladas). No entanto, a Petrobrás afirmou no pedido de waiver que o empreendimento não teria condição de receber a encomenda de Libra, pois não haveria diques secos disponíveis no Brasil até 2018, o que já foi contestado pelo Sinaval e por diversos outros estaleiros.
A Ecovix afirma na carta enviada à ANP que hoje o dique está fisicamente desimpedido para construir os FPSOs de Libra e Sépia, assim como possui toda a infraestrutura necessária para o imediato início das atividades, e diz ainda que, caso a P-71 fique mesmo sem destino, poderia alongar o casco já construído até agora e finalizar a plataforma em 34 meses, prazo mais curto do que os 38 meses exigidos pela Petrobrás na concorrência.
Clique aqui para ver a carta da Ecovix na íntegra.
Clique aqui para ver a apresentação feita pela Ecovix na audiência pública.
Claro que precisa ver os dois lados. Porem dar a entender que atualmente esta sendo aplicada uma política de estreitar relações com o setor nacional (Ao meu ver que é injusto devido a obrigações que devem ser cumpridas aqui em comparação ao mercado Chines por exemplo).
Muito bom Dantas, eu acredito tb que o demais Estaleiros Brasileiros poderiam entrar nesta corrente.
Não precisamos nem falar na qualidade da obra realizada em outros países, que muitas das vezes tem que ser refeito quando chega ao Brasil.Não podemos e não devemos seguir o padrão Chines em relação a QSMS. A petrobrás tem que manter a excelência em padrões de qualidade e segurança,pois os FPSOs operarão em nosso país.
Além de demonstrar a realidade dos fatos, a abordagem apresentada pontuou os itens de maior relevância e impacto. Acredito que precisa ser enfatizada a indústria nacional, assim como o desenvolvimento empresarial que nos permitiu nos posicionarmos e apresentar desempenho superiores, considerando os requisitos e exigências do Cliente, mesmo diante das adversidades e ingerências forçosamente impostas pela Fiscalização.
[…] disso, como mostrou o Petronotícias, as diferenças nas exigências da estatal para projetos feitos no Brasil e na China são enormes, […]