ELETRONUCLEAR ESPERA AINDA NESTE SEMESTRE A APROVAÇÃO DE ESTUDO DO BNDES QUE POSSIBILITARÁ A CONCLUSÃO DE ANGRA 3

O Petronotícias abre o noticiário desta segunda-feira (4) debatendo a atual situação da obra da usina nuclear de Angra 3. Nosso entrevistado de hoje é o presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo. Há pouco mais de dois meses à frente da companhia, o executivo tem em mãos o desafio de fazer o projeto andar novamente. Uma das frentes de atuação nesse sentido se dá na esfera municipal. Há um embargo imposto às obras pela prefeitura de Angra dos Reis, que reivindica o pagamento de uma série de compensações financeiras, que ultrapassam os R$ 200 milhões. Lycurgo explicou que a Eletronuclear está buscando um diálogo com o município para aparar todas as arestas existentes. Já na esfera federal, o próximo passo depende de fatores externos. Isso porque a Eletronuclear aguarda até junho a conclusão de um estudo sobre Angra 3 realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Temos informações de que até o final do primeiro semestre esse estudo será concluído e analisado pela EPE [Empresa de Pesquisa Energética] e pelo CNPE [Conselho Nacional de Política Energética]”, revelou. Por fim, Lycurgo ainda mencionou que a empresa está trabalhando para a extensão da vida útil de Angra 1, bem como na transferência de combustível usado para a chamada Unidade de Armazenamento a Seco (UAS).

Como estão os trabalhos para a conclusão de Angra 3?

A usina de Angra 3 tem um Plano de Aceleração da Linha Crítica, que vai muito além da obra civil. Se você olhar uma foto atual da central de Angra, no espaço entre Angra 3 e Angra 2, você verá blocos onde os equipamentos estão sendo armazenados, exatamente para serem posteriormente instalados dentro da usina. A parte da obra civil representa apenas um percentual ínfimo dessa linha crítica. O projeto não está paralisado.

Em paralelo, estamos aguardando a conclusão do estudo do BNDES. Para que a obra prossiga, o estudo do BNDES precisa ser concluído para que, então, vá para análise da EPE e, posteriormente, para o CNPE – onde o projeto será finalmente aprovado. Assim que isso acontecer, o projeto voltará a deslanchar novamente.

[Nota da redação: O Plano de Aceleração do Caminho Crítico tem o objetivo de adiantar os trabalhos em algumas partes da usina. Enquanto isso, o BNDES está fazendo um estudo que, em suma, avalia o modelo operacional, jurídico e financeiro para finalizar toda a obra. Isto é, com o estudo do BNDES aprovado, será possível contratar a EPCista que concluirá a obra global da usina.]

Em que fase está a elaboração desse estudo do BNDES?

Quando consideramos a complexidade de uma obra nuclear, mesmo o BNDES, que é um celeiro de grandes cérebros, encontra certa dificuldade para lidar com o tema. Essa dificuldade é natural. A Eletronuclear também contribui com dados e informações para ajudar nesse processo e acelerar o estudo. Temos informações de que até o final do primeiro semestre esse estudo será concluído e analisado pela EPE e pelo CNPE.

O senhor mencionou que as obras civis do plano de aceleração da linha crítica estão paradas. Quando devem ser retomadas?

Como é do conhecimento de todos, existe um embargo da prefeitura de Angra dos Reis. Estamos acionando a assistência jurídica externa para tentar reverter esse embargo na justiça, a fim de retomar o andamento da obra civil. Vamos fazer o possível para reverter esse embargo e permitir que as coisas voltem a progredir.

A obra não está parada apenas por conta do embargo, mas também devido ao fraco desempenho do consórcio contratado para realizar a obra civil. Houve uma multa aplicada às empresas no final de dezembro e, além disso, houve também um processo administrativo interno. No entanto, todo o restante do plano de aceleração continua em andamento, inclusive com a contratação de equipamentos.

Como estão as conversas com a prefeitura de Angra, que estava cobrando compensações financeiras para retirar o embargo?

No que diz respeito às compensações, é necessário conversar com a prefeitura para escalonar a forma como esses pagamentos serão realizados. Vamos nos reunir com a prefeitura para analisar todos os projetos. Se forem processos de compensação ambiental, eles serão realizados pela empresa, pois são condicionantes. Nosso objetivo é garantir que tudo seja feito no timing correto, com projetos bem elaborados e apresentados, e com uma rastreabilidade documental, de modo que a população seja beneficiada.

Além de Angra 3, quais são as prioridades da empresa?

Uma das prioridades é a Unidade de Armazenamento a Seco (UAS). É necessário remover o combustível usado das piscinas de Angra 1 e Angra 2 e colocá-lo na UAS. Esperamos, no futuro, poder reciclar esse combustível, reduzindo o volume.

Outra prioridade é a extensão da vida útil de Angra 1, que já opera há 40 anos. Estamos investindo para que a usina possa operar por mais 20 anos. É um investimento significativo, pois os números no setor nuclear são sempre gigantescos. Ainda assim, não se compara ao volume de recursos necessário para uma usina nova.

Estender a vida útil de Angra 1 por mais 20 anos trará benefícios para a sociedade. Vamos trabalhar para mantê-la operando de maneira eficiente, assim como ocorre nos Estados Unidos, onde as usinas nucleares operam até os 80 anos.

Diante das adversidades na caminhada da obra, como está o cronograma? Quando a usina deverá entrar em operação?

Precisamos ser bem realistas. No momento, não podemos falar sobre um calendário definitivo. Só poderemos estabelecer um cronograma firme quando o estudo do BNDES for avaliado pela EPE e aprovado pelo CNPE, pois essas são variáveis externas. Somente após esse processo poderemos discutir o que virá a seguir.