EM ANO DECISIVO, EQUINOR TERÁ NOVA FASE DE PEREGRINO E DECIDIRÁ SOBRE INVESTIMENTOS EM BACALHAU
O ano de 2021 será, definitivamente, muito decisivo para o futuro da Equinor no Brasil. De um lado, a companhia norueguesa faz os últimos retoques para extrair o primeiro óleo da fase 2 do campo de Peregrino, na Bacia de Campos, aumentando a capacidade de produção do ativo. Em outra ponta, a petroleira também baterá o martelo no próximo ano sobre a decisão final de investimento no promissor campo de Bacalhau, na bacia de Santos. Para falar sobre estes e outros projetos da Equinor no Brasil, o Perspectivas 2021 conversa hoje (23) com a presidente interina da companhia no país, Leticia Andrade (foto). A executiva contou que apesar dos desafios vividos em 2020, a empresa mantém seus compromissos no Brasil, com a previsão de investimentos de US$ 15 bilhões até 2030. Leticia, que acumula atualmente o cargo de vice-presidente de Estratégia e Portfólio, ficará no comando da Equinor no país até fevereiro, quando a presidência será transferida para Verônica Coelho.
Como você e sua empresa enfrentaram os desafios de 2020, com a pandemia apanhando a economia brasileira em pleno voo de subida?
Em relação aos desafios para nossa indústria, estamos enfrentando, infelizmente, uma crise global sem precedentes, com impactos diretos na vida das pessoas e em todos os setores da economia, agravada pela pandemia. E o setor de óleo e gás foi um dos mais afetados globalmente, considerando também os baixíssimos preços do barril de petróleo. No entanto, apesar dos impactos em parte das nossas atividades, temos bons resultados globais nesse período que comprovam a resiliência de nossa operação e a solidez de nossos negócios e investimentos.
No Brasil, por exemplo, temos um portfólio extremamente promissor e compromissos muito sólidos com o país, compromissos estes que não foram alterados mesmo diante do cenário de crise que estamos vivenciando. Temos uma estratégia firme e de longo prazo para o Brasil, com investimentos para permanecer por aqui por pelo menos 40-50 anos. Na nossa análise não consideramos somente nosso portfólio atual, mas também olhamos para o futuro, já que enxergamos no país grande potencial tanto em O&G como em renováveis, em especial, energia eólica e solar. Desde que chegamos ao Brasil já investimos cerca de US$ 11 bilhões de dólares. Para o período entre 2018 e 2030, temos a previsão de investimentos da ordem de US$ 15 bilhões.
Do ponto de vista pessoal, como a maioria das pessoas que adotaram o trabalho remoto, foi bastante desafiador conciliar o trabalho da empresa com todas as atividades de casa, além da expectativa de meus dois filhos pequenos, também privados até da ida à escola. Ainda, mesmo nas horas vagas, não conseguia me desconectar totalmente, pois estávamos com Comitê de Crise mobilizado para garantir que nossos serviços continuassem de forma segura e responsável. Mas percebi que somos mais resilientes do que imaginávamos, tanto na vida pessoal como na vida profissional. Também tive a oportunidade de confirmar a importância de valores como união e colaboração, muito presentes na nossa rotina de trabalho, e que se mostraram essenciais no enfrentamento dessa situação atípica.
Quais são as suas perspectivas e de seu setor para 2021?
Seguiremos acompanhando a evolução da economia e do setor globalmente para mantermos ações e investimentos responsáveis, sólidos e relevantes. Nossa estratégia global é baseada em três pilares: sempre seguros, alto valor e baixo carbono. E nossas decisões no Brasil também são orientadas por essa estratégia. A pandemia trouxe dificuldades adicionais para que possamos manter a segurança das nossas atividades offshore, no campo de Peregrino, na Bacia de Campos, que não podem ser feitas de forma remota, e a saúde do nosso pessoal. Este tem sido nosso foco principal e continuará assim até termos a vacina e voltarmos ao que acreditamos ser a “normalidade”.
Ainda em Peregrino (que é nosso primeiro ativo no país, além de ser nossa maior operação fora da Noruega), em 2021 esperamos o primeiro óleo da fase 2 do projeto. A terceira plataforma no campo já está instalada e aumentará a produção em 250-300 milhões de barris de petróleo e seguirá contribuindo para a geração de empregos no país.
Em 2021, também é esperada a decisão final de investimento do projeto de Bacalhau, na Bacia de Santos. Teremos, neste projeto, um dos maiores FPSO do Brasil, com um grande diferencial na tecnologia para redução das emissões: será o primeiro FPSO no país a usar uma metodologia de ciclo combinado para aumentar a eficiência energética e reduzir as emissões de CO2. O primeiro óleo de Bacalhau está estimado para 2024.
Nos próximos anos, queremos ser líderes globais em transição energética. Queremos investir cada vez mais em novas energias e o Brasil é, certamente, uma de nossas áreas-chave nesse sentido. Um dos exemplos práticos disso é que temos aqui, no estado do Ceará, a primeira planta de energia solar do portfólio global da companhia, o Complexo Apodi, em operação desde 2018 e com capacidade de 162 Mwatts de energia, fornecendo energia a 200.000 famílias brasileiras. Além disso, anunciamos em abril deste ano a compra de uma participação na empresa brasileira Micropower, que trabalha com um sistema de armazenamento de bateria que reduz as emissões de carbono e diminui custos para os clientes, aumentando nossa presença desenvolvendo projetos renováveis no país.
Também vale mencionar o processo de estudo de impacto ambiental em andamento para avaliar o desenvolvimento de projetos eólicos offshore nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Encaminhamos, em agosto, um pedido de licenciamento ao IBAMA para o projeto do complexo eólico offshore, com capacidade total de 4 GW e potência instalada suficiente para abastecer 2 milhões de residências.
Se fosse consultada, quais as recomendações e sugestões que faria para o governo neste novo ano que está prestes a iniciar?
O Brasil é um país chave para a Equinor, com amplo potencial de recursos em energia, e onde estamos presentes há quase 20 anos com um portfólio robusto, que inclui ativos de O&G em diferentes estágios, da exploração à produção, além de importantes iniciativas em renováveis, como a primeira usina solar do nosso portifólio global e projetos para eólica offshore no país.
Todo esse histórico foi construído graças às relações de confiança que construímos no Brasil ao longo do tempo, com profissionais muito capazes e tendo como base nossos valores globais. E temos uma perspectiva de longo prazo para nossas atividades no país, considerando tanto nosso portfólio atual como perspectivas futuras.
É importante reforçar, no entanto, que nossos projetos no país competem com outros projetos no portfólio global. Por isso, como investidores, é necessário que o país continue com sua tradição de respeito aos contratos, e que haja sempre previsibilidade, estabilidade jurídico-regulatória e competitividade. Nesse sentido, o Brasil já avançou muito, mas ainda há espaço para tornar o país ainda mais competitivo.
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